Wednesday, October 25, 2006

Fortaleza, outubro de 2006
Capitalismo Selvagem

Após dois anos da sua última apresentação na capital cearense, os Titãs voltariam a tocar em Fortaleza. E com isso, as irmãs Samara e Marianny voltariam à ativa, ou seja, depois de tanto tempo, encarariam juntas uma maratona titânica.
A primeira parada foi em um velho conhecido da dupla, o Aeroporto de Fortaleza. Elas já encontraram com os ídolos um número considerável de vezes, já chegam até a serem reconhecidas por alguns deles, mas sempre que vão vê-los parece a primeira vez: ficam ansiosa, nervosas, não conseguem conversar direito, ficam monossilábicas ou prolixas compulsivas, pagam micos na frente deles, falam besteira, gaguejam, tremem, não conseguem formular meia frase interessante... E naquela ocasião não seria muito diferente.
Os primeiros a chegarem foram os de São Paulo: Britto, Branco e Paulo, acompanhados de Emerson, Lee e Afonso. Os cumprimentos foram rápidos. Sam só alongou a conversa com Paulo Miklos, para saber se o titã tinha recebido o livro "Não, Ela Não Parece a Vida É Uma Festa". Paulo disse que tinha recebido e achado muito legal. Embora a fã achasse que ele não sabia muito bem do que ela estava falando, deu sua missão como cumprida.
Eles se foram, e as meninas ficaram conversando com Afonso e com outros fãs que estavam por lá. Afonso comentou que estava querendo ler o livro das meninas, e que, no momento, ele estava lendo o "outro" (o outro em questão era "A Vida Até Parece Uma Festa", biografia oficial da banda).
Não demorou muito e os "cariocas" (Tony e Charles) e seu fiel escudeiro Fred apontaram na área de desembarque, para logo depois serem atacados por fãs e curiosos. As meninas aproveitaram que os dois titãs estavam ocupados atendendo algumas pessoas e foram falar com Fred, para entregá-lo um presente pelo seu aniversário no final do mês. Fred agradeceu e aproveitou para comentar sobre o "Não, Ela Não Parece a Vida É Uma Festa", disse que estava adorando a leitura. Tony ouviu o comentário, concordou com Fred e perguntou a Sam se elas já estavam escrevendo outro. Sam explicou que ainda não tinham planos para um Volume 2. As meninas tiraram fotos com os ídolos, se despediram e combinaram com o Fred de ligar para ele mais tarde para providenciar os ingressos para o show, que ele tinha oferecido a elas. Assim que eles entraram na van, Sam correu para não se atrasar ainda mais para o trabalho, enquanto Mary voltou para casa. Ficou combinado que se encontrariam no começo da noite para partirem para parte 2 dessa aventura: o show.
No fim da tarde, Sam fez contato com o Fred. Ele disse que não tinha conseguido entradas para o Front Stage (área vip em frente ao palco), mas que ele deixaria os ingressos normais na recepção do hotel. Assim, no começo da noite Sam e Mary se encontraram e partiram para o tal hotel, foram de ônibus, acabaram descendo no local errado, tiveram que colher informações com os transeuntes da Av. Beira Mar e ainda tiveram que fazer uma boa caminhada pelo calçadão até chegarem ao destino pretendido. Com os ingressos em mãos, confabularam um pouco e para não correr mais o risco de errar o caminho, resolveram pegar um táxi até o Marina Park, local do festival.
Em sua 6ª edição o festival Ceará Music veio como uma novidade: o duble brasilis, que nada mais era do que dois palcos, um ao lado do outro, o que diminuía o tempo de intervalo de uma banda pra outra, e também não prejudicava tanto a audiência para as bandas locais, que nos anos anteriores tocavam em um palco localizado longe do grande público.
Quando Sam e Mary chegaram, estava rolando em um dos palcos o show do For Fun, como o som dessa banda não apetece às meninas, elas se juntaram a Benito, amigo delas e integrante da equipe técnica dos Titãs. Os três foram explorar os demais locais do festival. Quando retornaram aos palcos, já estava rolando Natiruts, Benito teve que ir cuidar de seus afazeres, e as meninas ficaram na companhia de outros amigos que também estavam por lá. Logo depois curtiram os shows da Vanessa da Matta e do Lulu Santos. Quando esse último já ameaçava deixar o palco, as irmãs partiram para a missão mais ingrata da noite: conseguir um bom local pra assistir ao show dos Titãs. Calcula-se que havia cerca de 35 mil pessoas no evento, sendo assim, tentar alcançar a grade era quase impossível, mas lá foram elas. Só que quando chegaram próximas à grade, desanimaram total. A área vip esse ano estava enorme, fazendo com que a platéia “não-vip” ficasse muito distante do palco. Fora isso, Mary começou a passar mal devido o sufoco que era permanecer ali, no calor e espremidas. O jeito foi saírem dali e assistirem ao show de longe mesmo. O lugar que encontraram mais fisicamente viável, onde estariam um tanto quanto seguras, não permitia uma boa visão do palco, então tiveram que se virar com os telões mesmo. Apesar do aperto, os Titãs garantiram um ótimo show para elas, principalmente para Mary que aguardava ansiosa a volta de sua banda a sua cidade, já que Sam pode curtí-los em outras oportunidades. As duas também lavaram a alma quando Britto, antes de entoar "Homem Primata", declarou: "Acima da lei dos homens está a lei de Deus, e acima da lei de Deus, a grana". Caiu como uma luva! Lá na frente estavam aqueles que podiam pagar um valor três vezes maior que de um ingresso normal (que já não era barato), enquanto os demais eram significativamente prejudicados. Fazer o quê? Essa é a lei.
No dia seguinte, as irmãs foram ao hotel se despedir dos caras, afinal só Deus sabe quando eles voltarão a tocar em sua cidade. Quando os encontraram, aproveitaram para desabafar com Charles e Britto o caso lotação-muvuca-sufoco-droga de área vip. Além das tradicionais seções de autógrafos e fotos com todos. Eles atenciosos como de costume, elas envergonhadas como sempre.

Capitalismo Selvagem – Homem Primata – Cabeça Dinossauro (1986)
São Paulo, agosto de 2006
O problema não sou eu,
o inferno são os outros

Depois de uma curta e intensa temporada mineira, Samara estava de volta à capital paulista. Ficaria mais uma semana em São Paulo, e já tinha seu roteiro turístico muito bem traçado: Museu da Língua Portuguesa, Galeria do Rock, Liberdade, Ibirapuera. Av. Paulista, Centro Velho, show do Nenhum de Nós e, o mais aguardado por ela: show do Chico Buarque. Titanicamente falando estava programada para ir ao show da Rádio Transamérica, no qual, além de Titãs, tocariam Capital Inicial, CPM 22 e Hateen.
O único problema é que nem ela, nem Regiane e Samantha - amigas paulistanas que a acompanharia a esse show - tinham verba suficiente para financiar os 40 reais do ingresso, além dos custos adicionais, tais como táxi para transportá-las de volta pra suas casas, localizadas num ponto inverso do Citibank, o local das apresentações. Elas só sabiam que iam, mas ainda não sabiam como. Afinal, esse encontro tão aguardado durante tanto tempo, teria que ser comemorado no show da banda que proporcionou essa amizade. Foi aí que entrou na história Benito França (o Cabelo).
Benito é amigo das meninas e trabalha na técnica dos Titãs. Ele disse que tentaria arrumar cortesias para elas, bastava que elas chegassem mais cedo ao local, que ele providenciaria tudo. Sendo assim, antes das 16h, Sam e Sá já aumentava a fila no estacionamento do Citibank. Na verdade, além delas duas, só havia no local um fã do Capital Inicial e uma fã do CPM 22. Uma situação nada agradável, ainda mais se contar o enorme frio que fazia na cidade naquele dia, e que elas estavam totalmente despreparadas pra enfrentar a baixa temperatura. Tremendo de frio elas tentavam fazer contato com Benito, em vão. Um tempo depois, Rê se juntou às amigas. Nesse momento a fila já estava maior, assim como o desespero das meninas. Foi aí que Benito resolveu aparecer, mas com más notícias: ainda não tinha conseguido liberar as cortesias com Lauro.
Sem ingressos e sem casacos, só restavam às meninas esperarem para que algum milagre acontecesse, que fizesse um calor repentino ou aparece um santo pra salvar a noite. O calor não veio, mas o santo sim. Mal o Santo Fred das Causas Titânicas apareceu no estacionamento do Citibank, Sá e Sam correram em sua direção, enquanto Rê continuava garantido o lugar do trio na fila, que agora, já de noite, estava ainda mais disputado.
Elas nem precisaram explicar a situação, Fred já percebeu tudo pela a cara de desespero das duas. Foi um momento meio tenso, pois Fred também não tinha tido ainda acesso às cortesias, pois estava esperando a produtora da Transamérica chegar com elas. O que só ocorreu longos minutos depois. Com os ingressos dados por Fred em mãos, as duas agradeceram ao salvador da noite e voltaram pra fila, pra alívio da Rê, que já ameaçava desistir de tudo e voltar pra casa.
Entre uma conversa sem sentido e outra com um segurança sem noção, as meninas resolveram fazer um lanche para recarregar as energias e assim poderem enfrentar a batalha com as fãs do Capital e do CPM 22. Batalha essa que deu início quando os portões se abriram. Sá e Rê passaram tranqüilamente, mas Sam foi barrada por um segurança que achou que ela tinha menos de 14 anos (censura do show) e pediu para ela mostrar os documentos. Sam em outra ocasião poderia considerar tal gesto como elogio, afinal ela já ostenta 21 anos, mas aquilo só serviu pra que ela ficasse para trás na disputa por uma vaga na grade. Felizmente, Sá e Rê garantiram os lugares. E lá estavam as três no gargarejo a espera dos Titãs - que ainda bem seria a primeira banda a se apresentar.
Mesmo com uns gritinhos histéricos advindos das fãs das outras bandas da noite, o show foi muito bem aproveitado por aquele power trio. Cantavam, hostilizavam, pulavam, gritavam, confabulavam, tudo na última potência. O frio a essas hora já passava longe. Tanta animação assim resultou até em recompensas por parte dos ídolos, Sam e Rê chegaram a ganhar palhetas de Tony Bellotto.
Findado o show, as três acharam que seria melhor negócio tentar falar com os Titãs na saída do que ficar lá dentro na companhia de capitanetes (fãs do Capital) e afins. Não conseguiram falar com Branco e Paulo, mas trocaram algumas palavras com Britto, Tony e Charles, enquanto eles posavam para fotos com algumas dançarinas que estavam por lá. Os Titãs se foram e elas embarcaram no carro do taxista mais louco de São Paulo: Lacerda! Que proporcionou ao trio um hilariante fim de noite.

