Wednesday, September 27, 2006

Texto 26
Eu sei que ela
pode te prender


Os tempos eram bem outros. Fernanda e Liliane não tinham mais que passar por aqueles longos períodos de seca titânica, esperando que os ídolos viessem tocar em Belo Horizonte, o habitat natural da dupla. De posse das respectivas independências, elas podiam sair em sua própria turnê. Cidades próximas, interior de Minas, outros estados... Qual seria a próxima parada?
Mas, o 23 de abril de 2004 nem exigia maiores esforços viajantes. Tinha show dos Titãs, sim, mas não seria preciso ultrapassar o perímetro urbano da capital mineira para vê-los. Era só chegar ali no Marista Hall que já estaria tudo resolvido. Dessa vez, quem acabou cruzando fronteiras foi uma turma de amigos cariocas. A confraternização com aquelas pessoas tão queridas, mas geograficamente distantes, era mais um motivo para fazer daquele um show especial. A bordo de dois carros — um simpático Uno e um “possante” Santana , uma comitiva de dez pessoas cruzou a avenida Nossa Senhora do Carmo e fez horrores na platéia enquanto os Titãs detonavam no palco com uma apresentação cheia de energia.
Fim de show. Suados, descabelados, cansados, a trupe se divide para ir embora. Seis no Santana, quatro no Uno. Santana arranca na frente, com cinco forasteiros como passageiros e uma nativa, Fernanda. Liliane e mais três conterrâneos iam logo atrás, no Uno. Ainda na Nossa Senhora do Carmo, Liliane, uma atleticana fanática, avista um bar cheio de cruzeirenses, seus arqui-rivais futebolísticos. Do banco do passageiro, onde estava displicentemente sentada, Liliane não se detém e grita: “BICHAS!!!”. Tudo era, na verdade, uma grande brincadeira para hostilizar Leandro, o amigo que estava bem a seu lado e servia de motorista naquela noite. Entre risadas e troca de farpas amigáveis, os tripulantes do Uno continuavam seu rumo, logo atrás do Santana. Eis que sirenes e gritos de policiais os obrigaram a parar.
— Todo mundo! Desce do carro! Mão na cabeça!
Sem entender nada, descem Liliane e seus três companheiros, enquanto, sem perceber nada, a turma do Santana continua seu caminho. Três policiais apontam as armas contra o quarteto. Começa o interrogatório.
— Quem é que tava gritando da janela?
A interrogação continuava no ar. Um dos “delicados” policiais se aproxima de Kelly, uma das outras passageiras, e a aponta como a delinqüente. Numa espécie de banco dos réus, ela tenta protestar. Em vão: tinha conquistado uma afonia de tanto gritar no show que acabara de sair. Foi aí que Liliane teve um clique. “Quem gritou na janela?”, repetiu a pergunta para si mesma, em silêncio. Teve uma espécie de flashback. Era ela própria quem tinha gritado. Percebendo a confusão em que a amiga estava prestes a se meter, Liliane resolveu assumir logo a culpa. “Fui eu”, declarou, totalmente decidida — o que não era bem sinônimo de “destemida”.
Momentos de tensão. Enquanto, totalmente apavorado, o motorista Leandro confessava que havia, sim, bebido uma ou duas cervejas, Liliane tentava convencer dois dos policiais de que, não, não era baderneira. E que, não, ao contrário do que eles pensavam, ela não tinha os xingado. “Eu não vi que vocês estavam fazendo blitz. Não era para vocês, era uma brincadeira entre cruzeirenses e atleticanos. Era uma brincadeira, tinha um bar, uma mesa cheia de cruzeirenses. Eu, atleticana. Leandro, cruzeirense. Eu só brincando. Não vi vocês. Nunca que eu iria ofender a polícia. Imagina, logo eu, que trabalho em jornal, e conto tanto com a ajuda de vocês da polícia, vocês são tão bons, tão corretos, nos informam tanto, protegem...” — só faltou fazer um coração com os dizeres “I love PM”. E lá se foram, mais ou menos, uns 40 minutos de um blábláblá sem fim, que, porém, não chegava a ser falso. Realmente, Liliane não tinha os visto. Não seria louca o suficiente para ofender policiais. Desacato à autoridade não está dentro de suas ilicitudes favoritas. Já a parte do “ah, como eu adoro a polícia... como vocês são fundamentais no processo de construção da notícia”... Mal sabiam eles que Liliane nunca lidava com soldados — os evitava, aliás — e em seu trabalho, no caderno de cultura de um grande jornal, eles eram ignorados solenemente, sem a menor culpa.
Sentindo-se uma bandida, Liliane usava de suas técnicas mais mexicanas de interpretação para convencer os policiais de que ela e seus amigos eram pessoas de bem que tinham apenas saído de um show de rock. Não tinha megafone, mas era tal como aquelas cenas de filme em que os representantes da lei e da ordem negociam com os marginais a rendição, a libertação. Mais uns 20 minutos e a sentença: “Vão logo! Direto para casa! Sem gritos e com a janela fechada”. Nunca quatro pessoas se enfurnaram tão rápido dentro de um carro. Seguindo direitinho o que o os moços de farda mandaram, foram para casa, encontrar com os seis amigos do Santana que, sem saber de nada da confusão que se passava, continuaram o caminho. De todas as recomendações, só não seguiram uma — era impossível não gritar enquanto colocavam para fora, em forma de música, o sufoco recém-passado. “Polícia para que precisa?”, gritava o quarteto, em uníssono. Mas com as janelas bem fechadas...

“Eu sei que ela pode te prender” – Polícia (Cabeça Dinossauro – 1986)
Texto 25
O acaso vai me proteger
enquanto eu andar distraído


O ano de 2004 começou com tudo! Os Titãs começariam a turnê por Guarapari, com apresentação no Multiplace Mais, um ambiente super agradável. Para se juntar às capixabas Roberta e Paula e animar ainda mais a festa, partiram de Belo Horizonte, Fernanda e Liliane.
Paula, Lili e Ferdi já haviam reservado um quarto no Novotel, em Vitória, onde “coincidentemente” os Titãs se hospedariam. Aos 45 do segundo tempo, Beta decide partir com a trupe para a capital do Espírito Santo. Foi uma aventura e tanto. Quatro garotas fãs de uma banda em um quarto de hotel: Liliane preocupada com o presente que entregaria ao Paulo (que faria aniversário dentro poucos dias), e Fernanda com a chapinha no cabelo. Paula estava mais elétrica do que o normal e Beta super ansiosa, pois, finalmente, conheceria os Titãs. No meio da tarde, desceram para o hall do hotel. Entre uma foto e outra, perceberam que alguns globais circulavam por ali, como o ator Leonardo Miggiorini. Mas elas queriam mesmo era ver os Titãs, que não demoraram muito a chegar. Quando a banda adentrou o saguão do Novotel, um silêncio tomou conta das meninas. Até que cada integrante da banda veio se aproximando delas. Beta, a debutante naquele momento especial, logo foi apresentada à banda e se sentiu constrangida quando Lili soltou um sonoro: “Ela te adora, Britto!”. Depois de muitos cliques e blábláblás subiram para o quarto.
Apesar de terem planejado tudo com dias de antecedência, conseguiram a façanha de chegar atrasadas ao local do show. Assustaram-se quando viram a multidão que tentava entrar na casa. Tinham sido vendidos mais ingressos do que a capacidade do local e, em um determinado momento, mesmo quem tinha ingresso estava sendo impedido de entrar. E o quarteto estava entre os barrados. Desespero, tensão, telefonemas, e, enfim, elas conseguem entrar. Pelas portas dos fundos e com a santa ajuda do produtor Fred, mas conseguiram. O lugar estava tão lotado que Fernanda acabou se perdendo das amigas, e assistiu ao show sozinha. No auge, Beta também se desliga do grupo. Apesar da situação um tanto tensa, nada impediria que elas curtissem cada minuto daquele espetáculo. Bis, despedida, hora de voltar. Beta segue para sua casa. Lili, Ferdi e Paula para Vitória. Mais tensão: três meninas, num Fiat Uno, debaixo de uma chuva torrencial e, justamente, com a loira no volante. Só mais uma aventura. Chegaram sãs e salvas e com pilha o suficiente para repassar todas as emoções do dia.
Uma boa noite de sono e pique total na manhã seguinte. Lili e Ferdi, agora sem Paula, que já havia voltado para Guarapari, descem para tomar café. No mezanino voltam a se encontrar com estrelas da Globo e, dessa vez, se vêem diante de ninguém menos que Eduardo Moscovis. Depois de alguns segundos de petrificação, em que pensavam simultaneamente “É lindo mesmo!”, decidem ignorá-lo solenemente. Afinal, Tony Bellotto também estava por ali e era só sorriso e simpatia. Sentou-se na mesma mesa e tomou café com as fãs. Já não era preciso mais nada. Mais uma aventura concluída com êxito!

