Wednesday, October 04, 2006

Texto 31
De ônibus ou de trem,
ninguém viaja sem

Cidade: Guarapari-ES. Data: 21 de janeiro de 2005. Local: parada de ônibus. Horário: 14h30. Quem: Samara e Fernanda. Objetivo: chegar ao aeroporto de Vitória pelo menos antes das 16h. Detalhe: uma cearense e uma mineira em território absolutamente desconhecido. Pegaram um ônibus lotado rumo à rodoviária da capital capixaba. Chegaram lá às 15h50, a probabilidade de ir de ônibus para o aeroporto e chegar na hora pretendida era nula — além de não terem tempo suficiente, nem sabiam que ônibus pegar, estavam mais perdidas que cegos em tiroteio. Solução: Táxi.
Meninas afobadas: “Moço dá para chegar ao aeroporto até 16h?”. Taxista olha para o relógio e conclui: “Não, só umas 16h10, no mínimo”. Decidiram tentar. A tensão era tanta que falavam descontroladamente, quase se tornaram amigas íntimas do motorista.
Aeroporto de Vitória, 16h05. Desceram do táxi e, segundos, depois Fernanda tem uma visão digna de “Porta da Esperança” (aquele programa antigo do Sílvio Santos): mas era só a porta do desembarque e Fred saindo de dentro dela. Conversa vai, conversa vem, Fred diz a elas que os Titãs estão pelo aeroporto, ou, pelo menos, três deles. Sam e Ferdi decidem procurá-los e acabam os encontrando. Mas Charles, Tony e Branco estavam tão na deles tomando café que as meninas julgaram inconveniente atrapalhá-los e disseram para Fred que não os tinham encontrado. O produtor foi logo dizendo que não havia problema algum em interrompê-los, então, Sam e Ferdi voltaram ao café. Assim que as viram, os três titãs se mostraram surpresos com a presença delas por ali. Charles foi logo dizendo que tinha dado um nó na cabeça: por um momento, ele não sabia mais onde estava, se em Fortaleza, Belo Horizonte ou Vitória. Tiraram algumas fotos com os ídolos, conversaram mais um pouco até que os músicos tiveram que ir embora.
Vitória, 40°, parada de ônibus em frente ao aeroporto, quase 17h. Depois de muitas informações desencontradas pegaram um ônibus para a rodoviária. Lá, quase desidratadas devido ao calor infernal, embarcaram. Como não sabiam ao certo onde descer em Guarapari, perguntaram a uma ÚNICA pessoa e uma ÚNICA vez, que ficou de avisá-las.
Durante a viagem de mais ou menos uma hora, ficaram conversando freneticamente sobre diversos assuntos com ou sem noção. Em um determinado momento foram interrompidas por uma movimentação em massa dentro do ônibus, coisas do tipo eram gritadas pelos passageiros:

— É aqui, é aqui!
— Cadê a morena que estava perguntando?
— Essa é a última parada de Guarapari.
— Ei vocês, tem que descer aqui!
— Saiam logo do ônibus.