“O problema não sou eu, o inferno são os outros” – O Inferno São os Outros – (MTV Ao Vivo - 2005)

Wednesday, October 18, 2006

Tudo e ao mesmo tempo agora
Pessoal, na última quarta-feira encerramos as postagens do conteúdo de "Não, ela não parece. A vida é uma festa". Agora, portanto, daremos continuidade ao blog narrando histórias que já vivenciamos após a finalização do projeto do livro e o atualizaremos à medida em que novas aventuras forem acontecendo.
Abaixo, vocês poderão conferir, com detalhes, como foi o dia em que nós quatro nos reunimos em Belo Horizonte para entregar o livro aos Titãs e os comentários de alguns deles sobre o projeto.
Na próxima semana, postaremos as peripécias titânicas de Maria Samara em São Paulo - onde pôde assistir a uma apresentação da banda no Citibank - e em Fortaleza, onde os Titãs se apresentaram recentemente no Ceará Music.
"Tudo e ao mesmo tempo agora" - Tudo e ao mesmo tempo agora - (Tudo e ao mesmo tempo agora - 1991)
O grande dia
Tudo com todas as letras

Cerca de um ano após terem tido a idéia de executar o projeto do livro “Não, ela não parece. A vida é uma festa”, Beta, Ferdi, Lili e Sam finalmente chegaram a um resultado final consideravelmente satisfatório. Todos os textos já estavam prontos e editados, bem como a capa e o encarte de fotos. Era preciso agora entrar numa etapa mais técnica: a impressão dos livros, que desde o princípio, se apresentou como um dos momentos mais difíceis do processo, já que nenhuma das quatro entendia do assunto.
Após fazerem um levantamento de preços em algumas editoras, Sam levou o produto para uma gráfica de Fortaleza. Como ninguém estava certa de que o livro havia sido formatado de modo ideal para a impressão, acharam melhor imprimir apenas um livro de teste. Assim foi feito e alguns problemas surgiram. A resolução das fotos utilizadas na capa – feita por um diagramador profissional, colega de trabalho de Lili – estava baixa e, após ser impressa, a capa acabou se deformando.
Como tinham pressa em finalizar logo o projeto, Ferdi convocou seu cunhado Salun Marvim que, apesar da pouca idade (16 anos) entende de tudo um pouco, informaticamente falando. Em algumas horas, com palpites de Ferdi e sua irmã Paula, Salun executou aquela que seria a capa final do livro. Assim que concluíram o trabalho, reenviaram para Sam que retornou à gráfica.
Dessa vez, sem maiores dramas, os dez únicos exemplares de “Não, ela não parece. A Vida é uma festa” foram impressos: um para cada uma delas, um para cada titã e uma para Fred (afinal, sem ele, muitas das histórias relatadas não teriam tido final feliz).
Livro pronto, fim dos problemas, certo? Errado. Agora vinha à tona o impasse da data de entrega dos livros. De um lado, um show à vista (o Rock Festival, em Belo Horizonte) onde estariam reunidas Beta, Lili e Ferdi. De outro, o receio de mandar os livros de Fortaleza para BH e eles serem extraviados pelo Correio.
Sem chegarem a nenhuma conclusão, as quatro amigas ficaram resignadas, como quem espera um milagre. E ele aconteceu.
A junção: promoção de passagens da Gol + show do Chico Buarque em São Paulo + show do Cordel do Fogo Encantando em Belo Horizonte + encontro de Lili, Beta e Ferdi na capital mineira, motivou a ida de Sam para o sudeste.
E o que parecia improvável aconteceu. No mesmo dia, 26 de agosto de 2006, Ferdi, Beta, Lili, Sam, Paulo, Tony, Charles, Branco e Britto estiveram todos na mesma cidade.
Antes, porém, muitas confabulações (como em todas as histórias registradas naquele livro).
Beta, sua mãe Ruth e seu namorado Robinson chegaram em Belo Horizonte no dia anterior e se hospedaram num hotel. Sam, que primeiro passou por São Paulo, chegou em Minas na manhã de sábado e foi resgatada na rodoviária por Ferdi e sua mãe, já que ia se hospedar na casa delas. E, em um terceiro ponto da cidade, Lili estava incumbida da missão do dia: ligar para o Fred.
Com o telefonema, as meninas pretendiam saber a que horas os Titãs deixariam a cidade no dia seguinte ao show. Para que, assim, elas pudessem ir ao hotel levar os livros. A tensão era grande afinal nada podia dar errado depois de tanto esforço.
A conversa de Lili com Fred, porém, fez com que os planos inicias fossem alterados. Além de confirmarem que os Titãs não estavam no mesmo hotel de costume, o Mercure, e sim no Ouro Minas, souberam ainda que os Titãs estariam mais disponíveis na chegada ao hotel que, naturalmente, aconteceria dali a poucas horas.
Eram cerca de 11 da manhã. Lili ligou para Ferdi e Sam, que ligaram para Beta e em pouco tempo o plano B foi traçado: às 14 horas na porta do Ouro Minas.
Ferdi e Sam convocaram Wally para participar da missão. Ele, o amigo paulista que havia dado o maior apoio ao projeto, por mais uma daquelas coincidências do destino, também estava em Belo Horizonte naquele fim de semana e, no horário marcado, estava com as duas na porta do hotel, de mala e tudo.
O trio observava atentamente cada carro que se aproximava acreditando que pudessem ser os Titãs, ou Lili, ou Beta, ou qualquer outro artista que pudesse estar li em função do festival.
Mas eles observavam tão atentamente que não viram quando Beta, Ruth e Robinson chegaram ao Ouro Minas, entraram e se instalaram no saguão. Lá dentro, o outro trio viu que Charles Gavin e Tony Bellotto já estavam por ali, almoçando. Ligaram, então, para Ferdi e Sam, a fim de apressá-las. Quando as meninas disseram que estavam lá na porta, Beta as fez entrar depressa. Entraram. Wally, Ferdi, Sam e os livros (!!!), os protagonistas daquela tarde.
Acharam mais conveniente não interromper a refeição dos ídolos e preferiram ficar todos sentados por ali – se comportando naturalmente, como se fossem hóspedes – esperando o fim do almoço e a chegada de Lili, que aconteceu poucos minutos depois.
Enquanto as quatro comemoravam o fato de estarem juntas pela primeira vez, tiravam fotos e lambiam a cria (o livro!) viram uma van se aproximando da portaria do hotel. Dela saíram Lee, Emerson, Fred, Branco e Britto. Os fatores saguão gigantesco mais a multidão de pessoas que havia ali (além dos hóspedes, estava acontecendo um congresso de Psicologia) quase impediu o encontro entre fãs e ídolos, já que os músicos se dirigiram rapidamente para o elevador.
Mas uma ajuda de mãe (literalmente) salvou o momento. Ruth rapidamente passou por todos, inclusive pelos seguranças e intimou Britto a ir falar com as meninas. Ele se aproximou sério – como sempre – e a tensão aumentou. Durante o período de produção do livro, as quatro sempre tentavam imaginar como seria a reação de cada titã ao receber o projeto. Mas nunca conseguiram chegar a uma conclusão sobre como seria a reação de Britto, o homem enigma.
Beta, que tem Britto como seu titã preferido, foi quem fez a entrega, enquanto as outras explicavam do que se tratava aquilo. E a primeira grande emoção do dia aconteceu naquele momento. Britto folheava o livro e repetia coisas como “Sensacional!”, “Não acredito que vocês fizeram isso”, “Vocês conseguiram fazer um livro de verdade”. Emocionadas com as palavras de Britto, as meninas contaram que ele era o primeiro a receber, já que os outros estavam almoçando. “O quê? Não acredito que aqueles babacas ainda não viram isso”, hostilizou o tecladista com um sorriso no rosto.
Depois deste momento, ele subiu para guardar suas malas e voltou rapidamente para se juntar a Tony e Charles, trazendo em suas mãos, o livro. Em seguida, Branco também desceu e sentou-se à mesa com os amigos.
Pela seqüência de cenas que vieram depois, as meninas deduziram que Britto explicou o projeto aos amigos durante o almoço, e eles decidiram vir um de cada vez até as fãs, para receber o presente.
O segundo a aparecer foi Tony. Mais simpático impossível, ele fez sua declaração de amor aos livros, elogiou o trabalho e a cara de “livro profissional” que “Não, ela não parece. A vida é uma festa” tem, posou para fotos e, para a surpresa geral, exigiu que as meninas autografassem seu exemplar. Mais um momento de êxtase, afinal não é todo dia em que se dá autógrafos para seus ídolos.
Enquanto tentavam falar com as fãs, Tony era atacado por psicólogas que participavam do tal congresso. Mas Lili, Beta, Ferdi e Sam não se preocupavam em disputar a atenção, pois perceberam que o Tony estava realmente mais interessado no que elas tinham a dizer do que nos ataques das fãs por um dia.
Depois de Tony, quem veio receber o livro foi Branco. A princípio ele achou que o livro havia sido lançado de verdade (que estava à venda e tudo mais) mas, com a ajuda de Wally e Ruth, as fãs trataram de explicar que as únicas pretensões era homenagear os ídolos.
Branco também foi atacado pelas psicólogas, bem como Charles que veio logo em seguida (e as meninas se perguntavam por que elas não iam atacar o Chorão que havia acabo de chegar ao hotel e se juntava aos Titãs no almoço. Tudo bem, elas também nunca atacariam o Chorão).
Charles já chegou chegando. Abraçando e beijando as fãs e declarando de maneira enfática: “Eu sei do que vocês são capazes intelectualmente”. Depois algumas perguntas, prontamente respondidas pelas fãs, o baterista também exigiu autógrafos e reclamou porque não havia data na contra-capa do livro. Ele mesmo pegou uma caneta de registrou, 26/08/2006, enquanto dava uma bronca nas fãs: “vocês ainda não dão valor às datas, mas um dia darão”. Como conhecem o interesse de Charles por astrologia, as fãs ainda comentaram com ele o caso Plutão, que havia sido rebaixado no dia anterior. Ele, sempre muito bem informado, tratou logo de esclarecer que os escorpianos não ficaram sem planeta regente, pois também são regidos por Marte.
Como estavam com hora marcada, as meninas perceberam que não poderiam estender o papo e perguntaram por Paulo, que ainda não havia aparecido. Charles não soube dizer onde estava o amigo, então elas acharam melhor deixar com ele os exemplares de Miklos e de Fred, que também estava desaparecido (alguns shows depois elas puderam confirmar que Charles fez a entrega).
Saíram do hotel com a deliciosa sensação de missão cumprida e de forma muito mais satisfatória que a sonhada. Aqueles momentos estavam registrados eternamente nas inúmeras câmeras fotográficas – inclusive pelos cliques profissionais do fotógrafo Élcio Paraíso, namorado de Lili – e, principalmente, no filme da memória de cada uma delas.
Depois daquelas horas de fortes emoções, Ferdi e Beta seguiram para o Mineirão onde aconteceria o Rock Festival, com a participação, claro, dos Titãs. Lili e Sam marcaram um encontro para mais tarde, na Praça da Estação, onde assistiram à apresentação do Cordel do Fogo Encantado.
A comemoração pelo feito aconteceu mesmo no dia seguinte no restaurante Parrila Del Mercado, onde saboreando muitas frutas da estação (piada interna), Beta, Ferdi, Lili e Sam, acompanhadas de pessoas muito especiais, tiveram a certeza de que não, a ela não parece, a vida é uma festa!

“Tudo com todas as letras” - Palavras - (Õ Blesq Blom - 1989)
Obrigado, de nada
Vejam o que disseram Sérgio Britto e Tony Bellotto sobre "Não, ela não parece. A vida é uma festa":
"Para quem não sabe a Samara, a Fernanda, a Liliane e a Roberta escreveram um livro (mesmo!) sobre a relação delas com os Titãs. Surpreendente, e bem legal!Depois vou postar fotos e comentar alguma coisa" - Sérgio Britto em 8 de setembro, nos comentários de seu blog.

"O livro é sensacional! Eu recomendo. Vou postar as fotos que tirei com o Wally e as autoras do livro ( Samara,Fernanda,Liliane e Roberta) em BH no dia em que recebemos o presente" - Sérgio Britto em 28 de setembro, nos comentários de seu blog.

"Srs e sras, Aí estou eu ao lado das autoras (Fernada, Liliane, Samara e Roberta) de “Não, ela não parece. A vida é uma festa”, em BH. O Wally, assiduo colaborador deste blog, também deu o ar da sua graça. Parece que o livro está sendo postado na internet: alguém sabe como encontar? É divertido, bem escrito e acima de tudo uma demonstração clara de que a música interfere, sim, na vida das pessoas" - Sério Britto em 03 de outubro, em post em seu blog. (http://www2.uol.com.br/sergiobritto/blog/index.html)

"Aconteceu muita coisa de lá pra cá. A mais memorável, o livro da Fernanda, Liliane, Samara e Roberta: Não, Ela Não Parece. A Vida É Uma Festa. Imperdível. Fãs assim fazem a gente se sentir importante. E escrevem muito bem as meninas (concorrência à vista...) Recomendo a leitura" - Tony Bellotto em 19 de setembro, em comentário no titas.net (http://titas.net/news)
"Obrigado, de nada" - Obrigado (Tudo e ao mesmo tempo agora - 1991)

Wednesday, October 11, 2006

Texto 42
Que não é o que
não pode ser


Eu tinha saído daqui de Guarapari alguns dias antes para assistir ao Festival Pop Rock, em Belo Horizonte. Eu estava na casa de minha irmã, praticamente incomunicável.
Chegando em casa, assisti a um trecho do Bem Brasil que havia deixado gravando, e percebi que havia algo de estranho com o Nando Reis. Aliás, há tempos eu já achava a relação “Nando-Titãs” muito distante e fria no palco, ainda mais depois de um show aqui no Espírito Santo na cidade de Linhares, mais precisamente no dia 23-08-02. Mas quem sou eu para fazer esse tipo de afirmação, já que na época (apesar de sempre ter acompanhado a carreira dos mesmos, desde o início da adolescência) ainda nem tinha conhecido pessoalmente a banda e não tinha tanto contato ainda com fãs aqui em minha cidade.
Só soube da nota oficial quando desliguei o vídeo e voltei para a MTV, que estava relatando o caso em uma entrevista exclusiva. A preocupação veio à tona. Eu achei que se tratava de uma brincadeira da própria MTV, que já havia feito uma reportagem com pessoas nas ruas de São Paulo dizendo que os Titãs tinham acabado e analisavam a reação (de espanto) das mesmas. Mas não poderia ser mais uma brincadeira como esta e realmente parecia ser sério.
Eu sabia que os Titãs iriam superar o fato assim como ocorreu na saída do Arnaldo, mas e a agenda de shows? Quando seria o próximo? Será que haverá algum tão breve? E quanto ao baixo? Será que um Titã iria se dedicar somente ao baixo ou haveria um “revezamento”? E o set-list?
Sei que fiquei aliviada quando soube da entrada do grande Lee Marcucci, pois são anos de estrada e tinha certeza de que ele não iria fazer feio.