“O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído” – Epitáfio (A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da última Semana – 2001)
Texto 24
Quinze minutos de fama,
mais um pros comerciais


Fanática. Esse foi o apelido que ela ganhou e que é usado ainda hoje. Por causa de um fato, de um dia. Também pudera, não se tratou de um fato qualquer, de um dia qualquer. Foi o dia em que ela realizou o sonho de dez entre dez fãs: estar na MTV, apresentando os melhores clipes de sua banda preferida, ao lado da própria banda!
Desde que assistiu à primeira edição do Fanático MTV, em março de 2003, Fernanda havia decidido que, quando a banda da vez fosse Titãs, ela tentaria a sorte. Precisou esperar um bocado, já que eles foram os últimos a participarem do programa.
No final de novembro de 2003, Fernanda estava fazendo sua ronda diária pelo titas.net quando deparou com um recado de Sérgio Britto que a deixou empolgadíssima. Britto dizia, entre outras coisas, que na semana seguinte a banda gravaria o Fanático. Sem perder tempo ela entrou no site da MTV e fez sua inscrição. Tratava-se de um concurso de frases e ela escreveu o que lhe veio à cabeça, de supetão. Há quem duvide, mas é fato: Fernanda nunca mais se lembrou de que frase escreveu.
A boa notícia viria na segunda-feira seguinte, dia 1o de dezembro. Era uma segunda-feira como outra qualquer, com todos os percalços que são peculiares a esse dia. Mas havia um agravante: o Cruzeiro havia sido campeão brasileiro no domingo. Isso fazia daquele um dos piores dias da vida de Ferdi, fanática pelo Galo quase tanto quanto pelos Titãs.
Por volta das 13h, seu celular toca. Vendo que era uma chamada de São Paulo, imaginou que fosse Zélia, sua amiga. “Fala, maluca!”, “É a Fernanda?”, “Sim!”, “Oi, Fernanda, aqui é a Aninha da MTV...”.
Ela já não conseguia prestar atenção em mais nada do que a tal Aninha dizia. Só se lembra de que falou igual a pobre na chuva para convencer a moça de que era realmente fã da banda. Ao fim do telefonema ouviu palavras animadoras de Aninha — animadoras, mas não concretas: “Fernanda, eu estou fazendo uma pré-seleção, ligando para aqueles que escreveram as melhores frases. Caso a gente volte a te ligar é porque você foi a escolhida. Se não ligarmos é porque escolhemos outra pessoa. Mas gostei do seu papo. Estou torcendo por você”.
É óbvio que, naquela tarde, Fernanda não fez mais nada. A tensão durou até às 18h, quando veio, enfim, o telefonema derradeiro. “Fernanda, aqui é o Osmar da MTV. Gostaria de saber se você tem disponibilidade de vir para São Paulo na quarta feira?”. “É claro!!!!!”, respondeu ela, sem pestanejar.
Dois dias se passaram — numa lentidão absurda — e lá estavam Ferdi e sua dupla dinâmica, Lili, voando para São Paulo. Ao desembarcarem, um motorista da MTV as esperava com uma “plaquinha” onde havia escrito seu nome. “Fernanda! Ai, sou eu! Lili, eu sempre sonhei com isso!”.
A gravação começaria às 13h30 e, devido ao trânsito intenso em São Paulo, elas chegaram à emissora faltando apenas uma hora para o início de tudo. Osmar, o cara do telefonema, esperava por elas para o almoço. Ao entrarem no restaurante, Fernanda passa pela primeira situação constrangedora do dia. A equipe técnica dos Titãs almoçava no mesmo local e Viça, o roadie do Charles, não se controlou, em alto e bom som, exclamou: “Não acredito que você é a Fanática! Pode contar, qual foi a tramóia?”.
Fernanda, em versão muda e com a cara queimando, ouve o cara da MTV perguntar: “Você conhece esses caras?”. “Conheço, de tanto ir aos shows dos Titãs a gente acaba conhecendo a galera”, respondeu. “Mas os Titãs não vão te reconhecer não, né?”, insistiu Osmar. “Claro que não. Imagine...”, disfarçou Fernanda. “Ah, sim, porque a surpresa na hora do encontro é essência do programa”, filosofou o produtor.
Voltaram para emissora, faltava apenas meia hora para o início das gravações. Mas ninguém havia avisado isso para Fernanda. Ela só percebeu a gravidade da coisa quando de repente havia uma pessoa passando pó em seu rosto, outra encaixando o ponto eletrônico na sua roupa, enquanto o diretor, parado na sua frente, lhe mostrava uma lista com os clipes que seriam apresentados. “Ah, sim, mas o que eu tenho que dizer?”, perguntava a iminente apresentadora de TV. “Você vai dizer o que você quiser. Você é ou não é fã deles?”, provocou o tal diretor.
Antes de concluir o seu pensamento — que começava com um “Tô fudida!”—, Fernanda viu o produtor dos Titãs entrar no estúdio. Fred seria o responsável pela segunda situação constrangedora do dia: “É você? Não acredito! Essas meninas estão em todas”.
Fernanda temia que os Titãs também tivessem alguma reação do tipo, o que acabaria com a tal essência do programa. Mas eles se comportaram bem. Se reconheceram a fã, fingiram bem que não.
A gravação começou e Fernanda cumpriu sua missão com uma tranqüilidade, o que surpreendeu até a ela mesma. Nem parecia estar vivendo o seu momento máximo enquanto fã. A sensação de estar ali, ao lado de ídolos de uma vida inteira, tornou-se indescritível. Ela olhava para cada um deles e não conseguia acreditar que era ela quem estava ali, era ela quem fazia as perguntas a que eles respondiam.
Já estaria tudo perfeito, mas ainda havia mais reservado para a Fanática: ela ganhou um CD com uma dedicatória toda especial feita pela banda, assistiu ao show quase particular, recebeu elogios dos Titãs, fez novos amigos no mundo titânico e ganhou esse apelido que, às vezes, a tira do sério e a faz repetir bravamente: “Meu nome é Fer-nan-da!”
Mas, no fundo, ela sabe que foi por uma causa que valeu muito a pena. E não se cansa de contar essa história, embora já a tenha repetido exaustivamente para seus amigos, familiares, vizinhos...

