Thursday, September 14, 2006

Texto 4
É melhor não resistir
e se entregar

Enquanto no Rio de Janeiro, o Teatro Carlos Gomes era destruído por uma platéia enlouquecida que assistia a estupenda apresentação do grupo Titãs, a noite de sábado do dia 14 de Março de 1987 era bem mais tranqüila em Fortaleza/CE. Naquele dia a primeira e até então única filha do casal Mário e Luzanira estava comemorando dois anos de idade, numa festinha simples com familiares e alguns amiguinhos do condomínio onde moravam. Ninguém podia imaginar, mas o destino (ou o acaso) ia fazer com que, mais tarde, eu, Samara, aquela menina recém saída das fraldas, invejasse aqueles presentes no show, que acontecia no mesmo dia do meu aniversário e marcaria a carreira da banda, que um dia ainda seria fã.
Eu adorava inventar coisas, cheguei a produzir uma revista artesanal bem tosca, feita com imagens que recortava de revistas e livros, e textos escritos do meu próprio punho. Depois de feita, oferecia meu produto para os amigos. Foi na casa de um desses meus amigos/leitores, que ouvi pela primeira vez o som dos Titãs, escutado a todo volume pelo adolescente da casa. O som, a princípio, me contagiou, mas a letra tinha palavrões demais para uma menina de oito anos, que gostava mesmo, admito, era de ouvir Sandy e Júnior.
Os anos se passaram, cresceram meus irmãos e o meu interesse pela música e literatura. A princípio, a segunda me encantava muito mais do que a primeira. Aos 12 anos já era uma verdadeira literofágica, e foi nessa época, também, que comecei a conhecer as letras das músicas de rock — se gostasse de uma letra eu ia ouvir a música. Foi assim que conheci melhor o trabalho dos Titãs.
Na minha apostila de Língua Portuguesa tinha a letra de Palavras, e eu simplesmente a achei fantástica! Afinal, aquele grupo não sabia apenas berrar “Ninguém fez nada demais, filha da puta!”. Essa minha “descoberta” coincidiu com o estouro do cd Acústico MTV, e todos só falavam e ouviam falar dos Titãs. Músicas como Marvin, Prá Dizer Adeus e Nem 5 Minutos Guardados não paravam de tocar nas FMs e aquele grupo enorme sempre estava nos programas de TV, difícil ficar indiferente a tudo aquilo.
Freqüentadora assídua da biblioteca do meu colégio e fã de romances policiais, acabei lendo Bellini e a Esfinge, livro escrito por Tony Bellotto, ninguém mais ninguém menos do que o guitarrista dos Titãs. É, pelo visto, eles estavam em todo lugar, e me conquistavam cada vez mais. Adorei o livro, e as músicas eu já sabia de cor. Porém, ainda não seria naquela hora que eu me entregaria a essa paixão titânica.
Os Titãs seguiam fazendo sucesso e eu a minha descoberta musical. Sandy e Júnior já não eram mais meus ídolos. No meu som agora, só rock, MPB e um pouco de pop, às vezes. Eu tive uma professora que, quase toda aula, levava o CD Acústico para ser ouvido na sala. Involuntariamente eu já estava por dentro do repertório da banda. As aulas terminaram e eu notei que não conseguia viver sem ouvir aquele CD. Tratei logo de comprá-lo. Trouxe para casa, além desse CD, duas coletâneas: 84-94 vol. 1 e 2 e o novo CD da banda — na época, o Volume 2. Estava viciada! Enfim, aquele som, aquela atitude, aquelas letras me conquistaram, diziam tudo que eu sempre quis dizer. O próximo passo seria ir a um show da banda, e a oportunidade logo surgiu. Eles levariam a turnê do Volume 2, para Fortaleza. Estaria tudo perfeito, se não fosse por um detalhe: eu tinha 14 anos. Além da censura da casa de show, houve a censura doméstica. Minha mãe não permitiu nem que eu cogitasse tal idéia. Por mais que eu argumentasse, chorasse e prometesse ser eternamente uma filha perfeita. Essa proibição ainda ia ser feita durante muito tempo, mas isso não impediu — e talvez tenha até contribuído —para que eu me tornasse realmente fã, daquelas que colecionam tudo sobre o ídolo. Comprei todos os CDs, comecei a procurar conhecer ainda mais da história da banda e de seus integrantes. Era cedo ou tarde demais para voltar atrás. O “estrago” estava feito, e foi em dose dupla, pois acabei influenciando minha irmã Marianny, quase três anos mais nova. Na verdade, posso dizer que foi uma influência mútua. Depois do nosso debut juntas em shows dos Titãs, foi selada a nossa parceria em aventuras titânicas, que pelo visto, irá durar pra sempre.
E hoje, a menininha que eu era aos oito anos ficaria assustada ao me ver agora se esgoelando ao gritar: “Qual é o problema seu bosta?!”. Tornei-me uma das que imploram para eles tocarem músicas mais pesadas como Será que é isso que eu necessito? nos shows.

Maria Samara - Fortaleza/CE
“É melhor não resistir e se entregar” – Um Certo Alguém (As Dez Mais – 1999)

1 Palavras:

Blogger Unknown said...

Muuuuuito foda!
Adorandooooo =)

6:35 PM  

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