Roberta

“Que não é o que não pode ser” – O Que (Cabeça Dinossauro – 1986)
Texto 41
Você sumiu,
mudou de lugar


— Tintins? Foi isso que eu ouvi?
— Acho que sim...
— E o que é tintins?
— Sei lá, Marianny!

Domingo, 09 de Setembro de 2002. Eu e minha irmã Marianny assistíamos ao programa Bem Brasil, que naquela tarde tinha como atração principal o cantor Nando Reis. A música que tocava durante o nosso breve dialogo acima era O Mundo é Bão, Sebastião e o trecho que nos deixou com dúvida era: “Tão fortes somos os outros Titãs...”. Só que naquela ocasião Nando substituiu Titãs por tintins ou algo similar. Foi a primeira vez que ele fez isso, e desde de então, não cantaria mais na forma original. O motivo nós só descobrimos no dia seguinte.
Segunda-feira 10 de Setembro, quando eu estava na van indo para aula o som do rádio me chama atenção, mas ele estava baixo e o barulho dos passageiros alto, mesmo assim eu tive certeza que ouvira as seguintes palavras, que foram exclamadas com mais entonação pelo locutor: “Bomba”, “Titãs” e “Nando Reis”. Por mais que tentasse montar o quebra-cabeça não conseguia chegar a uma resposta lógica, pelo menos não em uma que eu quisesse acreditar. Não me preocupei muito, afinal, noticia ruim chega rápido e locutor, que anuncia noticias como “bombas”, não pode ser levado muito a sério.
No final da primeira aula, eu resolvi passar no laboratório de informática para checar meus e-mails. Foi aí que me deparei com vários e-mails da lista de discussão dos Titãs, que falavam de um só assunto: a saída de Nando Reis da banda. “Como? Quando? Por quê?”, eu me perguntava silenciosamente. Tratei de confirmar essa história, e ao ler os comunicados oficiais tanto da banda quanto do cantor, passei a ter uma outra dúvida: Como contaria isso para minha irmã?
Ao chegar em casa contei tudo a ela, sem rodeios. A mesma ficou sem reação. Não foi fácil para minha irmã receber a noticia que seu titã preferido tinha deixado a sua banda do coração. Mas era fato, cada parte seguiu o seu destino, e era o melhor a ser feito mesmo.
Bom, um mês depois os Titãs vieram fazer show aqui em Fortaleza, com uma versão acústica de Marvin cantada por Branco Mello e Marcucci, sim, Lee Marcucci assumindo o baixo, que nunca tinha sido tão alto. Estava tudo bem, aliás, tudo muito bem com a nossa banda preferida e era isso que importava.

Samara

“Você sumiu, mudou de lugar” – Mesmo Sozinho (A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana – 2001)
Texto 40
O que é que vocês
estão falando?


— Alô!
— Ferdi, aqui é a Lili.
— E aí?
— Você não vai acreditar.
— O quê?
— O Nando saiu.
— Que Nando?
— Nando Reis!
—Saiu de onde?
— Dos Titãs?
— O quê? Você tá doida, Lili?
— Bom, também não tô acreditando muito, quem me disse foi a Zélia.
— Ah, tá. Tinha que ser coisa daquela maluca. Ela deve tá fazendo hora com a nossa cara.
— Eu também estou achando. Tá estranho isso. Eles têm show prá fazer. Ninguém sai sem mais nem menos de uma banda.
— É mentira. Melhor a gente nem comentar com ninguém.

E foi assim que naquela sexta feira, 6 de setembro de 2002, eu recebi a notícia do desligamento de Nando Reis dos Titãs. Não acreditei, achei aquilo absurdo demais para ser verdade. Menos de um mês antes, eu havia assistido a um show da banda e, aparentemente, tudo estava bem.
Só tive certeza quando vi o Nando na MTV, fazendo seu comunicado oficial. Não era uma brincadeira, como no dia 1o de abril de 1997, em que Marcelo Fromer anunciou o fim dos Titãs. Afinal de contas, era dia 9 de setembro e tudo estava soando num tom sério demais.
Pronto, era verdade mesmo. “Quem assumiria o baixo?”, “As músicas dele sairiam do set list?”, “Será que houve briga?”, “Os Titãs também falarão oficialmente sobre o assunto?”. Especulações e mais especulações. Para boa parte delas, tive a resposta 12 dias depois, quando a banda se apresentou em Belo Horizonte, já com Lee Marcucci no baixo.
Naquela noite, tive a impressão de ver os Titãs mais leves no palco. Arrisco-me a dizer que estavam mais felizes. Entendi, então, que aquela separação se fez necessária. E quanto ao Lee? Bom, não é todo dia que se tem a chance de ver um dos pilares do rock nacional tocando as músicas de sua banda preferida...

Fernanda

“O que é que vocês estão falando?” – A Verdadeira Mary Poppins (Titanomaquia – 1993)
Texto 39
Me despeço e vou

Berra o celular. Tan na nã, tan na nã, tan na na na nãããã... Código 11 a uma hora dessas? Ei, Zélia... O quê? Você está brincando? Enlouqueceu? Pára de show... Como assim? Não acredito. Quem disse isso para você? Mas por quê? E agora? Não creio... Como foi? Não entendi... Explica isso de novo. Aqui, isso não pode ser. Não faz o menor sentido. Mas eles não estão tocando em São Luís do Maranhão? Ligou para contar agora? Eu sei que suas fontes são seguras, mas... Pode ser uma briguinha à toa. Nada sério, igual daquela vez... Não? É sério? Sua fonte é segura, mas é chegada numa lorota... E o clima? Será que vai acabar tudo? Ai, pára... Não me faz medo. Vai ter Bem Brasil depois de amanhã, né? É só ele. Será que a gente manda e-mail perguntando? Ok, nada de fazer perguntas. Fica tranqüila, sua fonte secreta-secretíssima não vai se queimar com os patrões. Mas que raiva dele. Como pode fazer isso? Ninguém é santo, os outros devem ter feito algo também, mas sei lá. Ah, se bem que foda-se... Ele não dava atenção para gente mesmo. Ainda bem que não foi o.... Vou jogar aqueles dois CDs toscos fora! Que droga, não vou mais conseguir ouvir Cegos. Mas pelo menos quem sabe não rola dessa ser cantada a partir de agora pelo... Ia ficar tão linda, a voz dele é melhor que a daquele fanho! É fanho, mas é ruivo... Os ruivos são tão legais! Será que eu vou ter que pintar o cabelo para ir ao próximo show? Os outros devem estar com birra de gente de cabelo vermelho... Que dó de mim, não me bota medo. Lembra como ele estava na lama em Divinópolis? Foi o único que nem olhou na nossa cara. Todo mundo tão cheiroso de manhã... E ele todo rasgado. Mas era o seu titã favorito. Ainda bem que o meu sempre foi o... Não, coitadinhos, tomei as dores deles. Vê se pode? No meio da turnê? Maior mercenário... As músicas dele estavam as mais chatas desse CD. Mas e Marvin? Não vai combinar com outro... Que vontade de espalhar! Lógico que não, vai que é uma mentira que esse louco lhe contou? Só para a Ferdi, claro. Agora é esperar para ver se eles se manifestam... Hoje é sexta, acho que notícia, agora, só na segunda. Que bomba essa que você me jogou. Mais detalhes? Mas e aquele negócio que você falou antes? Raiva!!! Ai, a bateria vai acabar... Tuuuuuuuuu...

Liliane

“Me despeço e vou” – Cegos Do Castelo (Acústico MTV – 1997)
Texto 38
Não existe razão,
nem existem motivos


Manhã de sol em Guarapari. Eu acordei tarde, pois na noite passada estava no XIII Festival de Alegre, no Espírito Santo.
Como de costume, eu me levanto e olho para o relógio. São três horas da tarde. Hora de começar a me preparar para mais uma jornada de shows. Ao sair do banho, minha mãe me chama: “Betinha, corre, venha ver uma reportagem aqui na televisão”. Eu fui correndo assistir. Toda a alegria que circundava o ambiente sumiu de repente e transformou-se em uma grande angústia, me senti como se tivessem puxado um tapete debaixo de meus pés. A grande causa dessa situação foi a notícia que acabara de ouvir: Marcelo Fromer, guitarrista dos Titãs, foi vítima de um atropelamento causado por um motoqueiro em São Paulo e havia falecido. Passei alguns minutos sem reação, olhando para a televisão e custando a crer no fato. Não podia ser verdade, não com ele.
O dia 13 de junho foi um dos mais doloridos de minha vida. Como já havia combinado de ir para Alegre com amigos, não tive como cancelar a viagem.
Durante o caminho, eu não pensava em outra coisa e me perguntava “como”, “por que” entre outras, que ficaram sem resposta. O astral não era mais o mesmo, e eu refletia o quanto as pessoas são impotentes diante de certas situações.
Chegando em Alegre, tentei me divertir, mas minha cabeça estava em outro lugar. O show do Jota Quest foi o que mais marcou no dia e talvez o único ao qual prestei atenção, pois achei muito bonito o gesto de Rogério Flausino, que dedicou o show inteiro “a um grande amigo e companheiro que havia perdido”.

Roberta

“Não existe razão, nem existem motivos” – Violência (Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas – 1987)
Texto 37
O amor que eu tenho
por você é seu