“Quinze minutos de fama, mais um pros comerciais” – A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da última Semana (A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da última Semana – 2001)
Texto 23
Agora quando eu ando pelas ruas
eu preciso tomar cuidado


Samara, que era sempre a primeira a levantar, tinha a árdua tarefa de acordar a irmã Marianny e a colega Nina. Só que tal tarefa se tornou ainda mais difícil nesse dia, já que as três tinham passado as duas últimas noites curtindo os shows do Ceará Music 2003, festival que ocorria, até então, sempre em outubro e estava em sua terceira edição. Porém, ela tinha uma carta na manga. Respondia a cada resmungo das meninas com a frase: “Hoje é o grande dia, vambora!”. O fato que tornava grandioso o dia era o show dos Titãs. Depois de já arrumadas para saírem, surge um problema. Bira, primo da Nina que estava dando carona todos os dias para as meninas até o hotel Marina Park, local do evento, ligou dizendo que teria que levar mais uma pessoa, e assim, no carro que já andava lotado não caberia toda a turma. Depois de um stress básico, ficou decidido que Nina ia com o primo e as duas irmãs iriam de ônibus.
Sam e Mary partiram, então. “Tudo bem, sem problemas”, pensaram elas. Só que no meio do caminho, já dentro do ônibus, elas descobriram que, naquele horário, o ônibus não mais passava em frente ao hotel. E só souberam disso quando o motorista já tinha pegado um desvio e partido em direção ao centro da cidade. Elas ficaram indignadas, mas nem adiantava reclamar. A solução era descer e encontrar alguma forma de chegar até lá. Por sorte, dois homens que estavam no ônibus iriam para o mesmo local que elas, e as ajudaram, não apenas a chegar ao Marina, mas também a fugir de um louco que corria bêbado pelas ruas do centro de Fortaleza e gritava coisas que é melhor nem repetir. As meninas ficaram apavoradas, mas o trajeto longo fez com que elas se esquecessem do louco, ainda mais quando tinham que caminhar sob um sol de rachar. Sono, sede, fome e calor era o que as duas sentiam quando, finalmente, chegaram ao local e encontraram Nina, Bira e os dois Caios, os privilegiados que foram de carro e chegaram sãos, salvos, dispostos e bem alimentados.
Depois de dois dias de agito, Sam, Nina e Bira estavam mortos e nem se esforçaram para correr – isso ficou a cargo dos outros três, que fizeram bem o seu papel e garantiram um lugar no gargarejo. Detalhe: o palco principal era bem longe da entrada. Já posicionados na grade de segurança, trataram de erguer a bandeira do fã clube Força Titânica Ceará. O primeiro show da noite foi da banda local Alegoria da Caverna. A turma se divertiu ao ouvir o grande “hit” da banda, que contém os seguinte verso: “mu mu muriçoca de Sabiaguaba”. Depois, Gabriel o Pensador, que eles adoraram! Só faltou mesmo a participação dos Titãs em Cara Feia, mas a animação do grupo foi tanta, que Gabriel teve que fazer uma pequena dedicatória “Prá galera dos Titãs!”. Em seguida veio o Kid Abelha.
E finalmente, sobem ao palco, depois da já tradicional apresentação do Viça (roadie do Charles), os mais esperados da noite: TITÃS! Além de todos os sucessos, eles também tocaram cinco músicas novas – Nós Estamos Bem, Gina Superstar, Você é Minha, Vou Duvidar e Eu Não Sou Um Bom Lugar – que só estariam no próximo disco da banda, o Como Estão Vocês, que seria lançado no mês seguinte. Mostraram que o novo CD seria rock puro! E num festival com inúmeras participações especiais nos shows, no dos Titãs não poderia faltar. E o escolhido foi George Israel (Kid Abelha) que assumiu o sax em Flores.
Tony Bellotto jogou várias palhetas para eles, mas nenhum conseguiu pegar, normalmente caia na mão de algum segurança espertinho, que tentava vendê-las. Uma hora e 15 minutos depois o show chegava ao seu fim. Fim de Titãs naquela noite? Era o que eles imaginavam, mas Paulo Miklos, Charles Gavin e Emerson Villani subiram ao palco e tocaram Diversão com Rogério Flausino e cia. Tony comentou depois com os fãs que Branco Mello entrou no titãs.net e leu que os Titãs estavam tocando com o Jota Quest. Pensado que o povo tinha surtado, ligou para Tony, que lhe confirmou a história. O guitarrista estava vendo pela TV seus três companheiros ainda em ação. Na noite ainda tocaria Natiruts, mas a aquela altura os amigos já estavam no carro de volta pra casa.
No dia seguinte, um domingo, dia de descanso? Que nada! Todo mundo na maior animação para encontrar com os caras. Está certo que Samara passou mais de meia hora para consegui acordar a turma. Afinal, Samara, Mary e Nina ainda tinham que terminar de confeccionar os desenhos feitos de xilogravuras que elas dariam de presente a banda. As xilogravuras, que se tratavam de uma imagem da banda, deram uma boa dor de cabeça para as meninas, mas no fim ficaram lindas! Pelo menos elas achavam.
Em algumas horas, Sam, Mary, Nina, Bira, Rômulo, Juninho e Emanuel estavam apostos no Aeroporto Internacional de Fortaleza Pinto Martins, só esperando o momento de “atacar”. Eles ainda levaram a bandeira do Força Ceará, que saiu de lá devidamente autografada. Os primeiros a chegar foram Branco, Britto, Paulo, Lee e Emerson. Sam e Mary pagaram um mico correndo atrás do Paulo para entregar a xilogravura. Nada que um “muito obrigado” do ídolo não compensasse. Apesar da pressa de todos, eles, como de praxe, atenderam bem a trupe — poses para fotos, mil autógrafos e um pouco de conversa.
Minutos depois, chegaram Tony, Charles e Fred. Com esses os fãs — que nesse momento eram apenas Mary, Sam, Bira e Nina — tiveram mais tempo. Puderam explicar melhor o lance das xilogravuras. Foi quando algo completamente inesperado aconteceu. Tony pediu para que eles autografassem os desenhos. Ele teve que repetir o pedido já que ninguém estava acreditando: “Claro! Não foram feitos por vocês?”, justificou o guitarrista. Então, lá foram os fãs surpresos escreverem os seus nomes com uma caligrafia meio trêmula, é verdade. Tony teve mais uma idéia: ele e o Charles assumiriam a máquina e tirariam fotos do grupo. Mais uma idéia aceita, lógico! O Charles se mostrou um excelente fotógrafo, fazendo até pose de profissional, mas pelo resultado da foto não era só pose. Tony, bem, o Tony é um bom guitarrista, um bom escritor, mas umas aulas de fotografia com Charles se mostraram necessárias, já que o guitarrista acabou cortando o Bira em uma das fotos e o enquadramento não ficou tão perfeito assim. Claro, que isso não importava nenhum um pouco, afinal, como o Fred comentou na hora, eles estavam muito bem de fotógrafos. Só que os artistas ali eram os Titãs e, então, Samara pediu para que os dois posassem fazendo o símbolo do Força Titânica.
E, assim, conversaram mais um pouco. E, como era dia das crianças, o assunto acabou sendo os filhos dos dois titãs. Tony comentou que, um dos seus, o João, já tinha ligado para reclamar que nem o pai, nem a mãe — Malu Mader, que gravaria naquele dia o programa Faustão — não estavam com ele. E o Charles aproveitou para mostrar uma foto de Dora, então com apenas alguns meses de idade. Todos concordaram que a menina era uma fofura. Os ídolos embarcaram, mas os fãs ainda se divertiram clicando fotos engraçadas pelo aeroporto, felizes da vida, claro.