Notaram que o lance era com elas e mais do que depressa trataram de agradecer ao pessoal pela mobilização e desceram em frente ao Tigrão (um ícone, que está para Gurapari como o Redentor está para o Rio de Janeiro). Não sabiam também como chegar até a casa de Roberta, a amiga que iria com elas para o show de logo mais. A única referência que tinham era uma igreja que não lembravam o nome e um colégio que não tinham idéia de como encontrar. Então, saíram pedindo informações ali e acolá. Detalhe: estava chovendo. Ferdi e Sam não andavam, faziam marcha atlética. Quando já estavam desistindo, encontram um ex-carteiro, que entre um comentário sobre o Ceará e uma lembrança de seus tempos áureos, as levou até o tal colégio. Assim elas chegaram — molhadas, exaustas e famintas — à casa da Beta. Era cerca 19h30. Foi o tempo de comerem algo, se ajeitarem e saírem para a segunda parte da missão.
Guarapari, Hotel Meaípe (onde se hospedou a equipe técnica dos Titãs e que ficava em frente ao local do show), por volta de 21h. Beta, Ferdi e Sam já estavam desistindo de esperar pela Paula, outra amiga que também mora em Guarapari, com uma cortesia para o show e já conformadas de terem que pagar 40 reais (cada uma!!), quando a pessoa com quem estavam batendo um papo animado sobre filhos (uma prole de seis!) ofereceu cortesias. Essa tal pessoa era o Renato, mas conhecido como Zóio, que também faz parte da equipe da banda.
Entraram, e logo na entrada foram fotografadas pela empresa de telefonia móvel Claro. Enquanto esperavam pela impressão da foto elas bateram altos papos com o pessoal da empresa. Sam, Ferdi e Beta dotadas de uma facilidade enorme de cativar as pessoas, volta e meia estavam conversando animadamente com indivíduos que tinham acabado de conhecer.
Como ainda faltava um bom tempo para começar o show, Beta aproveitou para apresentar o Multiplace Mais para as amigas, um lugar bem chique, grande e bonito. Enquanto saboreavam as suas miseras garrafinhas de água, que custava R$ 2,50(!) e conversavam, quem aparece pedindo para bater outra foto delas? A Claro, claro! Explicaram que já tinham batido no começo e tal, mas eles insistiram. Tudo, exceto o detalhe da água, faziam com que elas se sentissem muito VIPs.
Cansadas de conversar e bater fotos, resolveram fazer alguns contatos para começar a movimentar a noite, e depois de umas ligações, não é que deu certo? Conseguiram localizar Fred por telefone, que informou que havia colocado o nome das meninas numa lista, reafirmando a condição de “VIP” delas. Ou seja, mesmo sem as cortesias, elas teriam entrado de graça. Mas como já estavam lá dentro, agora, só queriam entrar no camarim. E conseguiram. As três, juntamente com Paula e outras amigas entraram, mais uma vez contaram com a ajuda de Fred, Zóio e Eunice. Foi uma pequena festa para as meninas, que aproveitaram para parabenizar Paulo Miklos que fazia aniversário naquele dia. Mas ficaram pouco tempo, pois eles ainda iam dar entrevista para uma TV local.
A grande festa daquelas amigas aconteceu mesmo na hora do show. A banda que tinha acabado de voltar de umas pequenas férias de fim de ano, provaram que já estavam em plena forma. Diversão, Vou Duvidar e Aluga-se foram alguns momentos da catarse coletiva. Claro que rolou um parabéns básico para o Paulo, puxado por Sérgio Britto antes da música Aluga-se. Na hora de Vou Duvidar, bem no começo quando o Britto canta a capela, ele cantou olhando pra as garotas e ainda pediu, entre gestos, para elas continuarem. Por um momento elas não se tocaram e ele teve que pedi de novo, coisa de fãs entretidas com um momento surreal. Quando acabou o show o táxi onde estava Ferdi, Sam e Beta, por coincidência, saiu junto com a van da banda. As garotas não satisfeitas com todos os micos que já tinham pagado até esse dia, e ainda sobre os efeitos do show, assim que passaram pela van dos caras, gritaram eufóricas alguma coisa, que até hoje não conseguem se lembrar, no mínimo fizeram questão de apagar tal mico de suas lembranças. Porém, provavelmente, eles nem chegaram a ouvir e nem viram, pois o vidro das janelas era de insulfilm.
Assim que chegaram à casa de Beta, as três amigas tiveram a idéia de gravar CDs com as fotos do show da noite para dar a eles e também colocaram algumas fotos de outros shows que Beta tinha tirado. Com isso, só foram deitar por volta 5h30. Antes de 7h30 já estavam de pé. 8h30 saíram para Vitória: Sam, Beta, Ferdi e os pais da Beta, que ofereceram uma carona às meninas. Chegaram ao hotel por volta de 9h30. Ficaram lá um tempão até o Fred aparecer. Fred perguntou pela irmã da Samara, a Marianny. E a Ferdi foi logo falando: “Acredita que ela ligou para irmã para ouvir um pouco do show”, aí ele: “Pô, que filha da p. você, deixando sua irmã na vontade!”. Samara tratou logo se explicar, dizendo que tinha sido a própria Marianny que tinha pedido para ela ligar, aliás, pedido não, praticamente obrigado! Nisso, Dona Ruth, a mãe da Beta entra no hotel e em poucos minutos ela e o Fred, que tem em comum a facilidade de fazerem amizades, já eram, praticamente, amigos de infância. Com direito até a convite da mãe da Beta para ele ir comer moqueca capixaba na casa dela, na próxima vez, convite que Fred aceitou no ato! Depois, ele teve que ir para o aeroporto, a fim de despachar as malas, e em pouco tempo foram descendo os Titãs. Entregaram o CD das fotos e explicaram tudo. Todos receberam com certa surpresa, já que já eram fotos do show da noite anterior. Elas falaram até das legendas de algumas fotos escolhidas a dedo. Britto até comentou que as legendas é que eram perigosas, mas elas tentaram tranqüilizá-lo, dizendo que eram legendas “lights”. Quando Samara foi tirar foto com os Britto e Tony, o tecladista perguntou se ela estava viajando do Ceará. Sam quase não acreditou que ele pudesse, talvez, está lhe reconhecendo. Ela tentou ser racional e falou que sim, que estava em Guarapari há uma semana e ficaria mais alguns dias. Charles, que foi o mais atencioso, perguntou várias coisas sobre CD, tais como: onde tinha sido gravado, quando, que máquina tinham usado. Ele ficou vendo os álbuns da Beta e fazendo comentários do tipo: “Eu estou parecendo o Hitler nessa foto”; “Não sou eu naquela foto, nessa sim”; “A bateria está arrumada de um jeito diferente”. Branco também se mostrou interessado no CD, perguntou se tinha nome, endereço, essas coisas, mas na verdade só tinha o nome das meninas. Os Titãs entraram na van rumo ao aeroporto e as meninas voltaram para Gurapari a tempo de comerem uma deliciosa lasanha no almoço, ainda na casa de Beta. O almoço também foi a despedida de Fernanda, que voltaria com a família para Belo Horizonte no dia seguinte.

“De ônibus ou de trem, ninguém viaja sem” – Balada De John E Yoko (Titãs – 1984)

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