Era aula de biologia. Uma aula de biologia qualquer, como todas aquelas que eu tinha em todas as terças-feiras do ano de 2001, ano de maratona de vestibular. Até então, o único problema daquele dia em relação aos demais era o fato de ser outro 12 de junho a ser passado sozinha, sem um namorado para chamar de meu.
Foi quando a Luciana, amiga desde a primeira série do primário, veio falar comigo e com a Ferdi. Estávamos reunidas em um grupo, fazendo exercícios preparatórios para as provas do vestibular que já estavam batendo à porta. Lu chegou e logo disparou uma pergunta-bomba, que nada tinha a ver com reinos, filos, espécies, análises genéticas. “Qual dos Titãs foi atropelado?”. Atropelado? Como assim? Luciana não sabia explicar. Disse que tinha ouvido no rádio do carro enquanto o pai a levava para a aula, bem cedo naquela manhã. Pegou a notícia cortada. Não tinha mais informações. Veio perguntar porque julgava que eu, por ser fã da banda, já soubesse. Mas eu não sabia e aí milhares de incógnitas se formaram na minha cabeça.
Talvez a falta de maiores detalhes fosse sinal de que a coisa não tinha sido grave. Mas, grave ou não, eu estava preocupada. O que teria acontecido? Com quem? Queria saber, só que não tinha como sair da sala para averiguar a situação. Estava no meio dos tais exercícios e, para piorar, a professora tinha resolvido, no meio do caminho, que eles seriam mais que um simulado, mas uma espécie de prova valendo nota.
Meus colegas de classe tentavam me acalmar. Não devia ter sido nada de tão perigoso assim, senão eu já saberia. “Notícia ruim corre depressa”. Esforçavam-se para me convencer, em vão. Eu trocava olhares tensos com Ferdi. Só nós duas sabíamos o nível de preocupação que se instalara desde aquela fatídica pergunta da Lu.
Assim que soou o sinal do intervalo, corri para o banheiro, celular em mãos. Ligar para casa era o único jeito de obter alguma palavra elucidativa. “Minha mãe é do tipo que sempre está ligada nos noticiários, deve saber de algo”, pensei. Por um momento, tive um branco total. Não lembrava o número de casa, não lembrava que podia vê-lo na agenda do celular. Parei, respirei fundo, me concentrei até lembrar. Três, três, oito, três, meia, três, dezessete... Send. “Alô? Mãe? O que aconteceu? A Lu me falou de um acidente com alguém dos Titãs...”
Deve ter sido instinto materno, preocupação de mãe coruja querendo proteger a filhota. Fato foi que ela ficou muda, um silêncio revelador, assustadoramente revelador. Tinha acontecido alguma coisa séria, caso contrário minha mãe não teria se calado. Insistência, insistência, insistência. Até que, vencida, ela me contou. Marcelo, atropelado, internado, inconsciente. Só palavras-chaves ficaram na minha cabeça. Choro. Milhares de lágrimas correndo compulsivamente dos meus olhos.
Ferdi também estava ao telefone, na mesma missão de tentar descobrir algo — algo que, na verdade, não queríamos descobrir. Encarar a verdade, muitas vezes, é dolorido. Naquele 12 de junho foi mais ainda. Revelou-se, então, o grande problema daquele dia: Marcelo Fromer, pessoa de alegria radiante, grande ídolo, estava mal num CTI depois de ter sido atropelado em São Paulo por um motoboy.
O acidente tinha sido na noite anterior, mas não tive como saber antes. Havia ido dormir cedo — na época, ainda não era acometida de insônia nenhuma. Tinha acordado cedo, mas direto da cama para a aula. Não tinha mesmo como ter sabido antes, mas me culpava por não ter acompanhado tudo desde o princípio. Mesmo se eu estivesse lá, no local do acidente, bem na hora que o maldito motoqueiro passou e levou o Marcelo, eu não teria como fazer nada. Não era médica e nem um pouco afeita a assuntos de saúde — como não sou até hoje. Mas talvez pudesse ter rezado desde o início, talvez isso adiantasse de algo. Como não estava, comecei a rezar daquele momento em diante. Logo eu, totalmente contra os mandamentos da “Santa Madre Igreja”... Mas se Deus é Pai de todos, Ele ia aceitar minhas preces. Antes tarde do que nunca.
Ouvidas, elas devem ter sido. Só que não foram atendidas. Marcelo Fromer, o titã bon vivant, apreciador da música, do futebol, das comidas, das bebidas e de todas as coisas boas da vida, aquele cara que tinha me reconhecido num aeroporto e me tratado de igual para igual, num bate-papo divertido antes de cada um embarcar em seu respectivo vôo, aquele cara que ficava do meu lado esquerdo em cima do palco, na hora dos shows, aquele guitarrista cheio de energia e são-paulino roxo tinha morrido, depois de uma árdua batalha pela vida naquele leito de hospital. Valeram de alguma coisa as tais preces? Praguejar parecia minha única atitude possível, apesar de não mudar em nada os fatos.
A notícia veio pela TV, a mesma que costumava trazer para dentro da minha casa tantas imagens felizes com aquele mesmo Marcelo. Mas agora era diferente, era triste, era a última notícia, a que eu não queria mesmo saber. Os outros seis titãs, o Arnaldo... Tudo parecia tão aos pedaços, incompleto.
Pode parecer estranho, mas aquele dia, 13 de junho de 2001, e aquela morte me causaram uma dor tremenda. Muita gente nem entendi. “É só um artista, você nem conhecia o cara”, me diziam. Sim, eu o conhecia. Já tínhamos nos visto e nos falado uns pares de vezes, mas não era isso que me fazia afirmar que eu o conhecia, que ele era mais do que um ídolo efêmero. Era a energia que ele passava que o fazia próximo, mesmo que a quilômetros e quilômetros. A paixão com que fazia as coisas era contagiante — era um legítimo “jeito Marcelo Fromer” de viver e cativar.
Ali, na frente da televisão que me deu a fatídica notícia, também me despedi do titã. Mais uma vez, queria estar lá. Não pude. Dei meu último adeus — a meu modo, dentro das minhas possibilidades, com as minhas lágrimas —, junto dos amigos e companheiros de banda, a família e os outros milhares de fãs que, como eu, sofriam. Uma despedida triste, mas, ao mesmo tempo, um momento que me revelou que o Marcelo para quem eu dava “tchau” era o mesmo Marcelo que, para sempre, seria uma luz querida a brilhar nas minhas melhores lembranças.

Liliane

“O amor que eu tenho por você é seu” – Meu Aniversário (E-Collection – 2000)
Texto 36
Ele partiu
e não voltou

“Qual dos Titãs foi atropelado?”, foi com essa pergunta que minha amiga Luciana me recebeu no colégio naquela terça-feira, 12 de junho de 2002. Como eu não estava sabendo de nada e conhecia o jeito piadista daquela minha amiga achei que fosse brincadeira e perguntei, rindo: “Como assim, atropelado?”. “Ah, eu ouvi alguma coisa no rádio, hoje de manhã. Não entendi direito. Só sei que foi uma moto”. Ela não sabia me informar mais nada, mas supus que não devia ser nada preocupante. Afinal de contas, um atropelamento de um adulto, por uma moto, não podia ser grave.
Na hora do intervalo, tirei meu celular da bolsa e vi que constavam nada menos que 18 chamadas não atendidas, todas vindas da casa de uma amiga titânica. Fui ao banheiro e liguei para ela. Quando disse que era eu só a escutei dizer, chorando: “Ele está muito mal”. “Ele quem? O que aconteceu? Pelo amor de Deus, me fala”. Depois de muito custo ela conseguiu me explicar tudo. Fiquei atônita por uns minutos, mas tentei acreditar que o Fromer sairia dessa, como havia acontecido com o Herbert Vianna, alguns meses antes.
Cheguei em casa, meus pais estavam almoçando e me vendo entrar cabisbaixa perguntaram: “Você já está sabendo?”. Respondi com um gesto de cabeça e fui para a frente da TV. Desde o início a imprensa falava em doação de órgãos e eu achava aquilo repugnante. Acreditei que ele fosse sobreviver, até os últimos segundos. Era surreal demais para mim — e para todos — perder um titã assim, de forma tão brusca e prematura.
Na quarta-feira, dia 13, veio o anúncio da morte cerebral. Eu não conseguia sair de frente da TV, talvez por não estar acreditando muito em tudo aquilo. Acho que minha ficha só caiu quando vi os Titãs e o Arnaldo Antunes, juntos, agradecendo e informando as pessoas sobre o velório. Pela primeira vez eu chorei, e meu pai, que estava ao meu lado também. Ele já perdeu grandes amigos e na hora me disse: “Eu sei o que esses caras estão passando”.
Aqueles dias foram difíceis. Foi o vazio mais estranho que senti em toda a minha vida. Como assim, sentir falta de alguém que nunca esteve ao meu lado? Nessas horas, tudo do que é humano, me é estranho.

Fernanda

“Ele partiu e não voltou” – Daqui Prá Lá (A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana – 2001)
Texto 35
Capítulo III - Tão forte somos todos outros Titãs
É cedo, ou tarde demais,
pra dizer adeus


Estava em mais uma das minhas noites de insônia, zapiando os canais até que começou o Jornal da Globo. Parei para assisti-lo e uma das noticias me fez perder de vez o sono: “Marcelo Former, guitarrista do grupo Titãs, foi atropelado”. Só me lembro que fiquei paralisada. Fui tomada por um sentimento de angústia, mas, até então, tinha esperanças de que tudo acabaria bem.
No dia seguinte, as pessoas com quem eu cruzava faziam algum tipo de comentário e eu nem conseguia me concentrar nas aulas. Quando cheguei em casa, não tinha quem me fizesse sair da frente da TV, estava ansiosa por noticiais. E foi assim, que no dia 13 de junho soube da morte do Marcelo. O VJ da MTV Edgard Píccoli dava a notícia em frente ao hospital: “Acaba de ser anunciada a morte cerebral de Marcelo Fromer”. Pronto, estava eu novamente com aquele sentimento triste e forte que poucas vezes tinha sentido na vida. A ficha demorou a cair, e o momento mais emocionante foi ver todos os Titãs, amigos e parentes do guitarrista cantando “Prá Dizer Adeus” durante o enterro. Nunca aqueles versos tinham sido cantados com tanta emoção e eu nunca pensei que me sentiria daquele jeito por alguém, que sequer tinha tido algum contato. Incrível esse tipo de ligação, eu sei.
Acredito que a primeira grande apresentação do grupo sem Fromer ocorreu em outubro de 2001, quatro meses depois do acidente, durante o Festival Ceará Music. Foi um bonito e emocionante show, tanto para os músicos como para a platéia. Um dos momentos mais emocionante foi a leitura de um texto por Nando Reis em homenagem ao amigo. Como não se entregar às lágrimas?

Samara

“É cedo, ou tarde demais, prá dizer adeus” – Prá Dizer Adeus (Televisão – 1985)