“Agora quando eu ando pelas ruas eu preciso tomar cuidado” – O Homem Cinza (Televisão – 1985)
Texto 22

Agora sinto minha tumba...
Agora o peito a retumbar


Era 12 de setembro de 2003. A cidade mineira de Formiga, a 196 quilômetros da capital Belo Horizonte, se preparava para realizar seu principal evento — uma coisa “a la” Barretos, com rodeios, barraquinhas, gente munida de chapéus, esporas e afins.
Ferdi e Lili se apressavam para botar o pé na estrada: arrumar mala, comprar passagem, dar um jeito no visual, ensaiar todos os passos, prever todos os imprevistos — tudo ao mesmo tempo agora. O destino era justamente Formiga e sua tal festa. Não, não era exatamente por causa de toda a movimentação country, apesar de ter algo a ver com ela. Apenas uma coisa seria capaz de levá-las até aquele programa insólito: show dos Titãs, claro.
A aventura tinha alguns “poréns”: o acesso era complicado (não havia ônibus de viagem direto de BH a Formiga), a dupla não tinha nenhum conhecido dentro daquele perímetro urbano além da própria trupe titânica e nem havia maiores referências sobre hospedagem (“será que há hotel decente nesse lugar?”, se perguntavam). Quase perdidas, enfim. O que era razão suficiente para fazer com que elas desistissem virou impulso para que arrumassem outras saídas para o problema.
Foi aí que se lembraram: a cidade mais próxima era Divinópolis. Lá, conheciam tudo: hotel, gente, meio de transporte. E, para completar, um detalhe: todas as pessoas que elas conheciam na região — leia-se: Titãs e sua trupe — iam ficar em “Divi”, então, por que ficar entre desconhecidos se há haveria conhecidíssimos por perto? Lá foram elas: Viação Teixeira, 210, JB Palace Hotel.
Mal se instalaram e já estavam em processo de cair na estrada novamente — o show era em Formiga e, não, em Divinópolis, afinal. Trataram logo de agilizar o meio de transporte: um taxista do próprio hotel que, por uma módica quantia, as levaria para a cidade vizinha e as traria de volta para o conforto do JB.
Acerto feito, lá foram os três: a dupla dinâmica e seu motorista particular. Tudo parecia perfeito, se não fossem dois pequenos detalhes: uma chuva torrencial que insistia em cair e uma estrada esburacada. A situação era ideal para que Lili já começasse com seus pensamentos fatalistas e quase surtasse por causa de seu pânico de acidentes, mas Ferdi tratava de manter o clima otimista. E foi nesse astral empolgado — exceto pela preocupação com o estado que seus cabelos ficariam sob chuva, claro — que venceram os 72 quilômetros que separam a cidade do show e a cidade do hotel.
Já em Formiga, tudo perfeito. Sãs, salvas, sem chuva — os cabelos agradecem! — e com um show inteiro pela frente. Nada poderia ser melhor. Será? Não só poderia como foi: além das já tradicionais e apreciadas performances, a trupe titânica preparou uma surpresa. Como aquele tinha sido o dia de lançamento oficial do primeiro single do então novo álbum, Como Estão Vocês?, a banda resolveu tocá-lo ao vivo, pela primeira vez. Mal começou Eu não sou um bom lugar, Ferdi e Lili enlouqueceram. Se já estavam empolgadas com tudo aquilo que já conheciam de cor e salteado (anos de estrada, afinal), imagina ali, sendo as primeiríssimas a ver e ouvir o novo trabalho, assim, in loco? Como todo jornalista que se preze, elas adoram conseguir “furo de reportagem”.
Para fechar o momento-show, não poderia faltar um fato nonsense, ainda mais levando em conta quem estava no palco — Titãs — e quem estava na platéia — Ferdi e Lili. Do nada, alguém surge no meio do público com um manequim — isso mesmo, daqueles de colocar roupas à mostra em vitrines — sem braço, sem cabelo, mas de chapéu. Ninguém entendeu nada, claro. Mas era dia de festa e no fim das contas, a boneca “subiu” ao palco e até participou dos agradecimentos ao final do bis.
Titãs fora do palco, era hora de zarpar para Divinópolis. Foram ao local combinado e lá estava o motorista particular. Iniciaram logo a viagem de volta. Mais 72 quilômetros, mas, dessa vez, sem chuva. “Menos mal”, pensaram elas. Ledo engano...
Depois de tanta euforia, estavam as duas cansadas. E é sempre assim: pulam, cantam, riem, hostilizam, confraternizam e isso tudo dá aquela vontade de tirar uma soneca. É praticamente incontrolável. Ainda mais na estrada, com o balanço do carro. Cochilaram.
Eis que, num momento de sopro divino, elas despertaram. Lili acordou com uma alucinação — ela e suas alucinações pós-show... — de que o motorista estava falando alguma coisa. Perguntou o que era várias vezes, mas o cara não respondia. “Ele não está falando nada, é só viagem da sua cabeça”, explicava Ferdi à amiga. Mas Lili não se convenceu, achou aquilo tudo muito estranho — principalmente o olhar perdido do homem no retrovisor.
Ficaram acordadas — quer dizer, elas, as passageiras. O motorista, uns cinco segundos depois do “despertar” das garotas, simplesmente “apagou” e já estava saindo da pista, indo quente na contramão.
Pânico. As garotas gritavam, berravam o nome dele, o sacudiam. Foram segundos desesperadores até que o motorista, finalmente, voltasse a si — e, o mais importante de tudo: para a pista certa.
Desse momento em diante, a viagem se resumiu em uma tensão nunca antes sentida. Ficaram as duas o tempo inteiro fazendo com que o motorista se mantivesse acordado e, conseqüentemente, elas pudessem se manter vivas e intactas. Os quilômetros finais duraram uma eternidade.
Quando pisaram no hotel, uma sensação de alívio e segurança tomou conta. Estavam ambas passadas e pálidas de susto — Lili, que já é mais do que branca, estava praticamente transparente.
Não bastasse a quase-morte, ainda tiveram que escutar poucas e boas. Quando os Titãs e seu produtor, Fred, ficaram sabendo, trataram logo de dar aquela lição de moral. "Vocês têm que vir mais devagar", diziam alguns. “Vocês são loucas”, sentenciavam todos.
Sim, elas eram loucas e estavam ainda assustadas, agradecendo por ter sido "só" um susto e por estarem ali, vivas para ouvirem as broncas. Mas não ficaram traumatizadas: a combinação “estrada mais madrugada mais sono mais motorista imprudente” ainda se repetiu por muitas outras vezes. Elas são loucas — e destemidas. Definitivamente.

“Agora sinto minha tumba... Agora o peito a retumbar” – Agora (Tudo ao Mesmo Tempo Agora – 1991)
Texto 21
Pop star, movie star,
rock star, superstar: Ginas!!


Quer gravar um clipe...

Samara estava conversando pela Internet com a mineira Cíntia Fróes, quando Cíntia pediu a Sam que ela escrevesse alguma música em homenagem a um dos Titãs. “Como assim?”, perguntou Sam. Cíntia explicou, que se tratava de um CD dos Musos, uma alusão à Fita das Musas que os integrantes da banda fizeram quando ainda nem eram os Titãs.
A idéia era que fãs escrevessem alguma letra em homenagem a um integrante da banda. Seria duas músicas para cada titã e uma em homenagem a toda banda. Como não tinha condições de realmente gravar um CD com as músicas, não havia a necessidade de melodia. Mas haveria um CD sim, com apenas duas faixa: uma que chamaram de Gravação e outra que nomearam de Erros de Gravação. A primeira registrava uma tentativa de gravar o CD, com um roteiro engraçado e bolado de improviso. Já a segunda foi inserida no CD, pois ao final de tanta bagunça virtual, perceberam que tinham muitos arquivos de áudio jogados no computador, muitos deles não poderiam ficar de fora, pois estavam engraçadíssimos. Claro, que os Titãs num primeiro momento não sabiam disso, já que o CD tinha uma capa elaborada, e uma contra-capa com fotos das “cantoras” e o título das músicas, sem contar o encarte com as letras.
Na dúvida de quem homenagear, Samara resolveu escrever para dois titãs: Sérgio Britto e Tony Bellotto. Na “música” de Tony deu os créditos para irmã, que ajudou na finalização de uma frase. Além de Samara (CE), Marianny (CE) e de Cíntia (MG), a idealizadora e organizadora do projeto, também participaram: Amanda (RJ), Lílian (RJ), Nine (RJ), Samantha (SP), Adry (MG), Marina (SP), Luise (RJ) e Regiane (SP).
Tanto a composição, quanto a gravação foram momentos de pura diversão dessas meninas, que tratavam de fazer tudo em segredo, tentando esconder, principalmente, dos meninos do fã clube, que só souberam da armação depois que os CDs já tinham sido entregues aos Titãs.
A entrega foi feita em Minas Gerias em Agosto de 2003. Os Titãs receberam o presente da mão de três das compositoras: Cíntia, Lílian e Adry. Depois, Tony Bellotto veio a escrever no site da banda: “Adoramos o CD dos Musos, nossos fãs (ou NOSSAS fãs) são muito loucos e criativos. Como nós, aliás. Continuem enlouquecendo e não levando a vida muito a sério. Diversão é solução sim!”. Pode deixar Tony, elas estão seguindo o conselho.

