Wednesday, September 20, 2006

Texto 15
Vou andar de táxi,
vou deixar o troco

Mal amanheceu o dia, naquele 22 de setembro de 2002, e Liliane e Fernanda já estavam devidamente posicionadas no saguão do Hotel Mercure, em Belo Horizonte. Queriam tirar fotos e se despedir dos Titãs, que, na noite anterior, haviam se apresentado na cidade. Enquanto esperavam os músicos descerem comentavam sobre o show.
Os Titãs haviam feito um excelente espetáculo — apesar da péssima acústica da Arena Telemig Celular — e foram super aplaudidos por muitas crianças presentes no local, que deliraram ao som de Epitáfio, e pelos fãs. Fernanda e Liliane eram das mais empolgadas e haviam aguardado por aquele momento com muita ansiedade, afinal, não se tratava de um show qualquer: era o primeiro com Lee Marcucci no baixo, duas semanas após o desligamento de Nando Reis da banda.
No decorrer da apresentação muitas das várias curiosidades que tomavam conta da dupla foram sanadas: as músicas que Nando cantavam haviam saído do repertório, ficando apenas Marvin, em uma versão totalmente acústica. Os Titãs estavam ótimos e, definitivamente, Lee Marcucci era digno daquele posto.
Ainda durante o show, Ferdi e Lili decidiram que falariam com Lee. Elas queriam dizer para o baixista que eram fãs dos Titãs e que estavam apoiando a entrada dele na banda. E naquele momento, no hotel, encontraram a oportunidade perfeita. Conversaram com Lee e se simpatizaram ainda mais com ele, que foi extremamente receptivo e carinhoso. Falaram também com os Titãs, que mais uma vez demonstraram estar muito bem, sem nenhum indício de estarem afetados pelo recente desfalque. Despediram-se de todos e os viram deixando o hotel rumo ao Aeroporto da Pampulha.
Depois que a banda foi embora, as duas ainda ficaram algum tempo sentadas no saguão conversando, até notarem a presença de uma mala, aparentemente esquecida por ali. Pegaram e de cara concluíram que pertencia a alguém dos Titãs ou companhia, já que nela havia estampado o emblema da MTV. Não resistiram e abriram um dos bolsos da mala, a fim de descobrirem quem era o dono. Nem foi preciso revirar muito, já que logo encontraram um documento de carro e lá estava: Antônio Luis Marcucci. Olharam uma para a outra e falaram simultaneamente: é a mala do Lee!
Rapidamente, confabularam sobre que decisão tomar e concluíram que o mais prudente seria ligar para o celular do Lauro, segurança da banda. Lili foi a encarregada de fazer o “serviço”. Ela falou com Lauro sobre a mala, sem revelar, é claro, que já haviam aberto. Pôde ouvir quando o segurança perguntou para aos músicos, que estavam numa van, se alguém havia esquecido uma mala, e Lee Marcucci responder: “Ai, fui eu!”.
Não havia a possibilidade da van voltar ao hotel, já que estavam atrasados para o vôo. Então, Lauro pediu para que as meninas pegassem um táxi e fossem até o aeroporto, o mais rápido possível, levando a mala. E foi o que elas fizeram. Entraram num táxi e ordenaram que o motorista “voasse” para a Pampulha. Como Fernanda e Liliane tem um peculiar magnetismo com pessoas bizarras, pegaram logo um motorista absolutamente lunático, que se dizia compositor de blues e cantava sem parar suas próprias músicas. Só depois de algum tempo é que ele percebeu que elas estavam realmente desesperadas e para ajudá-las atravessou para outra pista passando por cima de um canteiro e em cinco minutos chegaram ao aeroporto. Parecia última cena de filme da Sessão da Tarde. Liliane e Fernanda correndo com a mala na mão, Lee, Lauro e Emerson fazendo cara de alívio ao vê-las, e o taxista atrás delas cantando seus blues. É possível que ele tenha ficado com medo de que elas não pagassem, já que saíram super afoitas do táxi. Mas é claro que elas pagaram. Ou melhor, o Emerson Villani pagou, como uma forma de compensá-las pelo favor. Sim, foi o Emerson quem pagou, e não o Lee, que estava sem dinheiro.
Voltaram para suas casas tendo compulsivas crises de riso sobre a inusitada seqüência de cenas que haviam acabado de vivenciar. Nunca se esqueceriam do dia em que o novo baixista se tornou o protagonista de uma de suas histórias.

“Vou andar de táxi, vou deixar o troco” – Tudo Em Dia (Domingo – 1995)

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