Wednesday, September 20, 2006

Texto 16
Não importa o que você fez,
há sempre uma próxima vez

Era outubro de 2002. Segundo dia da segunda edição do Festival Ceará Music que rolava no hotel Marina Park em Fortaleza. Apesar de cansadas dos shows que tinham curtido na noite anterior, entre eles do Capital Inicial e d’O Rappa, Samara e Marianny chegaram ao local antes de 13h30. As irmãs, além de quererem garantir um lugar bem na frente do palco, iam também tentar encontrar com os Titãs no hotel. Trataram logo de entrar em contato com o Bruno, um produtor que haviam conhecido no dia anterior. Com ele, ficaram sabendo que o grupo chegaria por volta das 14h e o fizeram prometer que ele as avisaria assim que os Titãs chegassem. Elas voltaram para fila e, algum tempo depois, Bruno veio dizer que parte do grupo havia chegado ao hotel. Informou, também, que o baterista Charles Gavin não viria para show, pois sua filha estava para nascer. O tal produtor não pode acompanhá-las, pois teria que resolver outras coisas. Foram, então, para frente do hotel, mas ficaram com receio de entrar e serem barradas. Neste momento, o ônibus que trazia o pessoal do CPM 22 chegou. Elas, espertamente, aproveitaram o embalo, se misturaram ao bando e entraram com eles no hotel.
Procuraram pelos Titãs no meio daquela multidão de músicos, produtores e hóspedes, mas não encontraram. Entre aquelas pessoas dois atores chamaram a atenção delas por características bem opostas: Marcio Kieling e Sérgio Marone, o primeiro elas acharam baixinho e sem graça, o segundo alto demais e desproporcional. Realmente, na TV, as coisas eram diferentes. Começaram a fazer comentários engraçados sobre os atores e outros artistas que estavam no saguão para disfarçar a decepção por não encontrarem, mais uma vez, com seus ídolos. Quase não notaram quando Sérgio Britto e Paulo Miklos desceram. Eles, por algum motivo, não conseguiram entrar nos respectivos quartos e voltaram para o hall. As duas ficaram ainda mais nervosas do que já estavam. Demoraram alguns minutos para terem coragem de falar com eles. As duas só conseguiam repetir compulsivamente que gostavam muito da banda. Enquanto batiam fotos e pegavam autógrafos dos ídolos, apareceu mais um fã dos Titãs por lá. Um garoto inquieto e nervoso que carregava a tiracolo um exemplar do livro BR 163, de Tony Bellotto. O rapaz pediu para as meninas tirarem fotos dele com os caras e, também, para que Britto autografasse o livro. O tecladista ficou visivelmente desconfortável com a situação, alegava que o livro era do Bellotto, mas, diante da insistência do rapaz, teve que deixar sua assinatura no tal livro. Ainda falaram com Emerson Villani e Lee Marcucci, os membros honorários dos Titãs.
Voltaram para fila, e lá tiveram o primeiro contato com as amigas Talita e Hegly, também fãs da banda. Como as fãs se reconheceram, não se sabe, mas já emendaram de imediato um papo sobre Titãs, óbvio. Pouco depois os portões se abriram, e elas trataram de correr, mas quando estavam chegando perto do palco desanimaram, toda a frente já estava ocupada. Mas nem tudo estava perdido: dois seguranças chamaram por elas. Eles haviam guardado o lugar das meninas, que, ali perceberam, que chegar bem cedo e fazer amizade com produtores e seguranças do evento tem lá suas vantagens.
Já devidamente acomodadas em seus lugares privilegiados, só restava esperar pela grande atração da noite, pelo menos para elas. Antes, shows dos Raimundos, Charlie Brown Jr. e Engenheiros do Hawaii. Os Titãs foram chamados ao palco e os primeiros acordes de Aluga-se invadiram o Marina Park. Estava dado o sinal para o começo da festa das irmãs. Acompanharam cada música como se saboreassem alguma iguaria rara. Elas ainda levaram um cartaz pedindo a palheta de Tony Bellotto, ele leu com um certo esforço, fez sinal que já daria, e algum tempo depois, jogou o “souvenir” para as meninas. Apesar do mico do cartaz elas saíram com uma lembrança a mais daquele grande dia.
Chegaram em casa cheias de novidades para contar a mãe, mas ela não estava lá muito interessada nas estripulias das filhas. Trataram de dormir um pouco, pois já tinham decidido que iam ao aeroporto assim que amanhecesse.