...quer ser capa de revista.

Foi Tatiana quem chegou com a notícia para as outras amigas: O Jornal O Povo, um dos de maior circulação em Fortaleza, queria fazer uma reportagem sobre o fã clube Força Titânica Ceará. Só que tinha um detalhe: a repórter queria que os membros do fã-clube mandassem textos relatando a história, e uma foto deles deveria ser tirada pelo jornal. Sem problemas, Tatiana, Marúsia e Samara escreveram sobre a história do fã- clube, sobre a amizade formada entres os membros, sobre os shows que foram, sobre as novidades dos Titãs e até sobre os projetos do fã-clube, entre eles o de ajudar intuições beneficentes. Depois marcaram um dia para se reunirem e baterem as tais fotos de parte dos integrantes.
Com tudo feito mandaram para a repórter, e no dia 28 de dezembro de 2003, um domingo, saiu a reportagem com a seguinte manchete: Fãs constroem rede de amizade e ao lado a letra cifrada da música Enquanto Houver Sol. O conteúdo da matéria não passava da edição dos textos das meninas, muitas vezes sem mudar uma vírgula sequer. E estava lá uma foto estampando a cara daqueles amigos felizes e contentes. Eles tiveram seus centímetros de fama e ainda divulgaram o fã clube e a banda. Mais uma para a lista de coisas que só acontecem por serem fãs dos Titãs.

“Pop star, movie star, rock star, superstar: Ginas!!” – Gina Super Star (Como Estão Vocês? – 2003)
Texto 20
Sono, sede, fome,
frio, agora não dói mais

Era agosto de 2003, Roberta saiu de Guarapari com seu grande amigo e companheiro de shows, Rodolpho. Foram para Minas Gerais assistir ao Pop Rock, festival que ocorre anualmente em Belo Horizonte. Viajaram à noite e até incomodaram seus companheiros de viagem, pela zorra que faziam. O ônibus era um leito e eles cismavam em ficar cantando músicas dos Titãs e conversar o tempo inteiro. Os dois amigos chegaram cedo em Belo Horizonte e se hospedaram na casa da irmã de Roberta. Além de ter família em BH, Beta conhecia as belo-horizontinas Fernanda e Liliane, mas só pela Internet, trocando idéias sobre os Titãs em uma lista chamada “Titanomania”. Ficaram logo amigas, pois tinham muitas coisas em comum.
O festival ocorreu no Independência, estádio do América, mais aconchegante que o Mineirão, onde o evento já havia acontecido. Beta e seu amigo partiram cedo rumo ao estádio, que teria seus portões abertos às 14h, e ficaram de se encontrar com Carolina, sobrinha de Roberta, que chegaria mais tarde ao local. Conseguiram chegar a tempo de estarem em um bom lugar para assistir aos shows, ou seja, no gargarejo, bem na frente, como de costume. Mesmo com o sol a pino, os seguranças impediram a dupla de entrarem no estádio levando sua munição, ou seja, garrafas d’água. Uma ironia em se tratando de um festival que tem como temática “Amigos da Água”. Vai ver que, de tão amigos, queriam economizar...
Enquanto esperavam pelo início dos shows, resolveram sentar por perto da grade para conversar. Depois de um tempo, Roberta levantou-se para observar o que acontecia no palco, o movimento, as pessoas chegando. Ela passou o olho por todo o Independência. Havia um grupo de pessoas na frente do palco, dentre os quais estavam fotógrafos, organizadores do evento e jornalistas. Sem mais, nem menos, fixou o olhar em uma pessoa. Não poderia ser outra, não poderia estar enganada. Conhecia o rosto (e o cabelo vermelho) de algum lugar. Era ela mesma: Liliane! Ao seu lado uma moça alta e de óculos escuros: Fernanda! Imediatamente Roberta começou a fazer gestos, tentava sinalizar para ver se uma das duas olhava para ela e a reconhecesse, o que achava praticamente impossível. Até que Liliane viu aquela cena toda, apontou em sua direção e sibilou: “Roberta?”.Logo as duas foram em direção de Beta e Rodolpho, conversaram um pouco, mas Ferdi e Lili não poderiam ficar ali, pois estavam trabalhando na cobertura do evento. Roberta mal imaginava que pudesse encontrar a dupla no Independência e estava feliz pelo ocorrido.
As bandas começaram a tocar e, volta e meia, as duas apareciam para conversar, oferecer água e até pipoca! Pouco antes dos Titãs subirem ao palco, Liliane oferece a Roberta uma espécie de credencial para assistir o show no Snake Pit, localizado abaixo do palco. Beta acabou fazendo belas fotos, que foram parar no site para onde Lili trabalhava, o que abriu algumas portas para a “capixaba”, em Guarapari. O show, apesar de curto, foi maravilhoso. E Beta jamais se esqueceria daquele dia em que viu os Titãs tocar e ainda conheceu Fernanda e Liliane, de quem viria a se tornar grande amiga.

“Sono, sede, fome, frio, agora não dói mais”- Nós Estamos Bem (Como Estão Vocês? – 2003)
Texto 19
Ainda é muito bom
mesmo quando é ruim


