é melhor que mentir
Era um sábado. Liliane leu no jornal que, na semana seguinte, Tony Bellotto e sua esposa, Malu Mader, viriam a Belo Horizonte para a estréia do filme “Bellini e a Esfinge”. Assim que soube da novidade ligou para sua amiga Fernanda, que, obviamente, a encheu de perguntas. “Vai ser quando?”, “Dia 25 (de fevereiro, de 2002)”, “Onde?”, “No cinema do BH Shopping”, “E é só chegar e entrar?”, “Não! No dia da exibição temos que ir até uma livraria na Savassi e pegar os ingressos. É limitado, claro”, “E o Tony e a Malu vão estar no cinema?”, “Provavelmente. Bom, eu vou ligar lá na AB Produções e me informo de tudo. Depois te ligo”.
Alguns minutos depois, Lili retorna a ligação para Ferdi. “Você não sabe o que eu descobri!”, “O quê?”, “Antes da pré-estréia do filme, o Tony e a Malu participarão de uma coletiva de imprensa lá no (Hotel) Mercure”, “Ah, legal!”, “Legal não! Ótimo! A gente vai estar lá”, “Vamos?”, “Nós nunca participamos de uma coletiva. Não deixa de ser uma experiência profissional”, “Tudo bem, mas é uma coletiva para a imprensa, e nós não somos da imprensa”, “Mas nós estudamos jornalismo”, “Lili, a gente está na faculdade de jornalismo há uma semana!”, “Isso é um detalhe. É só ligar para lá e dizer que a gente vai fazer uma matéria para o jornal da faculdade. E nem vai ser mentira, é só nós fazermos a matéria e mostrarmos lá na faculdade depois”, “Será que vai dar certo?”.
Deu certo. Lili convenceu ao pessoal da produtora de que precisava estar naquela coletiva e teve seu nome e o de sua equipe – leia-se: Fernanda – cadastrados na lista da imprensa. As duas conseguiram também o aval de um de seus professores, que achou a idéia ótima e, de fato, se interessou pela produção da matéria.
No dia do evento, as meninas saíram da faculdade e foram direto para o Hotel Mercure. Só havia um “porém” naquela história toda, como participariam da coletiva não haveria tempo para retirar os ingressos para a estréia do filme, que aconteceria mais tarde. O jeito foi contar com a sorte, que parecia estar do lado delas.
Ao chegarem no salão onde aconteceria a entrevista, Fernanda e Lili trataram de se posicionar bem na frente da bancada onde estariam Tony e Malu. Empolgaram-se ao ver que o lugar nem era tão grande assim e que poderia fazer praticamente uma exclusiva com eles. Logo no início da entrevista, as meninas notaram que eram as “jornalistas” mais inteiradas do assunto, presentes no local, e orgulhavam-se disso. Apesar da ignorância de certos repórteres, tudo transcorreu bem, graças à simpatia de Tony e Malu, e do outro casal, também presente, Theodoro Fontes (diretor do filme) e Maristane Dresh (que interpretou Beatriz, no longa).
Com o fim da coletiva, Fernanda e Lili não conseguiram se conter e se revelaram fãs de Tony. Aproveitaram a ocasião para tirarem fotos com ele e com Malu. A atriz perguntou se as meninas iriam assistir ao filme naquela noite e elas explicaram que não sabiam, já que, por estarem ali, não tiveram como adquirir os ingressos. Muito solícita e incrivelmente simpática, Malu chamou um dos organizadores daquele evento e perguntou se Fernanda e Liliane poderiam entrar sem ingresso no cinema. É claro que ele não seria louco de negar um pedido de Malu Mader e liberou a entrada das garotas.
Algumas horas depois, lá estavam elas, sentadas na primeira fila, mais uma vez diante de Tony, Malu, Theodoro e Maristane, que respondiam às perguntas do público sobre o filme. Após este momento, eles se retiraram e “Bellini e a Esfinge”, começou a ser exibido.
Até ali estava tudo perfeito para a dupla, até o celular de Fernanda tocar. Vendo que era seu pai, ela não teve outra alternativa, e teve que atender. “Que foi, pai?”, “Fernanda, eu estou na porta do BH Shopping. Você não vai sair daí, não?”, “Pai, o filme começou agora”, “Então é melhor você deixar para ver outro dia. Se esqueceu que amanhã cedo você tem aula?”. Fernanda e Liliane confabularam um pouco e decidiram ir embora. Seria realmente mais prudente deixar para ver o filme no dia seguinte. Saíram da sala andando com cautela, por causa da escuridão, mas quase caíram ao tropeçarem nos pés de algumas pessoas que estavam sentadas no chão. Ainda bem que antes de xingarem aquelas pessoas perceberam que eram, ninguém menos, que Tony e Malu. “Ei, já estão indo embora?”, perguntou a atriz. As meninas quase morreram de vergonha, afinal só estavam ali por causa da boa vontade dela. Não vendo outra saída, Fernanda acabou dizendo a verdade: “É, meu pai veio buscar a gente”, “Ah, sim, mas voltem para ver o filme depois, hein?”.
Voltaram para casa comentando cada detalhe daquele dia tão interessante, apesar do mico aos 45 do segundo tempo.
“Mas dizer a verdade é melhor que mentir” – Insensível (Televisão – 1985)
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