Wednesday, October 04, 2006

Texto 34
Ficar bem ou mal acompanhado,
não importa se der tudo errado


Samara chegou ao Rio de Janeiro levando na bagagem além de malas, duas semanas muito bem aproveitadas em terras mineiras, onde pode ter a companhia de Fernanda e Liliane, em aventuras e passeios pelos morros e ladeiras geralistas. E o mais próximo que chegaram de um acontecimento titânico foi verem a apresentação de Paulo Miklos no Oi BH Fashion Tour. As três na fila do gargarejo, ao lado do Governador Aécio Neves. Privilégio concedido por Lili, que estava cobrindo o evento pro jornal em que trabalha.
Foi ainda em Minas que Sam soube da inclusão das mesas nos shows dos Titãs que rolaria no Rio de Janeiro no começo de Abril, época que ela estaria por lá e, obviamente, aproveitaria para conferir a apresentação da banda. Uma notícia um tanto quanto broxante (mesas são anti-tesão), afinal show de rock é inversamente proporcional a pessoas sentadas. Isso pegou todos os fãs de surpresa, alguns ficaram revoltados, outros aceitaram resignados e outros, poucos, gostaram. Teve ainda uma ameaça de um movimento intitulado de “Mesas pro ar”, inspirado na destruição em massa do Teatro Carlos Gomes feita pela platéia 20 anos atrás. Foi em Minas também que Sam teve uma outra notícia importante. Depois de um ano e meio os Titãs voltariam a tocar na sua cidade, Fortaleza, exatamente no período em que ela estaria viajando. Paciência, não era por isso que ela cancelaria seus planos de turista. Em todo caso sua irmã, Marianny, ia comparecer. Só que em pleno o auge da sua viagem, sua irmã foi a porta voz da boa nova: Bel Marques vocalista do Chiclete com Banana estava com Dengue! Ok, o quê isso tem a ver com os Titãs? Tudo! É o seguinte, os Titãs tocariam em Fortal num evento juntamente com o Chiclete, portanto o show deles também teve de ser adiado, e o melhor, por falta de disponibilidade da agenda, eles não poderiam mais tocar com o Chiclete, o show foi remarcado, e para alegria das irmãs, um só dos Titãs.
Voltando ao Rio. A primeira parada turística de Sam, fora andanças pelo aterro do Flamengo e a vista noturna da praia de Botafogo, bairro onde estava hospedada, foi o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). No final da tarde de quarta-feira, 05 de Abril, na companhia da Juliana Amado, Sam encontrou no CCBB amigos titânicos que até então só conhecia virtualmente: Lismar e Christianne do próprio Rio e Cíntia de Minas, que tinha ido ao Rio especialmente para os shows da banda. O encontro fluiu naturalmente como se conhecessem há anos, e no fim das contas, não era isso mesmo? Desde dos primórdios do titãs.net, aliás, alguns até bem antes dele. Cíntia e Chris tiveram que sair mais cedo, mas Lismar, Sam e Ju ainda foram até a Candelária finalizar o roteiro turístico daquele dia.
Na quinta foi dia de caminhar pelo Leblon, Lagoa Rodrigo de Freitas e Copacabana. Nos dois primeiros destinos Sam e Juliana foram sozinhas, mas em Copacabana se juntaram a Cíntia, que estava hospedada no hotel Othon Palace. Após andarem por horas pela orla da praia, elas voltaram ao hotel para recarregar as energias, tinham marcado de sair à noite com Victor (o Ramone), foi quando saíram do hotel que deram de cara com os novos hospedes que chegavam, Paulo Miklos e Sérgio Britto. As meninas ficaram surpresas, mas acharam melhor não falarem com eles naquela ocasião e contexto, então seguiram. O encontro com Victor se deu num bar em Copa mesmo, regado a chopp para aqueles que bebiam e suco para os demais, mas numa enorme diversão e bate-papo, que se juntaram Vinicius D’Ávilla e também alguns amigos de BH da Cíntia.
Sexta foi dia de irem ao Museu da República e depois de buscar a Adry de BH no aeroporto. Mal chegaram na casa de Ju, já era hora de partirem para o Canecão, iam conferir a passagem de som dos Titãs. Lá encontraram Cíntia, Chris e Carol Angel.
Era a primeira vez de Sam e Ju numa passagem de som, ambas estavam achando tudo empolgante. Vê-los combinando detalhes, corrigindo erros, participar do coral de Flores (a pedido dos próprios), conferir os caras super à vontade, com direito até a dancinhas a la balé do Faustão de Tony Bellotto, que inclusive desceu do palco pra tocar sentado nas cadeiras. O negócio estava tão família, que até José, filho de Britto, estava por lá. O único problema era o clima. O Canecão estava um forno, as meninas suando, os Titãs muito mais. A casa também ainda estava meio desorganizada, mas não era tão grande quanto Sam imaginava. E sim, a pista não era nem um pouco privilegiada, triste constatação.
Ao final da passagem, Sérgio Britto desceu do palco para cumprimentar as meninas. Logo ele reconheceu Sam, chamando atenção para o fato de ela estar de férias. Sam aproveitou o ensejo para apresentar Juliana a ele, explicando todo o contexto. Juliana é deficiente auditiva, mas por ser fã de Tony Bellotto como escritor começou a gostar dos Titãs pelas letras das músicas, gosta de ir a shows por causa da energia e pelos amigos que fizera. Juliana é surda oralizada, ou seja, sabe falar e fazer leitura labial. Vale ressaltar também que Juliana faz teatro e tem como sua maior ídolo a atriz Malu Mader, providencialmente esposa de Bellotto.
Logo depois foi a vez de Charles Gavin ser apresentado a ela. Charles se mostrou interessado pelo assunto e teve todas suas dúvidas prontamente respondidas pelas meninas. Só uma coisa preocupava Sam, ela queria que Juliana se encontrasse com Tony. Juliana carregava na bolsa três livros do guitarrista na esperança de sair de lá com eles devidamente autografados. Só que Tony não dava as caras, então, Sam foi tentar achá-lo. Pegou ele já de saída, explicou a ele toda a situação e ele se dispôs a atender Juliana. E assim foi feito, mas devido à pressa só um dos livros foi autografado, mas já estava de bom tamanho para Ju, que saiu de lá radiante. Adry também conseguiu falar com o Charles a respeito dos ingressos para domingo que ele tinha prometido a ela. Acabou que ele conseguiu ingresso para Adry e mais três, dentre esses três estava Sam e Ju, claro.
Passagem de som é quase um showzinho particular, mas nada que se compare à energia de um público, e lá se foram elas se aprontarem para o show.
De tão ansiosas que estavam elas foram as primeiras a chegar ao Canecão. Esse dia seria o único dia que elas estariam de mesa. O Canecão estava diferente da hora da passagem de som, o ar abafado deu lugar a um forte ar condicionado, reinava a organização, tudo muito chique. Elas ficaram por lá batendo papo, e a elas foram se juntando outros fãs conhecidos, até que finalmente começou o show. As três concordavam em uma coisa: assistir show sentado era muito estranho. Elas tinham que se controlar para não levantarem e agitarem como o som pedia. Elas olhavam para os lados e com exceção da Cíntia, Chris e Carol que também estavam por lá, quase ninguém das mesas cantava as músicas. A revolta do público detonou quando Branco partiu para os agradecimentos antes de entoar O Inferno São Os Outros: “Eu queria agradecer a presença dos nossos amigos, dos nossos convidados...”. Ele foi brutamente interrompido por um ser abençoado que gritou lá do fundo “E o público, porra!?!”. O tal ser foi ovacionado, e Branco tentou se corrigir: “E o nosso público também, são todos nossos amigos...”.
Então, o show seguiu em sua ordem quase normal. “Como assim em Epitáfio não teve o famoso levanta multidão ‘Sai do chão’ do Britto??”, se perguntavam Sam. Se os fãs tiveram que se segurar pra não entoar a frase arrebatadora, imagina o vocalista. Porém, o final da música recompensou essa falta, a pedido de Britto, o publico batia palmas em sincronia e cantava os belos versos, ficou muito bonito. O momento mais hilário do show, e se duvidar de toda a carreira do Titãs, foi anunciado por Tony, que numa atitude inédita pegou o microfone para apresentar a performance de Miklos. A performance tragicômica consistia da versão do Titãs para dança da pizza, nome dado a dancinha que virou notícia, feita pela deputada Ângela Guadagnin dias antes no congresso nacional durante a votação da cassação do deputado João Magno, que, claro, acabou em pizza. A dança de Miklos propositalmente era anunciação para música Vossa Excelência, e lá estava a galera para cantar o refrão (Filha da Puta, Bandido, Corrupto, Ladrão!) com todas as suas forças, continuando mesmo depois do fim da música Em Nem Sempre Se Pode Ser Deus, Branco, em mais uma tentativa de fazer as pazes para o público, ofereceu a música aos fãs, um cutucão básico na platéia. Mas também foi o próprio Branco que, em Lugar Nenhum, convocou a galera para fazer a festa de pé com um sonoro “Levanta aí, caramba!”. Pronto, era o quê faltava, o povo levantou e correu pra frente do palco. O show estava mais pro final, mas a galera agitou bastante. Em Sonífera Ilha, Tony fez questão de se aproximar de Vinicius e provar acorde por acorde que sabia fazer o solo da música. Tony passou com mérito no teste, e Vinicius, que sempre pegava no pé de Tony, dizendo que ele errava o solo, ficou em êxtase e ainda saiu de lá com uma palheta do guitarrista.
Mesmo com muita vontade de promover o encontro entre Juliana e Malu Mader, as meninas resolveram nem tentar entrar no camarim, pois devido à estréia estava lotado de jornalistas e artistas.
No dia seguinte, as meninas deram continuidade ao seu roteiro turístico. No final da manhã foram ao lindo Jardim Botânico e pela tarde ao Cristo Redentor, com direito a muitas fotos e paisagens e vistas deslumbrantes. Depois que voltaram pra casa da Ju, descansaram, jantaram, se arrumaram e partiram para mais um show.
Dessa vez os ingressos eram de pista, e quando chegaram por lá tentaram encontrar o pessoal (leia-se Victor, Lismar e cia), mas acabaram se juntando a Amanda e a Priscila, amigas de longa data de Sam, vindas diretamente de Niterói. Ficaram lá conversando com entusiasmo sobre diversos assuntos, até que Alexandre Borges (sim, o ator) se aproxima. No começo ele parecia querer passar despercebido, estava de jaqueta e boné, mas depois tirou o boné e ficava encarando as meninas, enfim, estava pedindo para ser reconhecido, e assim foi feito. As meninas se aproximaram dele, trocaram uma idéia, bateram fotos e ele sempre gentil e animado.
Depois desse primeiro encontro (sim, houve outros) com Alexandre, elas voltaram aos seus lugares. A entrada dos Titãs já estava sendo anunciada, e em breve já entraria a vinheta de Mauro e Quitéria, seguida dos primeiros acordes da Melhor Banda De Todos Os Tempos. E assim se sucedeu.
O show seguiu o mesmo set list da noite anterior, mas a energia, essa era totalmente diferente. Não se sabe se foi o fato estarem de pista, e, portanto mais livres, ou o fato de terem encontrado mais amigos, ou ainda a animação dos Titãs, mais relaxados e ensaiados, mas era fato, o show de sábado foi melhor que o de sexta. Para alegria geral da nação, rolou mais uma vez a dança da pizza de Paulo Miklos, mas dessa vez sem a apresentação de Tony. Porém, Tony voltou ao microfone para dedicar Polícia à Marina Magessi, chefe da polícia carioca que estava em alguma mesa do setor A. Britto não se conteve e dessa vez incluiu o “sai do chão” em Epitáfio, e foi Britto também que em Homem Primata pediu para o povo levantar. Permissão dada, lá se foram as meninas curtir o show na frente do palco.
Final de show, o Canecão tinha alguns jornalistas e artistas, mas nada comparado à sexta. As meninas não tinham em mente entrar no camarim, até porque já tinham combinado com o pessoal de ir para um luau em Copacabana, mas Amanda usando da sua condição de parente da Malu Mader conseguiu entrar e levar as meninas junto.
O camarim estava bem cheio, e logo de cara elas viram Alexandre Borges, que nesse momento já tinha tomado umas e estava ainda mais animado, cumprimentando efusivamente todos, principalmente Paulo Miklos, que por sinal já foi seu companheiro de cena no filme O Invasor. Ele também reconheceu as meninas, e mais uma vez, se mostrou afável e simpático. Logo também elas souberam, pelo Tony, que a Malu não tinha ido ao show, pois tinha ido a um casamento, só os filhos, João e Antônio, tinha ido ver o pai. Já que não tinha Malu, Sam resolveu apresentar Ju aos outros Titãs que ela não conhecia, Paulo e Branco. Branco passou rapidamente, sem tempo para uma aproximação, já Paulo foi super carinhoso com Juliana. A garota saiu encantada com a recepção do titã-ator, que até recebeu muito bem a reclamação que ela fez, sobre o fato deles cantarem com a boca muito perto do microfone, o quê dificulta a leitura labial. Quem também ganhou a noite e um pouco mais foi a Adry, que conheceu a esposa de seu titã preferido, Charles Gavin, e ainda ganhou dele o livro Bossa Nova e Outras Bossas, de autoria do baterista.
No camarim ainda estavam Ângela Figueiredo e Joaquim, esposa e filho de Branco Mello, e José e Raquel, filho e esposa de Sérgio Britto. Aliás, José não largava do pai (ou era Britto que não largava do filho?), tanto que ele acabou saindo nas fotos que o pai tirou com as fãs. Outro que não perdia os filhos de vista era Tony Bellotto, que por uns segundos quase teve um ataque quando suspeitou que um dos seus tinha caído da escada. Sam ainda bateu um papo sobre lugares bacanas para shows em Fortaleza com Afonso, o novo segurança da banda, e já tratou de confirmar também tudo sobre o show em sua cidade. Informações que seriam passadas pra irmã imediatamente via mensagem de celular.
Depois dessa visita relâmpago ao camarim, Sam, Adry, Ju, Amanda e Priscila se dirigiram para frente do Canecão. As três primeiras estavam esperando Lismar pegar o carro no shopping ali perto para partirem para o luau. Já as duas últimas iam esperar pelo tio da Amanda para voltarem a sua cidade natal. Eis que quem foi fazer companhia às meninas? Ninguém mais, ninguém menos do que Alexandre Borges (sim, ele de novo). Ficaram lá conversando e rindo, todas naquela situação surreal de estarem batendo altos papos com um global que tinham acabado de conhecer. Alexandre, super solicito, se ofereceu pra deixar cada uma em casa, mas elas recusaram já que carona elas já tinham, e convenhamos, ele não estavam no seu estado normal. Mas depois que Lismar pegou as meninas, ele ainda fez companhia às outras duas até que o tio de Amanda chegasse, e só depois partiu num táxi.
O carro do Lismar, o famoso Santana, mais uma vez fez o milagre de comportar sete pessoas, e seguiu para as areias de Copacabana, mas antes com um pit stop básico na casa de Victor. Munidos de bebidas e salgadinhos eles se acomodaram na praia e ficaram lá até o dia amanhecer, cantando, tocando, bebendo, comendo, rindo, celebrando, dançando... Só estava proibido tocar Titãs! Mas, claro que rolou, não tinha como não rolar, e fez a alegria daquela turma toda. Sam, Adry e Ju tiveram que voltar para casa um pouco mais cedo, afinal ainda tinham um roteiro turístico para cumprir no domingo.
Acordaram e logo foram conferir o livro que a Adry tinha ganhado de Charles. Depois Adry e Ju foram numa feira em Ipanema. Sam não foi, pois estava com o pé torcido e já tinha o forçado demais nos últimos dias, preferiu poupá-lo para as próximas emoções do dia. Depois do almoço elas partiram pra conhecer o Pão de Açúcar e o Morro da Urca. Lá embarcaram no famoso bondinho, que proporcionou vistas maravilhosas. No Morro da Urca, a carioca Juliana apresentou às meninas o afamado Noites Cariocas, onde costuma ser palco de shows históricos dos Titãs.
Voltaram para casa e logo tiveram que ir ao Canecão, já que o show de domingo começava mais cedo que os anteriores, e elas ainda teriam que pegar os ingressos dados pelo Charles. Pegaram os ingressos com o Sérgio, da equipe dos Titãs, ele tinha prometido mesa, mas no final das contas disse que só tinha restado para pista. Com os ingressos nas mãos elas adentraram a casa de show. Logo na entrada encontrara com Fred, produtor da banda, e trataram de colocar o papo em dia. Sam falou com Fred sobre a Juliana e a vontade que ela tinha de encontrar com a Malu. Ele disse que não sabia se ela viria, mas que ia colocar as meninas no camarim, era só chegar perto da porta no final do show.
Já lá dentro elas escolheram o lado esquerdo da pista e lá ficaram a espera dos amigos. Foi nessa que Malu Mader apareceu, e Juliana pediu a Sam que a acompanhasse, que ela ia tentar falar com a atriz. Elas bem que tentaram se aproximar, mas Malu estava cumprimentando seus amigos pelas mesas. Foi Victor que a chamou e disse que tinha uma super fã dela ali perto. Juliana, com auxilio de Sam, começou a falar com Malu, que prontamente lembrou do primeiro encontro das duas, que tinha sido na Livraria Travessa durante o lançamento do último livro de Tony. Ju entregou um presente que a própria tinha feito para Malu, que agradeceu e bateu foto com a fã. Missão cumprida, pensou Sam, agora vamos ao show!
Adry conseguiu invadir as mesas e assistiu ao show por lá mesmo, já Sam e Ju preferiram ficar com a galera, mais longe, de frente para o palco, logo depois das mesas, perto no mezzanino. De lá elas curtiram o show com toda a animação delas e da galera, e não era pouca! Pra Sam o melhor momento foi Anjo Exterminador, ela simplesmente ama essa música, sua preferida do novo cd, e nesse show ela pode curti-la melhor, berrando e pulando ao lado dos amigos. Em Diversão não deu outra, um super coro de “ôôôôôôôôôô” entoou pelo Canecão, semelhante aos dois dias anteriores. Quando as primeiras batidas de Lugar Nenhum se anunciaram, eles tentaram se aproximar do palco, mas foram barrados pelos seguranças. Minutos depois, na música seguinte, Britto convocou quem quisesse para se levantar, que o show já estava terminando, e todos os fãs, claro, atenderam ao pedido. E lá na frente, mais uma vez banda e público comungaram.
No Bis, Tony e Paulo voltaram com a camisa do time deles, Santos, que havia sido campeão paulista naquela tarde. Foram recebidos com algumas vaias e também por camisas do Botafogo, campeão carioca.
Findado o show, uma sensação de “é o último” tomou conta de Sam, já acostumada a ter shows dos Titãs em três dias seguidos, coisa inimaginável na sua terra. Bom, mas era fato, agora era esperar a passagem deles por Fortaleza, então lá foram elas para porta do camarim, esperar as providências de Fred. E como prometido ele pediu para o cara que coordena a entrada colocar as meninas lá dentro. Querendo fazer justiça, Sam ainda conseguiu colocar alguns amigos dentro, mas logo foi repreendida pelo segurança. Além delas três, entraram Cíntia, Júlia, Bella e Victor.
No camarim do Canecão, logo na entrada, há um pátio, tem que subir uma escada para ter acesso a um cômodo e dentro desse cômodo é que tem a sala que ficam os artistas, nesse caso, onde estavam os Titãs. Então, entraram lá e se deparam com um pátio lotado! Tinha também um monte de crianças, provavelmente amiguinhos dos filhos titãs, e claro, seus respectivos pais. As crianças estavam lá super empolgadas, correndo de um lado pro outro, jogando bolinhas de papel, pousando para as máquinas fotográficas e celulares dos pais corujas, enfim, achando tudo aquilo um grande parque de diversões. Quem não estava achando aquilo divertido era o Fred, não pelas crianças, mas pelo povo que se amontoava no pé da escada e empatava a passagem, inclusive a dele. Pela primeira vez da vida Sam viu Fred sem seu super bom humor habitual.
Entre as crianças estavam João, Antonio, Joaquim e José. Antônio era o mais agitado, descia freneticamente a escada, mas teve uma hora que ele não conseguia mais subir, foi aí que Sam foi ao auxilio do pequeno, pediu para aquela enorme muralha humana cedesse espaço para ele passar, ele agradeceu a gentileza, subiu e não se atreveu mais a voltar.
Ainda lá embaixo Ju e Sam reencontraram Malu, que dessa vez foi falar com elas com mais calma, agradeceu o presente, disse que estava guardado na bolsa, mas que ainda não tinha aberto. Sam disse que o presente tinha sido feito pela própria Juliana, e assim fez Malu conferir o agrado. A atriz disse que adorou o presente, o achou bonito e útil.
Algum tempo e artistas depois, foi liberada a entrada ao camarim. Só quem estava dando sopa lá por cima era Tony e Charles, que atenderam com simpatia a todos, mas era praticamente impossível manter um diálogo com eles por mais de 2 segundos, sempre chegava alguém pedindo um autografo ou uma foto. Tony bem que tentou conversar a respeito da doença de Bell Marques com Sam, mas não tinha jeito. A mesma incapacidade se deu com o Britto, que cumprimentou rápido as meninas. Mas, pelo menos, Juliana conseguiu falar com o Branco, que pelo visto já tinha sido interado do assunto por alguém, pois já foi perguntando se era ela que lia lábios. Elas ainda viram a pequena Dora, filha de Charles, que já dormia profundamente nos braços do pai.
Visto a impossibilidade de comunicação, as meninas aos poucos foram deixando o Canecão em direção as suas casas. Tinha chegado ao fim mais uma aventura titânica, mas não da temporada carioca.
Segunda-feira, 10/04/06, era último dia de Sam no Rio, então, ela marcou de se encontrar com os amigos no Botafogo Praia Shopping para se despedirem. Eis que lá Sam encontra um dos seus grandes ídolos, não, não foi dessa vez que ela encontrou com Chico Buarque, embora ela tivesse depositado fortes esperanças quando caminhou pelo Leblon. Na verdade ela encontrou com o ator Wagner Moura, e até conseguiu manter um dialogo substancial com ele. Fechando assim com chave de ouro suas férias. Ah, sim ela estava de férias em pleno os meses de março e abril, pois tem coisas que só uma junção de faculdade federal, greve e aulas em dezembro, janeiro e fevereiro fazem por você.
Em Fortaleza ela voltou para a vida normal de estudante e estagiária, mas já contando os dias para o próximo show, que já tinha data e local marcado, só se espera que nem uma casualidade como uma dengue que acomete vocalista de banda de axé, possa estragar os planos dela e da irmã.