Na manhã do dia 12 de julho de 2003, Fernanda, Liliane e seus dois amigos e convidados especiais para aquela aventura, Daniel e Renata, se encontraram na rodoviária de Belo Horizonte, de onde seguiriam para Barão de Cocais, município localizado a 110 quilômetros da capital mineira. Naquela noite, os Titãs se apresentariam em Santa Bárbara, cidade vizinha a Barão de Cocais.
A turma chegou a seu destino por volta das 13h. Estavam totalmente perdidos, não conheciam nada nem ninguém. O primeiro passo era encontrar um hotel, coisa que não existia em Santa Bárbara, o local do show. Não precisaram andar muito até avistarem o ônibus que carregava a equipe técnica dos Titãs, estacionado justo na frente de um hotel. Acharam que aquilo era um sinal e foram até o tal do Hotur. Lá, a recepcionista informou que não havia vaga, já que a banda e sua equipe ocuparam todos os quartos. Saíram de lá desolados e tensos. A possibilidade de passar o dia e a noite na rua não agradava a nenhum dos quatros. Mas a tensão só durou até um deles avistar o famoso Barão Palace Hotel (não se deixem iludir pelo nome). Tratava-se de um hotel construído sobre o barranco ao fundo de um posto de gasolina. Ok, ok. Nada de frescura, era a única saída. Pediram dois quartos, pela bagatela de R$ 58 cada. Depois de instalados, só conseguiam rir daquela situação, no mínimo, inusitada. Ficar em um hotel de posto, definitivamente, era mais uma da série: “coisas que você só vivencia por ser fã dos Titãs”. Mas tudo bem, tinha cama e chuveiro com água quente. E isso bastava.
Como ainda estava cedo, Lili, Ferdi, Daniel e Renata, resolveram sair para dar uma volta pela cidade (leia-se: andar alguns metros em círculo). Encontraram um supermercado e decidiram comprar algumas coisas para abastecer frigobar. Ah, sim, além de cama e água quente, havia frigobar no hotel de posto, apesar de não muito equipado. No supermercado tocava o Acústico dos Titãs e a trupe logo imaginou que toda a redondeza estava mobilizada com o evento.
A noite se aproximava e, enquanto caminhavam pela praça, Lili e Ferdi viram o ônibus que trazia os Titãs chegando na cidade. Esperaram a banda entrar para o hotel e foram falar com Fred. Ele perguntou como elas iriam para o show e ao ouvir que iriam, provavelmente, de táxi, ofereceu a elas uma carona em uma van, que estava sobrando. É lógico que aceitaram.
Algum tempo depois estavam na estrada: a van, o motorista, a Lili, a Ferdi, o Daniel, e a Renata, totalmente VIP’s. Um momento de conforto para compensar o hotel de posto.
Chegaram em Santa Bárbara e logo se posicionaram em frente ao palco, de onde detectaram duas coisas um tanto quanto esdrúxulas. A primeira é que o palco era montando em cima de um restaurante, de modo que qualquer pessoa pudesse, muito bem, jantar com os Titãs tocando nas suas cabeças, literalmente. E a outra bizarrice ficava por conta dos telões que exibiam, antes do show, uma gravação das já extintas Olimpíadas do Faustão, (com direito a ponte-do-rio-que-cai e afins).
As Olimpíadas estavam até ficando emocionantes quando Viça, o roadie, anuncia o início do show, para delírio de Lili e Ferdi. Aquele era um dos primeiros shows em que a banda mostrava novas músicas – Gina, Vou Duvidar e Nós estamos bem. Tudo transcorria normalmente, até que, bem no meio de A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana, rolou uma pane. De repente o som parou, tudo se apagou e cada titã saiu para um lado. Enquanto todos se entreolhavam, Ferdi e Lili tratavam de explicar para os debutantes, Daniel e Renata, que aquilo nunca havia acontecido. Viça entrou em cena novamente e acalmou ao público dizendo que os Titãs voltariam logo, e encerrou com o clássico “acontece nas melhores famílias”.
Cerca de dez minutos se passaram até Branco Mello vociferar: “um idiota em inglês, se é idiota é bem menos que nós”. Sim, ele continuou a música exatamente de onde havia parado e a galera vibrou com o retorno da banda ao palco. Já era 13 de julho e não havia maneira melhor de comemorar o Dia Mundial do Rock.
Fim de show. A turma procura pela “sua” van e deixa Santa Bárbara — a que apelidaram de Santa Babi — rumo a Barão de Cocais — a que Fred, o produtor, insistia em chamar de Condado de Cascais. Depois de comentarem todos os fatos do dia, finalmente, decidem dormir.
Na manhã seguinte, Fernanda saiu cedo do hotel e sentou-se num banco para ver o “movimento” da cidade. Na verdade, o único movimento que ela via era o de uma pessoa correndo ao redor da praça. Estava sem óculos e só podia ver o vulto. Algum tempo depois, seus amigos juntaram-se a ela e perceberam que um grupo de pessoas havia começado a se aglomerar na frente do hotel onde os Titãs estavam. E a primeira vítima da multidão foi Tony, interceptado pelo povo que queria fotos e autógrafos. Mesmo cansado, já que estava correndo pela cidade, Tony atendeu a todos. Só neste momento Fernanda percebeu que ele era o vulto que circulava a praça e lamentou a miopia.
Ao sair do hotel, Fred levou um susto com a multidão que ali estava e convidou Ferdi, Lili, Daniel e Renata para entrarem. Eles entraram, se espremendo entre aquelas pessoas, e encontraram os Titãs numa espécie de sala. Alguns tomavam café, outros assistiam ao Riff MTV. As meninas aproveitaram o momento para entregar um presente que haviam comprado para Charles Gavin, que tinha feito aniversário poucos dias antes. Falaram também com os outros integrantes da banda. Paulo Miklos se divertiu quando ficou sabendo da galera que os esperava na porta do hotel. Brincou dizendo que as pessoas deviam estar esperando pelo Leonardo ou pelo Daniel e, não, por eles. Mas Ferdi e Lili trataram logo de informar que Tony já havia sido atacado pelos mais afoitos Miklos não perdeu, claro, a oportunidade de brincar novamente: “O Tony é o nosso boi de piranha. Deixa ele ir na frente que a gente passa tranqüilo”. Mas Paulo se enganou, todos eles foram muito assediados na saída.
Os quatro amigos se despediram da banda e foram arrumar suas malas... No hotel de posto.

“Ainda é muito bom mesmo quando é ruim” – Qualquer Negócio (Domingo –1995
)
Texto 18
Sou mais forte,
para mim não há perigo


— Vai ter show em Nova Serrana.
— Quando?
— Dia 30.
— Mas em plena quarta-feira?
— Quinta é feriado.
— Então, vamos?
— Vamos!
— Onde é Nova Serrana?
— Sei lá!
— Não é aquela cidade cheia de fábrica de sapato?
— É, mas eu não sei onde fica.
— E agora?
— A gente dá um jeito.
— Vamos olhar no “Guia 4 Rodas”...
— Isso!
— Achei. É para os lados de Divinópolis.
— Beleza. Agora é só arrumar um jeito de ir
— Isso a gente resolve.
— A gente podia ir cedo pra lá.
— Quarta a gente tem prova na faculdade...
— Ah é...

Quando chegou a quarta-feira em questão, que era o 30 de abril de 2003, Fernanda e Liliane compareceram à faculdade, como de costume. Fizeram a tal prova e foram almoçar. Entre uma garfada e outra, milhares de confabulações. Já estavam na metade do dia e ainda não sabiam nada a respeito do show de logo mais. E aquele era o primeiro problema do dia. A única conclusão a que chegaram foi a de que seria sensato ir até o Hotel Mercure, onde os Titãs estariam — o que era a única informação concreta que elas tinham — e esperá-los chegar, a fim de descobrir qualquer detalhe que fosse sobre o show.
Já estavam a caminho do Mercure quando...

— Não!
— O que foi, Ferdi?
— Perdi, tudo!
— Tudo o quê?
— Minha carteira, meu dinheiro, tudo!
— Deve ter ficado na faculdade...
— Vamos voltar.

