família ah, família
No dia 29 de março de 2003 o Beach Park, parque aquático que fica nos arredores de Fortaleza, seria o cenário da grande confraternização de amigos, que tinham uma coisa em comum: a admiração pela banda Titãs.
Pouco mais de uma semana antes desse acontecimento, Marúsia, mais conhecida como Nina, tinha marcado um encontro com Samara, que só conhecia por telefonemas e e-mails. Nina tinha se tornado há pouco tempo representante cearense do fã clube Força Titânica e estava recrutando todos os fãs para uma reunião antes do show da banda, que aconteceria no fim do mês. Telefonou e mandou e-mails para mais ou menos 20 pessoas, até então a quantidade de sócios cearenses. O local escolhido foi o Centro Cultural Dragão do Mar, na praia de Iracema perto do centro de Fortaleza. No sábado 15 de março, o dia do encontro, só compareceram no Dragão: Nina, Ana Patrícia e as irmãs Samara e Marianny. As quatro, logo de cara, se deram bem e já arquitetaram todos os planos até o dia do show. O único empecilho que encontraram era o transporte para o Beach Park.
Naquela mesma noite, em uma pizzaria, aconteceu uma pequena comemoração familiar pelo aniversário de Samara, que tinha completado 18 anos no dia anterior. Durante o jantar, as irmãs resolveram colocar o assunto do show à mesa. Margarida, a tia das meninas, se compadeceu com as sobrinhas que não tinham como ir ao show e, animadamente, se ofereceu para levá-las. Margarida também gostava do som da banda e há séculos, como ela mesmo disse, não ia a um show. Alegria geral das meninas, tudo estava acertado para o grande dia.
Um dia antes do show chegou a Fortaleza Eduardo, mais conhecido como Edu Kleiderman vindo diretamente, de João Pessoa/PB. Ele, que também fazia parte do Força Titânica, marcou um encontro com as meninas em um shopping. Edu aproveitou para combinar os últimos detalhes para o dia seguinte. Naquela madrugada, ele ainda iria ao aeroporto esperar pela banda.
No dia do show, quase no fim da tarde, Margarida chegou à casa das sobrinhas e as três juntas foram buscar Nina. Já em quatro e, devidamente, uniformizadas com a blusa do fã clube, saíram em direção ao local do show. No meio do caminho pegaram um engarrafamento daqueles e quase bateram o carro, quer dizer, quase outro carro batia no delas. Ao chegarem ainda tiveram a árdua tarefa de encontrar um local para estacionar. Mas perto da entrada não tinha mais vaga alguma, o jeito era colocar o carro num local mais distante e descerem a ladeira a pé mesmo.
Enquanto desciam, elas levavam cantadas fuleiras, e devido à camisa que estavam usando, eram galanteios do tipo: “Deixa eu te mostrar a minha força romântica”. Marianny, a mais esquentada do grupo, respondia a altura, as outras nem ligavam e até riam da situação. Já na entrada se depararam com outro problema: faltava o ingresso para tia Margarida. Edu tinha ficado de arranjar, mas ele ainda não havia nem chegado. Então, ficou resolvido que Margarida e Marianny esperariam por ele, e as outras duas entrariam pra guardar os lugares, já que o show da banda de abertura já tinha começado. Lá dentro, Samara e Nina tentavam se desviar dos banhistas bêbados que passavam de um lado para o outro. Queriam encontrar seus lugares ao sol, ou melhor dizendo, em frente ao palco. Lá, conheceram Tatiana, mais uma fã da banda, e as três, em pouco tempo, já engataram uma conversa. O show de abertura terminou e nada do Edu. As meninas de dentro telefonavam angustiadas para as que tinham ficado do lado de fora, já mandando elas comprarem ingresso dos cambistas, mas quando o locutor ia anunciar os Titãs, finalmente, aparecem as duas acompanhadas de Edu e Ivan.
Todos apostos para o grande momento! Aqueles amigos se divertiram, cantaram, dançaram, pularam e quase foram à loucura quando Branco Mello falou o nome do fã-clube e Paulo Miklos pegou a bandeira do Força Ceará, a primeira das muitas que iam surgir pelo país a fora. Quando o show terminou, Edu tentou fazer contato pelo celular com o pessoal da equipe da banda, para ver se conseguia entrar no camarim. Foram todos, então, para porta que dava acesso ao local, muito bem protegida por seguranças que não permitiam, de jeito nenhum, que entrassem.
O Chiclete com Banana, a outra banda da noite, já estava se preparando para entrar, quando saíram da tal porta homens levando bandejas com alguns sanduíches. Um grupo de pessoas famintas (ou não) atacou esses homens. Samara e Tatiane aproveitaram a confusão para entrarem por aquela porta. Conseguiram e, logo de cara, viram Tony Bellotto, foram falar com ele para ver se conseguiam que os outros entrassem, mas o músico alegou que a banda já estava de saída para o hotel. As meninas voltaram e contaram as novidades aos amigos. Evidente que eles não ficaram para vê o show do Chiclete e trataram de voltar para casa. Ainda era cedo, não era nem meia-noite, iam aproveitar para descansar antes de partirem para segunda parte da aventura.
Na manhã seguinte, Margarida alegou que não poderia ir com as meninas para o aeroporto, pois tinha que cuidar das filhas, mas não deixou de pedir um favor a elas: “Peçam um autógrafo do Tony para Natália”. Natália, a filha mais velha de Margarida, na época com seis anos, era fã do programa Afinando a Língua apresentado por Tony Bellotto. Um certo dia, Natália, que brincava no quarto das primas, parou para prestar atenção em um pôster dos Titãs que tinha no quarto, e logo ela identificou o guitarrista, apontou e falou com convicção: “Esse é o homem que correge (sic) as palavras!”. Hoje, já com nove anos, Natália pede às primas que não comentem com ninguém essa pequena gafe que cometeu aos seis aninhos.
Edu não ia aeroporto, pois precisava voltar para João Pessoa. Foram apenas Samara, Marianny, Nina, Ana Patrícia e Hayla, mãe de Nina. Elas ficaram conversando e relembrando o show da noite passada até a chegada da banda. Os primeiros a chegar foram “os cariocas” Tony, Branco e Charles. Conversa, autógrafos e fotos com a bandeira. Samara e Marianny não se esqueceram de pedir o autógrafo para prima e, para isso, contaram a tal história a Tony, o homem que “correge” as palavras. Depois, eles foram comer em uma das lanchonetes do aeroporto. E elas aproveitaram que era hora do almoço e, como estavam com fome, também fizerem um lanche.
Ana Patrícia teve que deixar o grupo, que continuou por lá esperando pelo restante da banda. O primeiro a chegar foi Paulo Miklos, que não pode se dedicar muito aos autógrafos, pois estava com o braço quebrado, mas não escapou de tirar foto com a bandeira do fã clube também. O último a chegar foi Sérgio Britto. Mesmo atrasado, ele ainda dedicou alguns minutos com as fãs, tempo suficiente apenas para tirar uma foto com a tal bandeira. Todas saíram de lá contentes e cansadas. Aquela aventura foi o pontapé inicial para a criação do site do Força Ceará, também o pioneiro entre os estados.
“Família ê, família ah, família” – Família (Cabeça Dinossauro – 1986)
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