“Ficar bem ou mal acompanhado, não importa se der tudo errado” – Diversão (Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas – 1987]
Textos 33
Tempestades vão cair,
edifícios vão ruir.

Se todo e qualquer show dos Titãs sempre foi aguardado com ansiedade, o que dizer daquele que aconteceria em Belo Horizonte, no dia 19 de novembro de 2005? Além de marcar o retorno de Lili e Ferdi a um show da banda — após um jejum de, inacreditáveis, dez meses — o show seria também o lançamento nacional do álbum mais recente, Titãs – MTV Ao Vivo.
A ansiedade era a mesa de sempre, já as confabulações não tão intensas como em outras ocasiões. Ferdi e Lili nem tiveram tempo de traçar uma estratégia para falar com a banda. Mesmo se vendo todos os dias e tendo sabido do show com antecedência, as duas se encontravam às voltas com o fim da faculdade e o excesso de trabalho. O quê Lili não esperava é que, em meio a tanto trabalho, um deles teria tudo a ver com o show que estava por vir. Parecia um dia de labuta normal, senão fosse por um detalhe: sua editora chefe havia lhe solicitado uma matéria sobre o show. Para isso, Lili deveria contatar o produtor da banda e entrevistar um dos músicos. O quê a editora não imaginava é que o produtor era o já conhecidíssimo por Lili, Fred, e os Titãs, nada menos que a banda do coração da jovem jornalista. Pauta na mão. Mas antes de começar o trabalho, um telefonema:
— Ferdi, adivinha quem eu vou entrevistar.
— Sei lá, Lili, quem?
— Também não sei. Mas é um deles.
— Um deles?
— Dos Titãs, Ferdi, peguei a pauta do show.
— Ai que tu-do!
— Tô tensa.
— Por que? Você faz pauta de show todo dia.
— Mas são eles, né?
— Ah, você já entrevistou o Britto uma vez. Vai ser tranqüilo.
— É, tomara que seja ele de novo.
— Tomara que seja o Charles...
— Ai, ai...
Hora da entrevista. Mãos suadas. Coração acelerado.
— Alô, Fred, aqui é a Liliane. Beleza?
— E aí Lili Beleza? Como é que você tá?
— Fred, hoje é sério. Eu estou ligando d’O Tempo. Preciso entrevistar um dos Titãs.
— Ok, qual deles?
— Não tenho preferência.
— Vou chamar.
Enquanto aguardava na linha, torcendo para que o Fred não revelasse que a Lili jornalista e a Lili fã eram a mesma pessoa, ouviu o produtor dizer: “Lili, de Belo Horizonte, aquela do cabelo vermelho”. Pronto, seus planos de camuflagem havia caído por terra, e ela estava ainda mais tensa. Tensão que durou até o momento em que Tony Bellotto atendeu ao telefone e foi só simpatia. A entrevista não poderia ter sido melhor.
Sábado. 19 de novembro de 2005. Dia em que a matéria foi publicada, como reportagem de capa, do caderno de cultura do jornal O Tempo. Dia também em que aconteceria o show. Mas nem naquele dia, Lili e Ferdi tiveram uma trégua. Passaram horas trancafiadas numa sala de diagramação, diante da tela de um iMac, diagramando uma revista. Entre uma página e outra, a lembrança: “É hoje”. No meio da tarde, decidiram seguir cada uma para sua casa, combinando de se encontrarem mais tarde no Chevrolet Hall, onde aconteceria a apresentação. Assim que se despediram, uma tempestade começou a desabar dos céus belorizontinos. O que elas não imaginaram é que aquele dilúvio duraria até os últimos acordes dos Titãs no show de logo mais.
Já eram quase 21h, quando Lili seguiu para o Chevrolet, acompanhada de Trópia, um fotógrafo do jornal que faria fotos para o arquivo. Do outro lado da cidade, Ferdi e sua irmã — que iria pela primeira vez a um show da banda — se preparavam para sair.
— Tá chovendo demais. Eu não vou deixar vocês saírem agora.
— Mas, mãe, essa chuva não vai passar. A gente tem que sair agora.
— Eu e seu pai vamos levar vocês. Assim eu fico menos preocupada.
Aproveitando a boa vontade dos pais, Fernanda decidiu, imaginando que mais uma vez seria inútil, convidá-los para o show:
— Por favor, pai. Entra. Assiste. Vocês vão gostar. Só assim vocês vão entender essa minha necessidade louca de ir a tantos shows deles.
Enquanto Ferdi usava todos os argumentos para convencer aos pais de assistiram àquela apresentação, o carro da família era quase invadido pelos cambistas mais afoitos. Até hoje Fernanda não tem certeza se seus pais cederam aos apelos dela ou dos cambistas. Mas cederam.
— Tudo bem, vamos. Mais dois ingressos, por favor.
Já dentro do Chevrolet Hall, os pais de Fernanda se instalaram na arquibancada, enquanto ela e sua irmã iam se encontrar com os amigos, Lili e João 100 Religião, claro, no gargarejo.
Hora de começar. “A melhor banda de todos os tempos da última semana”, dá início àquela que seria, como as fãs concluíram depois, umas das melhores apresentações dos Titãs a que elas já assistiram. Além das músicas clássicas e das inéditas gravadas no CD e DVD, a banda ainda presenteou o público com hits ausentes na gravação, como “Marvin” e “Go Back”.
O frio que fazia do lado de fora da casa de espetáculos, por conta da chuva torrencial que ainda teimava em cair, contrastava com o calor do público enlouquecido com a performance e sucessos titânicos.
Tony Bellotto parecia profético em uma news postada no titas.net, no dia anterior: “Chegou a hora, chova ou faça sol, estremeceremos a tradicional e a não tradicional família mineira! Escalaremos as alterosas, invadiremos por terra e por ar! As pedras que calçam as calçadas de Savassi jamais serão as mesmas! Não ficará pedra sabão sobre pedra sabão! Desfolharemos as couves! Azedaremos o doce de leite!”. E ele tinha razão. Pelo menos a mais ou menos tradicional família mineira de Fernanda se estremeceu. No melhor sentido da palavra. O pai, ainda durante o show, fez questão de ligar para alguns amigos e colocá-los para ouvir algum hit pelo celular. Nos dias seguintes não poupou elogios às performances de Charles e Branco, e à música que “eles compuseram para o Lula”. “Mas não é para o Lula, pai”, tentava explicar Ferdi, sobre “Vossa Excelência”. “Mas cada um interpreta a seu modo”, retrucava o pai, um anti-petista inveterado.
Ao final do espetáculo, Lili e Ferdi seguiram, cada uma para sua casa. Realizadas. Nem pareciam as mesmas enlouquecidas para falar com a banda a qualquer custo, que um dia foram. Na manhã seguinte, nada demais. Dormiram até mais tarde para descansar do estresse dos últimos dias. Tinham decidido: nada de ir atrás dos Titãs, precisamos dormir.
Por volta do meio-dia, Fernanda se levantou e foi checar seus e-mails. Encontrou-se com Sam no MSN e descreveu para a amiga o show da noite anterior. Empolgada com os relatos de Ferdi, Sam lamentou a ausência da banda por terras cearenses e incentivou a amiga a ir falar com eles: “Ferdi, tem que aproveitar a oportunidade. Veja meu caso, eles sumiram daqui”. Era só de um empurrãozinho desses que Ferdi precisava. Ligou para Lili e em uma hora estavam as duas no já tradicional Hotel Mercure. Foi por pouco. Quando entraram no saguão se encontraram com a banda inteira, que se preparava para sair. Foi o tempo suficiente para uma conversinha rápida, fotos e, claro, para matar as saudades. Estava aberta mais uma turnê. E o começo de tudo outra vez.