Voltaram em vão. Não encontraram a carteira em nenhum dos lugares por onde haviam passado. Aquele era o segundo problema do dia. Mas decidiram que “tudo bem”, Lili bancaria a amiga.
Enquanto esperavam pelos Titãs, no saguão do hotel receberam a confirmação do amigo Leandro, ou melhor, a não-confirmação. Ele não iria ao show e elas haviam perdido uma ótima companhia — e a melhor carona em potencial. E assim surgia o terceiro problema do dia...
Estavam digerindo o fato quando os Titãs chegaram. Cumprimentaram as meninas e foram para os quartos. Lauro não perdeu a oportunidade de hostilizar Lee, dizendo: “Não vai perder nenhuma bolsinha, hein”, numa referência ao episódio da “mala do Lee” que havia acontecido meses antes.
Lili e Ferdi se divertiam, sem esconder a tensão. Quando Fred surgiu no saguão, correram afoitas ao produtor para angariar o máximo de informações possíveis. Descobriram que o show seria de graça e em praça pública. Menos um problema.
Mas ainda faltava resolver o dilema do transporte. Olharam uma para a outra e depois para a fila de táxis estacionados em frente ao hotel. “Vamos fazer uma espécie de leilão”, decidiram. Reuniram todos os motoristas e propuseram: “Precisamos de alguém que nos leve em Nova Serrana e nos espere até quando decidirmos voltar. Quem faz o serviço por menos?”.
Mais e mais confabulações, até que acertaram com um deles. “Eu levo vocês. Vou abastecer meu carro e já volto. Fiquem aí”. Alguns minutos depois, o motorista voltou trazendo novidades. “Meninas, eu conheço dois rapazes que estão indo para Nova Serrana, não é táxi, mas vocês poderiam ir com eles”, propôs o cara, avisando que não ia mais poder levá-las. “Ah, tudo bem”. Ferdi e Lili só queriam chegar a Nova Serrana, não importava por quais métodos.
Loucas! Depois de meia hora, lá estavam as duas a bordo de um Monza, com dois rapazes desconhecidos que, para piorar a situação, decidiram passar na casa de um deles antes de pegar estrada. Enquanto estavam sozinhas no carro, esperando os moços terminarem de se arrumar, decidiram tirar uma onda com eles. Começaram a dizer que eram paulistas, e estavam hospedadas no Mercure. Uma era santista e a outra corintiana, com direito a sotaque e tudo. A graça da brincadeira acabou quando descobriram que elas e os rapazes estudavam na mesma faculdade. Mico! Teriam que passar o resto do curso evitando se encontrar com as figuras.
Entre centenas de buracos, numa estrada tão cheia de curvas quanto escura, chegaram em Nova Serrana. De fato, o que não faltava ali eram fábricas de sapatos. Seguiram o fluxo e foram parar na praça onde seria o show.
Lugar estranho. Gente esquisita. E eis o quarto problema. Ao som dos primeiros acordes, a corda — sim, uma corda, e não uma grade, como acontece normalmente — que fazia o isolamento entre público e palco foi ao chão. Empurra-empurra, bêbados, socos, andarilhos, pontapés, malucos, puxões de cabelo. Tudo isso, do início ao fim do show. Ferdi e Lili mal conseguiram olhar para o palco. Aquele ficaria marcado como o show mais desastroso para a dupla.
Os Titãs mal se despediram e lá estavam elas com os pés imundos de areia, descabeladas e cheias e hematomas à procura dos... “Como é que eles se chamam mesmo?” Só mesmo uma sacudida como aquele show para fazê-las caírem na real sobre o risco que estavam correndo. Estavam numa cidade desconhecida, com dois caras que nem sabiam o nome. Mas aquilo não era hora para ter medo. Era preciso voltar para Belo Horizonte, afinal. Temeram encontrar os seus acompanhantes bêbados, mas, felizmente, eles estavam dormindo inocentemente dentro do carro.
Voltaram. E nem as turbulências do dia anterior impediram que elas marcassem presença no saguão do Mercure na manhã seguinte. Conversaram, tiraram fotos, comentaram o show, importunaram Charles Gavin com perguntas esdrúxulas. “Você sofre de mudez matinal? Você tem gingado? Posso ver sua carteira de identidade?” E se despediram da banda...
Na volta para casa, combinaram de se encontrar com o pai de Fernanda em um shopping. Enquanto subiam por uma escada rolante para chegarem ao lugar combinado, a bendita escada estragou. Elas estavam exaustas, não tinham energia nem para praguejar contra o ocorrido. Só conseguiram rir e terminar subir os degraus restantes, bem devagar. Definitivamente, Murphy — aquele das famigeradas “leis” — estava com elas.
Tudo o que elas queriam, naquele momento, era dormir. Talvez fosse o caso de tirar umas férias dos Titãs. Entraram no carro e, no mesmo instante, o rádio começou a tocar: “Isso que acontece com a gente, acontece sempre com qualquer casal...”. Logo se alvoroçaram, com direito a flashback de todas as emoções. Não, elas não agüentariam, mesmo, tirar as tais férias...

“Sou mais forte, para mim não há perigo” – Querem acabar comigo (As Dez Mais – 1999)
Texto 17
Família ê,
família ah, família


No dia 29 de março de 2003 o Beach Park, parque aquático que fica nos arredores de Fortaleza, seria o cenário da grande confraternização de amigos, que tinham uma coisa em comum: a admiração pela banda Titãs.
Pouco mais de uma semana antes desse acontecimento, Marúsia, mais conhecida como Nina, tinha marcado um encontro com Samara, que só conhecia por telefonemas e e-mails. Nina tinha se tornado há pouco tempo representante cearense do fã clube Força Titânica e estava recrutando todos os fãs para uma reunião antes do show da banda, que aconteceria no fim do mês. Telefonou e mandou e-mails para mais ou menos 20 pessoas, até então a quantidade de sócios cearenses. O local escolhido foi o Centro Cultural Dragão do Mar, na praia de Iracema perto do centro de Fortaleza. No sábado 15 de março, o dia do encontro, só compareceram no Dragão: Nina, Ana Patrícia e as irmãs Samara e Marianny. As quatro, logo de cara, se deram bem e já arquitetaram todos os planos até o dia do show. O único empecilho que encontraram era o transporte para o Beach Park.
Naquela mesma noite, em uma pizzaria, aconteceu uma pequena comemoração familiar pelo aniversário de Samara, que tinha completado 18 anos no dia anterior. Durante o jantar, as irmãs resolveram colocar o assunto do show à mesa. Margarida, a tia das meninas, se compadeceu com as sobrinhas que não tinham como ir ao show e, animadamente, se ofereceu para levá-las. Margarida também gostava do som da banda e há séculos, como ela mesmo disse, não ia a um show. Alegria geral das meninas, tudo estava acertado para o grande dia.
Um dia antes do show chegou a Fortaleza Eduardo, mais conhecido como Edu Kleiderman vindo diretamente, de João Pessoa/PB. Ele, que também fazia parte do Força Titânica, marcou um encontro com as meninas em um shopping. Edu aproveitou para combinar os últimos detalhes para o dia seguinte. Naquela madrugada, ele ainda iria ao aeroporto esperar pela banda.
No dia do show, quase no fim da tarde, Margarida chegou à casa das sobrinhas e as três juntas foram buscar Nina. Já em quatro e, devidamente, uniformizadas com a blusa do fã clube, saíram em direção ao local do show. No meio do caminho pegaram um engarrafamento daqueles e quase bateram o carro, quer dizer, quase outro carro batia no delas. Ao chegarem ainda tiveram a árdua tarefa de encontrar um local para estacionar. Mas perto da entrada não tinha mais vaga alguma, o jeito era colocar o carro num local mais distante e descerem a ladeira a pé mesmo.
Enquanto desciam, elas levavam cantadas fuleiras, e devido à camisa que estavam usando, eram galanteios do tipo: “Deixa eu te mostrar a minha força romântica”. Marianny, a mais esquentada do grupo, respondia a altura, as outras nem ligavam e até riam da situação. Já na entrada se depararam com outro problema: faltava o ingresso para tia Margarida. Edu tinha ficado de arranjar, mas ele ainda não havia nem chegado. Então, ficou resolvido que Margarida e Marianny esperariam por ele, e as outras duas entrariam pra guardar os lugares, já que o show da banda de abertura já tinha começado. Lá dentro, Samara e Nina tentavam se desviar dos banhistas bêbados que passavam de um lado para o outro. Queriam encontrar seus lugares ao sol, ou melhor dizendo, em frente ao palco. Lá, conheceram Tatiana, mais uma fã da banda, e as três, em pouco tempo, já engataram uma conversa. O show de abertura terminou e nada do Edu. As meninas de dentro telefonavam angustiadas para as que tinham ficado do lado de fora, já mandando elas comprarem ingresso dos cambistas, mas quando o locutor ia anunciar os Titãs, finalmente, aparecem as duas acompanhadas de Edu e Ivan.
Todos apostos para o grande momento! Aqueles amigos se divertiram, cantaram, dançaram, pularam e quase foram à loucura quando Branco Mello falou o nome do fã-clube e Paulo Miklos pegou a bandeira do Força Ceará, a primeira das muitas que iam surgir pelo país a fora. Quando o show terminou, Edu tentou fazer contato pelo celular com o pessoal da equipe da banda, para ver se conseguia entrar no camarim. Foram todos, então, para porta que dava acesso ao local, muito bem protegida por seguranças que não permitiam, de jeito nenhum, que entrassem.
O Chiclete com Banana, a outra banda da noite, já estava se preparando para entrar, quando saíram da tal porta homens levando bandejas com alguns sanduíches. Um grupo de pessoas famintas (ou não) atacou esses homens. Samara e Tatiane aproveitaram a confusão para entrarem por aquela porta. Conseguiram e, logo de cara, viram Tony Bellotto, foram falar com ele para ver se conseguiam que os outros entrassem, mas o músico alegou que a banda já estava de saída para o hotel. As meninas voltaram e contaram as novidades aos amigos. Evidente que eles não ficaram para vê o show do Chiclete e trataram de voltar para casa. Ainda era cedo, não era nem meia-noite, iam aproveitar para descansar antes de partirem para segunda parte da aventura.
Na manhã seguinte, Margarida alegou que não poderia ir com as meninas para o aeroporto, pois tinha que cuidar das filhas, mas não deixou de pedir um favor a elas: “Peçam um autógrafo do Tony para Natália”. Natália, a filha mais velha de Margarida, na época com seis anos, era fã do programa Afinando a Língua apresentado por Tony Bellotto. Um certo dia, Natália, que brincava no quarto das primas, parou para prestar atenção em um pôster dos Titãs que tinha no quarto, e logo ela identificou o guitarrista, apontou e falou com convicção: “Esse é o homem que correge (sic) as palavras!”. Hoje, já com nove anos, Natália pede às primas que não comentem com ninguém essa pequena gafe que cometeu aos seis aninhos.
Edu não ia aeroporto, pois precisava voltar para João Pessoa. Foram apenas Samara, Marianny, Nina, Ana Patrícia e Hayla, mãe de Nina. Elas ficaram conversando e relembrando o show da noite passada até a chegada da banda. Os primeiros a chegar foram “os cariocas” Tony, Branco e Charles. Conversa, autógrafos e fotos com a bandeira. Samara e Marianny não se esqueceram de pedir o autógrafo para prima e, para isso, contaram a tal história a Tony, o homem que “correge” as palavras. Depois, eles foram comer em uma das lanchonetes do aeroporto. E elas aproveitaram que era hora do almoço e, como estavam com fome, também fizerem um lanche.
Ana Patrícia teve que deixar o grupo, que continuou por lá esperando pelo restante da banda. O primeiro a chegar foi Paulo Miklos, que não pode se dedicar muito aos autógrafos, pois estava com o braço quebrado, mas não escapou de tirar foto com a bandeira do fã clube também. O último a chegar foi Sérgio Britto. Mesmo atrasado, ele ainda dedicou alguns minutos com as fãs, tempo suficiente apenas para tirar uma foto com a tal bandeira. Todas saíram de lá contentes e cansadas. Aquela aventura foi o pontapé inicial para a criação do site do Força Ceará, também o pioneiro entre os estados.

