pule o carnaval
Não era mais de 18h quando as irmãs Marianny e Samara desceram do ônibus em frente ao hotel Marina Park em Fortaleza/CE, no dia 11 de maio de 2002. Apesar de um pouco assustadas, elas nem se importaram de não verem ninguém por lá. Tinham sido as primeiras a chegar devido à ansiedade. Não havia sido fácil convencer a mãe a deixá-las ir para o show que comemorava o aniversário do Bloco Cerveja e Cia, onde tocariam Ivete Sangalo e Titãs. A negociação com a mãe tinha começado há quase um mês, quando souberam da notícia e estavam dispostas a fazerem de tudo para ir ao show da sua banda favorita. A preocupação da progenitora era até justificável. Ela não poderia levar as filhas – na época com 15 e 17 anos – ao local do show. Era possível apenas buscá-las, por causa do seu trabalho. Mesmo assim, depois de muito implorarem, as meninas convenceram a mãe a deixá-las irem de ônibus e sozinhas. Estavam conversando, animadamente, para esquecerem o nervosismo, enquanto esperavam por Juliana, uma amiga de Samara, que também iria ao show, mais por insistência da amiga do que por vontade própria. Pouco tempo depois, elas notaram que uma porta feita de tapume se abriu. De lá saiu Tony Bellotto. As duas ficaram em estado de choque, sem saber o que fazer, Samara só conseguiu falar: “Oi Tony!” O guitarrista, que estava saindo para sua corrida diária, se desculpou com as fãs. “Eu tenho que malhar agora. Na volta te dou um autógrafo”. As duas acompanharam o ídolo com os olhos até onde puderam. Ainda tentaram bater uma foto, mas a máquina deu os primeiros sinais que não iria funcionar naquela noite.
A fila já tinha aumentado significativamente, quando Tony voltou de sua corrida. As pessoas ficaram eufóricas demais e ele não parou para o tal autógrafo que tinha prometido. As meninas não ficaram tão chateadas. Entenderam a situação e estavam felizes por terem chegado tão perto do ídolo. Até se divertiram com o burburinho que se iniciou quando o guitarrista entrou no hotel. “Nossa, o cara dos Titãs!!”. “Mas, esse não é o marido daquela atriz, a Carolina Ferraz?”. “Não, é da Malu Mader!!”, respondeu a indignada Marianny, para depois cair na gargalhada junto com a irmã. Algum tempo depois, os portões foram abertos. Sam, Mary e Juliana ficaram bem na frente. Não queriam perder nenhum lance do show. O único problema era a sandália de salto alto que Ju usava. A moça, que estava bem mais interessada no show da cantora de axé do que do grupo de rock, temia que seus pés ficassem doendo no meio daquele empurra-empurra, mas, para não assistir ao show de longe e sozinha, ela optou em ficar com as amigas, mesmo que isso significasse um certo sacrifício.
Os Titãs, que estavam em turnê com o 13º álbum de sua carreira, fizeram um show completo, tanto com sucessos radiofônicos dos vinte anos de carreira, quanto com músicas novas. Mas para aquelas duas irmãs, o momento tinha um gosto a mais. Era o primeiro show que assistiam juntas. Elas prestavam atenção em cada detalhe e faziam comentários uma no ouvido da outra, ou apenas trocando olhares. Tudo era motivo para uma catarse da dupla, que cantavam todas as letras. Pediram a baqueta ao baterista Charles Gavin, mas só receberam uma toalha, que mesmo com muito esforço, não conseguiram pegar. Preferiram saírem da briga que se iniciava pela toalha bem ao lado delas. Frustrante também foi a tentativa de ganhar uma palheta do guitarrista. Mais uma vez, um objeto valioso passou entre os dedos delas. Ainda tiveram que acompanhar Juliana, pulando ao som do axé de Ivete Sangalo.
“O show foi ótimo, vimos tudo bem de perto! Foi bem rock’n’roll, só que o único problema foi a máquina, pois o filme não passava, ai que ódio! As fotos iriam ficar ótimas! E a gente ainda viu o Tony!!! Mas não conseguimos falar direito com ele. Também quase que a gente consegue pegar palhetas e uma tolha”, disparou a irmã mais velha, quase sem respirar, quando a mãe foi buscar as filhas e a amiga na frente do local do show. A mãe e a amiga tentaram consolá-las dizendo que haveria outras oportunidades, outros shows e tudo mais. Mas nem era preciso consolá-las, elas sabiam que haveria uma próxima vez.
“Peça de joelhos, pule o carnaval” – Brasileiro (Domingo – 1995)
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