Chegaram lá por volta das 11h30. Enquanto esperavam pelos Titãs viram o pessoal do Los Hermanos e Jota Quest, com quem viveram situações, no mínimo, inusitadas. Primeiro o cantor Rogério Flausino passou bem na frente delas. Samara nem percebeu quando Mary parou o cantor para pedir um autógrafo, por isso virou-se para ela para comentar algo sobre ele e deu de cara com o músico bem na sua frente. Elas estavam sentadas e Rogério em pé, quem via a cena podia até pensar que elas eram as artistas. O cantor até falou: “Marianny, você está muito calma, né? Eu não. Estou apressado, fiquei para trás”. Samara quase morreu de vergonha, e tratou de passar aquele sermão na irmã mais nova, mas em pouco tempo as duas já estavam rindo da situação. Já o vocalista do Los Hermanos, Marcelo Camelo, também ficou para trás dando autógrafos para fãs, e se perdeu do seu pessoal. Ele já ia saindo para o lado errado, quando Samara decidiu ir até ele e informar o caminho certo, ele agradeceu e falou: “Você salvou o show, eu estava perdidão!”.
Os Titãs chegaram pouco mais de 13h. O primeiro que viram foi o Emerson, logo após Paulo e Britto. Marianny, com seu jeito expansivo, foi logo dizendo que eles não tinham reparado nelas durante o show e nem jogado toalhas. Britto riu, sem jeito, e disse que não dava para ver ninguém e Paulo, sempre brincalhão falou: “Mulher, eu lembrei sim, sua ingrata!”. Samara quase fuzilou a irmã com um olhar inquisidor. Mas, ao invés de brigar com Mary na frente de todos, preferiu perguntar pelos outros. Britto, como resposta, apontou para Tony, que estava logo mais a frente. Foram falar com o guitarrista, que sorridente e atencioso as atendeu muito bem. Autografou CDs e os livros dele que Samara levou. Conversaram um pouco sobre o personagem de seus livros, Remo Bellini e sobre a filha de Charles Gavin, que viria a nascer alguns dias depois. Elas acabaram se entregando ao afirmarem que eram elas mesmas as garotas do cartaz, que pediram sua palheta. Enquanto isso, sempre aparecia alguém pra pedir um autógrafo a Tony. Uma dessas pessoas foi uma adolescente que não gostou da caligrafia do músico e pediu que ele autografasse de novo. As meninas acharam um absurdo, mas Tony nem ligou. Depois foram falar com o Branco e, com ele, o assunto rendeu mais. Falaram do site, recém inaugurado, do show, da ópera rock infantil que ele estava lançando. Elas pensaram que não encontrariam mais com Tony e haviam se esquecido de entregar um presente que tinham comprado para o guitarrista — um colar que tinha como pingente uma guitarra. Branco se disponibilizou a entregar o tal presentinho. Depois Paulo apareceu, elas pegaram mais autógrafos e tiraram mais fotos. O assunto com ele foi a rouquidão apresentada por Marianny. “Tudo culpa do show”, justificou ela. Ficaram lá na cola dele, e foi aí que conheceram Frederico Fonseca, produtor da banda. Fred, simpático e falante como ninguém deixou as meninas à vontade e, ali mesmo, engataram um papo animado até a chegada de Tony, que veio com uma sacola com livros. “Ele já foi comprar livros?”, perguntou Mary. “É, ele é viciado”, Paulo respondeu. Todos riram e Tony, sem saber que ele era a piada, cumprimentou as meninas, para a alegria delas, com um espontâneo sorriso e exclamou: “Milhas leitoras!”. Bateram mais algumas fotos com os ídolos, tendo, dessa vez, Fred como fotógrafo.
Antes de se despedirem, Marianny (ela de novo!) ressuscitou o primeiro encontro das meninas com Tony. Há alguns meses, as duas estavam na fila para o show quando o guitarrista passou para fazer sua corrida diária, e acabou não atendendo as meninas. Tony se desculpou e disse que, quando está correndo, não dá para parar, mas perguntou se agora ele não estava atendendo bem. Claro que elas disseram “sim”! Tinha sido uma tarde e tanto. Os seus ídolos, além de tudo, eram simpáticos! Só Marianny que teve que agüentar alguns sermões da irmã, pela sua cara de pau — para não dizer inconveniência — ­em determinados momentos.

“Não importa o que você fez, há sempre uma próxima vez” - O Fácil é o Certo (Tudo ao Mesmo Tempo Agora – 1991)

1 Palavras:

Anonymous Anonymous said...

Eu lembro desse show,mas pena q eu naum fui,esse ano provavelmente estarei lá.
Gostei muito dessa parte,essas coisas são comuns com qualquer fã..hehe.A parte do aeroporto foi a melhor,auhsuahsuha
xD

11:27 AM  

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