“Tempestades vão cair, edifícios vão ruir” — Anjo Exterminador (Titãs, MTV Ao Vivo — 2005)
Texto 32
Nós não vamo pagar nada,
é tudo free


As confabulações começaram em janeiro, quando Paulo Miklos se apresentou em Belo Horizonte, no Pop Rock Café. É claro que Liliane estava lá e é claro que ela conversou com o músico. Durante a conversa, Paulo deixa escapar que os Titãs se apresentariam na cidade no mês de fevereiro, mas ele não sabia dar maiores detalhes.
Por telefone, Lili anuncia a boa nova para a amiga Fernanda, que estava de férias em Guarapari-ES, acompanhada das amigas Sam e Beta. Fernanda comemora a notícia, mas no dia 21, data em que os Titãs tocaram em terras capixabas, ela fica sabendo, através do Zóio, que o show que aconteceria em BH seria fechado para os funcionários de um banco.
Com a volta de Fernanda para BH, ela e Lili puderam intensificar as confabulações sobre o show, a que elas apelidaram de O Onze, isso porque o evento seria no dia 11 de fevereiro de 2005. Ao criarem o apelido elas faziam uma referência à “o onze de setembro”, “o onze de março”, embora elas não estivessem com nenhuma intenção terrorista. Mas não havia tanto o que confabular, pois elas sempre chegavam à mesma conclusão: “o jeito é ligar para o Fred”.
Ao chegar O Onze, Lili ligou para o produtor, como sempre, já que Fernanda apresenta uma certa aversão a telefones em momentos de tensão. Não foi nada dramático. Fred, como sempre muito solícito, orientou as garotas para que elas procurassem pela Eunice na entrada do Marista Hall (local do show, hoje chamado Chevrolet Hall). Nem precisaram procurar. Ao chegarem na casa, a conterrânea das meninas já estava do lado de fora, acompanhada de sua irmã e de Zóio, que logo tratou de colocar a dupla para dentro.
Ao adentrarem o Marista, Lili e Ferdi foram surpreendidas por uma estrutura bem diferente da que rola em shows convencionais. Aquilo parecia uma festa, com mesas de frios e canapés e garçons servindo bebidas. É óbvio que as duas se divertiram à beça, comendo, bebendo e rindo das dançarinas que sempre entravam no palco com alguma coreografia tosca. Assistiram ainda ao Zeca Camargo, à Cissa Guimarães e ao Taumaturgo Ferreira gravando programas institucionais para o banco. Quando sentiram que essa parte estava finalmente chegando ao fim, posicionaram-se na fila do gargarejo.
Início de show. De cara, as meninas notam algumas mudanças no set list. Elas logo imaginam que eles não tocariam todas as canções quem vinham tocando. Estavam certas. Mas cada música que continuou no repertório era saboreada com um gostinho diferente. Elas não pararam um segundo sequer, seja cantando, comentando algum fato, ou simplesmente gargalhando ao ouvir a “nova versão” que Paulo Miklos criou para sua própria música Provas de Amor. Vez ou outra Lili e Ferdi se viam no telão. Elas estavam bem na frente de um câmera-man, e isso não foi uma atitude Gina, isso foi um acidente. Acidente também foi a “palhetada” que Ferdi levou na cabeça no fim do show. Ela não viu quando Tony Bellotto defenestrou o pequeno objeto na sua direção e perdeu a chance de ter a palheta, já que estava tão lesada que outra mulher a pegou.
Fim de show. As meninas decidem ir até o Hotel Mercure dar uma aperreada na banda. Antes de saírem do Marista, porém, elas pegam alguns bombons que estavam sendo oferecidos pelos garçons, no melhor estilo festa de 15 anos. Elas perceberam que exageraram na dose quando se viram dando bombom até para o taxista que as conduziu ao Mercure.
Chegando lá, ficaram conversando com Lee Marcucci e Branco Mello, que estava a espera de alguns parentes mineiros que iriam visitá-lo. Enquanto conversavam com os dois, receberam uma incumbência de Lauro, o segurança: ele pediu que elas entregassem uma sacola com algumas garrafas de água mineral para o Charles, que havia ficado no Marista, com Fred.
Algum tempo depois chegam os dois. Fernanda trata logo de entregar a encomenda de Gavin, que senta para conversar com elas. A conversa de estende. Falaram sobre o show, sobre as gravadoras, sobre novas bandas, sobre a MTV, e até sobre filhos. Charles, o pai mais coruja, mostrou fotos da fofura da Dora e se chocou quando Fernanda lhe contou que já havia escolhido os nomes dos filhos que pretende ter: “Você é doida, menina?”, repetia ele.
O saguão do hotel estava movimentado. Branco Mello circulava com seus primos, a equipe técnica subia e descia sem parar. Até o baterista do Jota Quest, Paulinho, que estava passando uma temporada no hotel, apareceu por lá. As meninas adoraram aqueles momentos, mas ninguém saiu tão realizada de lá quanto Lili, que ganhou os óculos de Paulo Miklos de presente, além de uma revista onde havia uma foto dele com seu cachorro Jerônimo, devidamente autografada.
Elas chegam na casa de Lili e, enquanto conversam sobre os fatos do dia, pegam no sono. Às oito da manhã do dia seguinte já estão a postos novamente. O próximo destino seria, mais uma vez, o Hotel Mercure. Nem precisam esperar muito no saguão.
Os primeiros a aparecerem são Fred e Tony. Enquanto Lili e Ferdi comentam o naipe das coreografias das bailarinas que se apresentaram no Marista, Tony confessa que elas se ofereceram para dançar nos shows dos Titãs, alegando serem profissionais e que já haviam, inclusive, dançado para Zezé di Camargo & Luciano. As meninas se divertem ao imaginarem a cena. Fred aproveita o momento para dizer que Lili e Ferdi conversam durante o show inteiro, e brinca dizendo que ele era como professor, que queria todo mundo prestando a atenção no que estava acontecendo lá na frente. O próximo a descer é Charles, que retoma o assunto dos nomes dos filhos de Fernanda. Rindo ele volta a dizer que aquilo era uma maluquice. Branco Mello também aparece para se despedir das duas.
Menos de uma hora depois é a vez da turma de São Paulo aparecer. Britto surge olhando as horas e pergunta se ele foi o primeiro a descer recebendo uma resposta positiva das fãs. Depois descem Lee e Emerson. Enquanto Britto engata um papo literário com o baixista, Lili comenta com Emerson sobre o show do Funk Como Le Gusta que ela havia assistido alguns dias antes. O último a aparecer é Miklos, que ao ver Lili usando o óculos que ele mesmo deu, comenta: “Que óculos chique, hein?”.Elas se despedem de todos e aproveitam para agradecer mais uma vez à Eunice pelo “help” na entrada do show. Vão embora, a espera do próximo!

“Nós não vamo pagar nada, é tudo free...” – Aluga-se (As Dez Mais – 1999)
Texto 32
Nós não vamo pagar nada,
é tudo free

As confabulações começaram em janeiro, quando Paulo Miklos se apresentou em Belo Horizonte, no Pop Rock Café. É claro que Liliane estava lá e é claro que ela conversou com o músico. Durante a conversa, Paulo deixa escapar que os Titãs se apresentariam na cidade no mês de fevereiro, mas ele não sabia dar maiores detalhes.
Por telefone, Lili anuncia a boa nova para a amiga Fernanda, que estava de férias em Guarapari-ES, acompanhada das amigas Sam e Beta. Fernanda comemora a notícia, mas no dia 21, data em que os Titãs tocaram em terras capixabas, ela fica sabendo, através do Zóio, que o show que aconteceria em BH seria fechado para os funcionários de um banco.
Com a volta de Fernanda para BH, ela e Lili puderam intensificar as confabulações sobre o show, a que elas apelidaram de O Onze, isso porque o evento seria no dia 11 de fevereiro de 2005. Ao criarem o apelido elas faziam uma referência à “o onze de setembro”, “o onze de março”, embora elas não estivessem com nenhuma intenção terrorista. Mas não havia tanto o que confabular, pois elas sempre chegavam à mesma conclusão: “o jeito é ligar para o Fred”.
Ao chegar O Onze, Lili ligou para o produtor, como sempre, já que Fernanda apresenta uma certa aversão a telefones em momentos de tensão. Não foi nada dramático. Fred, como sempre muito solícito, orientou as garotas para que elas procurassem pela Eunice na entrada do Marista Hall (local do show, hoje chamado Chevrolet Hall). Nem precisaram procurar. Ao chegarem na casa, a conterrânea das meninas já estava do lado de fora, acompanhada de sua irmã e de Zóio, que logo tratou de colocar a dupla para dentro.
Ao adentrarem o Marista, Lili e Ferdi foram surpreendidas por uma estrutura bem diferente da que rola em shows convencionais. Aquilo parecia uma festa, com mesas de frios e canapés e garçons servindo bebidas. É óbvio que as duas se divertiram à beça, comendo, bebendo e rindo das dançarinas que sempre entravam no palco com alguma coreografia tosca. Assistiram ainda ao Zeca Camargo, à Cissa Guimarães e ao Taumaturgo Ferreira gravando programas institucionais para o banco. Quando sentiram que essa parte estava finalmente chegando ao fim, posicionaram-se na fila do gargarejo.
Início de show. De cara, as meninas notam algumas mudanças no set list. Elas logo imaginam que eles não tocariam todas as canções quem vinham tocando. Estavam certas. Mas cada música que continuou no repertório era saboreada com um gostinho diferente. Elas não pararam um segundo sequer, seja cantando, comentando algum fato, ou simplesmente gargalhando ao ouvir a “nova versão” que Paulo Miklos criou para sua própria música Provas de Amor. Vez ou outra Lili e Ferdi se viam no telão. Elas estavam bem na frente de um câmera-man, e isso não foi uma atitude Gina, isso foi um acidente. Acidente também foi a “palhetada” que Ferdi levou na cabeça no fim do show. Ela não viu quando Tony Bellotto defenestrou o pequeno objeto na sua direção e perdeu a chance de ter a palheta, já que estava tão lesada que outra mulher a pegou.
Fim de show. As meninas decidem ir até o Hotel Mercure dar uma aperreada na banda. Antes de saírem do Marista, porém, elas pegam alguns bombons que estavam sendo oferecidos pelos garçons, no melhor estilo festa de 15 anos. Elas perceberam que exageraram na dose quando se viram dando bombom até para o taxista que as conduziu ao Mercure.
Chegando lá, ficaram conversando com Lee Marcucci e Branco Mello, que estava a espera de alguns parentes mineiros que iriam visitá-lo. Enquanto conversavam com os dois, receberam uma incumbência de Lauro, o segurança: ele pediu que elas entregassem uma sacola com algumas garrafas de água mineral para o Charles, que havia ficado no Marista, com Fred.
Algum tempo depois chegam os dois. Fernanda trata logo de entregar a encomenda de Gavin, que senta para conversar com elas. A conversa de estende. Falaram sobre o show, sobre as gravadoras, sobre novas bandas, sobre a MTV, e até sobre filhos. Charles, o pai mais coruja, mostrou fotos da fofura da Dora e se chocou quando Fernanda lhe contou que já havia escolhido os nomes dos filhos que pretende ter: “Você é doida, menina?”, repetia ele.
O saguão do hotel estava movimentado. Branco Mello circulava com seus primos, a equipe técnica subia e descia sem parar. Até o baterista do Jota Quest, Paulinho, que estava passando uma temporada no hotel, apareceu por lá. As meninas adoraram aqueles momentos, mas ninguém saiu tão realizada de lá quanto Lili, que ganhou os óculos de Paulo Miklos de presente, além de uma revista onde havia uma foto dele com seu cachorro Jerônimo, devidamente autografada.
Elas chegam na casa de Lili e, enquanto conversam sobre os fatos do dia, pegam no sono. Às oito da manhã do dia seguinte já estão a postos novamente. O próximo destino seria, mais uma vez, o Hotel Mercure. Nem precisam esperar muito no saguão.
Os primeiros a aparecerem são Fred e Tony. Enquanto Lili e Ferdi comentam o naipe das coreografias das bailarinas que se apresentaram no Marista, Tony confessa que elas se ofereceram para dançar nos shows dos Titãs, alegando serem profissionais e que já haviam, inclusive, dançado para Zezé di Camargo & Luciano. As meninas se divertem ao imaginarem a cena. Fred aproveita o momento para dizer que Lili e Ferdi conversam durante o show inteiro, e brinca dizendo que ele era como professor, que queria todo mundo prestando a atenção no que estava acontecendo lá na frente. O próximo a descer é Charles, que retoma o assunto dos nomes dos filhos de Fernanda. Rindo ele volta a dizer que aquilo era uma maluquice. Branco Mello também aparece para se despedir das duas.
Menos de uma hora depois é a vez da turma de São Paulo aparecer. Britto surge olhando as horas e pergunta se ele foi o primeiro a descer recebendo uma resposta positiva das fãs. Depois descem Lee e Emerson. Enquanto Britto engata um papo literário com o baixista, Lili comenta com Emerson sobre o show do Funk Como Le Gusta que ela havia assistido alguns dias antes. O último a aparecer é Miklos, que ao ver Lili usando o óculos que ele mesmo deu, comenta: “Que óculos chique, hein?”.Elas se despedem de todos e aproveitam para agradecer mais uma vez à Eunice pelo “help” na entrada do show. Vão embora, a espera do próximo!

“Nós não vamo pagar nada, é tudo free...” – Aluga-se (As Dez Mais – 1999)
Texto 31
De ônibus ou de trem,
ninguém viaja sem

Cidade: Guarapari-ES. Data: 21 de janeiro de 2005. Local: parada de ônibus. Horário: 14h30. Quem: Samara e Fernanda. Objetivo: chegar ao aeroporto de Vitória pelo menos antes das 16h. Detalhe: uma cearense e uma mineira em território absolutamente desconhecido. Pegaram um ônibus lotado rumo à rodoviária da capital capixaba. Chegaram lá às 15h50, a probabilidade de ir de ônibus para o aeroporto e chegar na hora pretendida era nula — além de não terem tempo suficiente, nem sabiam que ônibus pegar, estavam mais perdidas que cegos em tiroteio. Solução: Táxi.
Meninas afobadas: “Moço dá para chegar ao aeroporto até 16h?”. Taxista olha para o relógio e conclui: “Não, só umas 16h10, no mínimo”. Decidiram tentar. A tensão era tanta que falavam descontroladamente, quase se tornaram amigas íntimas do motorista.
Aeroporto de Vitória, 16h05. Desceram do táxi e, segundos, depois Fernanda tem uma visão digna de “Porta da Esperança” (aquele programa antigo do Sílvio Santos): mas era só a porta do desembarque e Fred saindo de dentro dela. Conversa vai, conversa vem, Fred diz a elas que os Titãs estão pelo aeroporto, ou, pelo menos, três deles. Sam e Ferdi decidem procurá-los e acabam os encontrando. Mas Charles, Tony e Branco estavam tão na deles tomando café que as meninas julgaram inconveniente atrapalhá-los e disseram para Fred que não os tinham encontrado. O produtor foi logo dizendo que não havia problema algum em interrompê-los, então, Sam e Ferdi voltaram ao café. Assim que as viram, os três titãs se mostraram surpresos com a presença delas por ali. Charles foi logo dizendo que tinha dado um nó na cabeça: por um momento, ele não sabia mais onde estava, se em Fortaleza, Belo Horizonte ou Vitória. Tiraram algumas fotos com os ídolos, conversaram mais um pouco até que os músicos tiveram que ir embora.
Vitória, 40°, parada de ônibus em frente ao aeroporto, quase 17h. Depois de muitas informações desencontradas pegaram um ônibus para a rodoviária. Lá, quase desidratadas devido ao calor infernal, embarcaram. Como não sabiam ao certo onde descer em Guarapari, perguntaram a uma ÚNICA pessoa e uma ÚNICA vez, que ficou de avisá-las.
Durante a viagem de mais ou menos uma hora, ficaram conversando freneticamente sobre diversos assuntos com ou sem noção. Em um determinado momento foram interrompidas por uma movimentação em massa dentro do ônibus, coisas do tipo eram gritadas pelos passageiros:

— É aqui, é aqui!
— Cadê a morena que estava perguntando?
— Essa é a última parada de Guarapari.
— Ei vocês, tem que descer aqui!
— Saiam logo do ônibus.

Notaram que o lance era com elas e mais do que depressa trataram de agradecer ao pessoal pela mobilização e desceram em frente ao Tigrão (um ícone, que está para Gurapari como o Redentor está para o Rio de Janeiro). Não sabiam também como chegar até a casa de Roberta, a amiga que iria com elas para o show de logo mais. A única referência que tinham era uma igreja que não lembravam o nome e um colégio que não tinham idéia de como encontrar. Então, saíram pedindo informações ali e acolá. Detalhe: estava chovendo. Ferdi e Sam não andavam, faziam marcha atlética. Quando já estavam desistindo, encontram um ex-carteiro, que entre um comentário sobre o Ceará e uma lembrança de seus tempos áureos, as levou até o tal colégio. Assim elas chegaram — molhadas, exaustas e famintas — à casa da Beta. Era cerca 19h30. Foi o tempo de comerem algo, se ajeitarem e saírem para a segunda parte da missão.
Guarapari, Hotel Meaípe (onde se hospedou a equipe técnica dos Titãs e que ficava em frente ao local do show), por volta de 21h. Beta, Ferdi e Sam já estavam desistindo de esperar pela Paula, outra amiga que também mora em Guarapari, com uma cortesia para o show e já conformadas de terem que pagar 40 reais (cada uma!!), quando a pessoa com quem estavam batendo um papo animado sobre filhos (uma prole de seis!) ofereceu cortesias. Essa tal pessoa era o Renato, mas conhecido como Zóio, que também faz parte da equipe da banda.
Entraram, e logo na entrada foram fotografadas pela empresa de telefonia móvel Claro. Enquanto esperavam pela impressão da foto elas bateram altos papos com o pessoal da empresa. Sam, Ferdi e Beta dotadas de uma facilidade enorme de cativar as pessoas, volta e meia estavam conversando animadamente com indivíduos que tinham acabado de conhecer.
Como ainda faltava um bom tempo para começar o show, Beta aproveitou para apresentar o Multiplace Mais para as amigas, um lugar bem chique, grande e bonito. Enquanto saboreavam as suas miseras garrafinhas de água, que custava R$ 2,50(!) e conversavam, quem aparece pedindo para bater outra foto delas? A Claro, claro! Explicaram que já tinham batido no começo e tal, mas eles insistiram. Tudo, exceto o detalhe da água, faziam com que elas se sentissem muito VIPs.
Cansadas de conversar e bater fotos, resolveram fazer alguns contatos para começar a movimentar a noite, e depois de umas ligações, não é que deu certo? Conseguiram localizar Fred por telefone, que informou que havia colocado o nome das meninas numa lista, reafirmando a condição de “VIP” delas. Ou seja, mesmo sem as cortesias, elas teriam entrado de graça. Mas como já estavam lá dentro, agora, só queriam entrar no camarim. E conseguiram. As três, juntamente com Paula e outras amigas entraram, mais uma vez contaram com a ajuda de Fred, Zóio e Eunice. Foi uma pequena festa para as meninas, que aproveitaram para parabenizar Paulo Miklos que fazia aniversário naquele dia. Mas ficaram pouco tempo, pois eles ainda iam dar entrevista para uma TV local.
A grande festa daquelas amigas aconteceu mesmo na hora do show. A banda que tinha acabado de voltar de umas pequenas férias de fim de ano, provaram que já estavam em plena forma. Diversão, Vou Duvidar e Aluga-se foram alguns momentos da catarse coletiva. Claro que rolou um parabéns básico para o Paulo, puxado por Sérgio Britto antes da música Aluga-se. Na hora de Vou Duvidar, bem no começo quando o Britto canta a capela, ele cantou olhando pra as garotas e ainda pediu, entre gestos, para elas continuarem. Por um momento elas não se tocaram e ele teve que pedi de novo, coisa de fãs entretidas com um momento surreal. Quando acabou o show o táxi onde estava Ferdi, Sam e Beta, por coincidência, saiu junto com a van da banda. As garotas não satisfeitas com todos os micos que já tinham pagado até esse dia, e ainda sobre os efeitos do show, assim que passaram pela van dos caras, gritaram eufóricas alguma coisa, que até hoje não conseguem se lembrar, no mínimo fizeram questão de apagar tal mico de suas lembranças. Porém, provavelmente, eles nem chegaram a ouvir e nem viram, pois o vidro das janelas era de insulfilm.
Assim que chegaram à casa de Beta, as três amigas tiveram a idéia de gravar CDs com as fotos do show da noite para dar a eles e também colocaram algumas fotos de outros shows que Beta tinha tirado. Com isso, só foram deitar por volta 5h30. Antes de 7h30 já estavam de pé. 8h30 saíram para Vitória: Sam, Beta, Ferdi e os pais da Beta, que ofereceram uma carona às meninas. Chegaram ao hotel por volta de 9h30. Ficaram lá um tempão até o Fred aparecer. Fred perguntou pela irmã da Samara, a Marianny. E a Ferdi foi logo falando: “Acredita que ela ligou para irmã para ouvir um pouco do show”, aí ele: “Pô, que filha da p. você, deixando sua irmã na vontade!”. Samara tratou logo se explicar, dizendo que tinha sido a própria Marianny que tinha pedido para ela ligar, aliás, pedido não, praticamente obrigado! Nisso, Dona Ruth, a mãe da Beta entra no hotel e em poucos minutos ela e o Fred, que tem em comum a facilidade de fazerem amizades, já eram, praticamente, amigos de infância. Com direito até a convite da mãe da Beta para ele ir comer moqueca capixaba na casa dela, na próxima vez, convite que Fred aceitou no ato! Depois, ele teve que ir para o aeroporto, a fim de despachar as malas, e em pouco tempo foram descendo os Titãs. Entregaram o CD das fotos e explicaram tudo. Todos receberam com certa surpresa, já que já eram fotos do show da noite anterior. Elas falaram até das legendas de algumas fotos escolhidas a dedo. Britto até comentou que as legendas é que eram perigosas, mas elas tentaram tranqüilizá-lo, dizendo que eram legendas “lights”. Quando Samara foi tirar foto com os Britto e Tony, o tecladista perguntou se ela estava viajando do Ceará. Sam quase não acreditou que ele pudesse, talvez, está lhe reconhecendo. Ela tentou ser racional e falou que sim, que estava em Guarapari há uma semana e ficaria mais alguns dias. Charles, que foi o mais atencioso, perguntou várias coisas sobre CD, tais como: onde tinha sido gravado, quando, que máquina tinham usado. Ele ficou vendo os álbuns da Beta e fazendo comentários do tipo: “Eu estou parecendo o Hitler nessa foto”; “Não sou eu naquela foto, nessa sim”; “A bateria está arrumada de um jeito diferente”. Branco também se mostrou interessado no CD, perguntou se tinha nome, endereço, essas coisas, mas na verdade só tinha o nome das meninas. Os Titãs entraram na van rumo ao aeroporto e as meninas voltaram para Gurapari a tempo de comerem uma deliciosa lasanha no almoço, ainda na casa de Beta. O almoço também foi a despedida de Fernanda, que voltaria com a família para Belo Horizonte no dia seguinte.

“De ônibus ou de trem, ninguém viaja sem” – Balada De John E Yoko (Titãs – 1984)