“Família ê, família ah, família” – Família (Cabeça Dinossauro – 1986)

Wednesday, September 20, 2006

Texto 16
Não importa o que você fez,
há sempre uma próxima vez

Era outubro de 2002. Segundo dia da segunda edição do Festival Ceará Music que rolava no hotel Marina Park em Fortaleza. Apesar de cansadas dos shows que tinham curtido na noite anterior, entre eles do Capital Inicial e d’O Rappa, Samara e Marianny chegaram ao local antes de 13h30. As irmãs, além de quererem garantir um lugar bem na frente do palco, iam também tentar encontrar com os Titãs no hotel. Trataram logo de entrar em contato com o Bruno, um produtor que haviam conhecido no dia anterior. Com ele, ficaram sabendo que o grupo chegaria por volta das 14h e o fizeram prometer que ele as avisaria assim que os Titãs chegassem. Elas voltaram para fila e, algum tempo depois, Bruno veio dizer que parte do grupo havia chegado ao hotel. Informou, também, que o baterista Charles Gavin não viria para show, pois sua filha estava para nascer. O tal produtor não pode acompanhá-las, pois teria que resolver outras coisas. Foram, então, para frente do hotel, mas ficaram com receio de entrar e serem barradas. Neste momento, o ônibus que trazia o pessoal do CPM 22 chegou. Elas, espertamente, aproveitaram o embalo, se misturaram ao bando e entraram com eles no hotel.
Procuraram pelos Titãs no meio daquela multidão de músicos, produtores e hóspedes, mas não encontraram. Entre aquelas pessoas dois atores chamaram a atenção delas por características bem opostas: Marcio Kieling e Sérgio Marone, o primeiro elas acharam baixinho e sem graça, o segundo alto demais e desproporcional. Realmente, na TV, as coisas eram diferentes. Começaram a fazer comentários engraçados sobre os atores e outros artistas que estavam no saguão para disfarçar a decepção por não encontrarem, mais uma vez, com seus ídolos. Quase não notaram quando Sérgio Britto e Paulo Miklos desceram. Eles, por algum motivo, não conseguiram entrar nos respectivos quartos e voltaram para o hall. As duas ficaram ainda mais nervosas do que já estavam. Demoraram alguns minutos para terem coragem de falar com eles. As duas só conseguiam repetir compulsivamente que gostavam muito da banda. Enquanto batiam fotos e pegavam autógrafos dos ídolos, apareceu mais um fã dos Titãs por lá. Um garoto inquieto e nervoso que carregava a tiracolo um exemplar do livro BR 163, de Tony Bellotto. O rapaz pediu para as meninas tirarem fotos dele com os caras e, também, para que Britto autografasse o livro. O tecladista ficou visivelmente desconfortável com a situação, alegava que o livro era do Bellotto, mas, diante da insistência do rapaz, teve que deixar sua assinatura no tal livro. Ainda falaram com Emerson Villani e Lee Marcucci, os membros honorários dos Titãs.
Voltaram para fila, e lá tiveram o primeiro contato com as amigas Talita e Hegly, também fãs da banda. Como as fãs se reconheceram, não se sabe, mas já emendaram de imediato um papo sobre Titãs, óbvio. Pouco depois os portões se abriram, e elas trataram de correr, mas quando estavam chegando perto do palco desanimaram, toda a frente já estava ocupada. Mas nem tudo estava perdido: dois seguranças chamaram por elas. Eles haviam guardado o lugar das meninas, que, ali perceberam, que chegar bem cedo e fazer amizade com produtores e seguranças do evento tem lá suas vantagens.
Já devidamente acomodadas em seus lugares privilegiados, só restava esperar pela grande atração da noite, pelo menos para elas. Antes, shows dos Raimundos, Charlie Brown Jr. e Engenheiros do Hawaii. Os Titãs foram chamados ao palco e os primeiros acordes de Aluga-se invadiram o Marina Park. Estava dado o sinal para o começo da festa das irmãs. Acompanharam cada música como se saboreassem alguma iguaria rara. Elas ainda levaram um cartaz pedindo a palheta de Tony Bellotto, ele leu com um certo esforço, fez sinal que já daria, e algum tempo depois, jogou o “souvenir” para as meninas. Apesar do mico do cartaz elas saíram com uma lembrança a mais daquele grande dia.
Chegaram em casa cheias de novidades para contar a mãe, mas ela não estava lá muito interessada nas estripulias das filhas. Trataram de dormir um pouco, pois já tinham decidido que iam ao aeroporto assim que amanhecesse.
Chegaram lá por volta das 11h30. Enquanto esperavam pelos Titãs viram o pessoal do Los Hermanos e Jota Quest, com quem viveram situações, no mínimo, inusitadas. Primeiro o cantor Rogério Flausino passou bem na frente delas. Samara nem percebeu quando Mary parou o cantor para pedir um autógrafo, por isso virou-se para ela para comentar algo sobre ele e deu de cara com o músico bem na sua frente. Elas estavam sentadas e Rogério em pé, quem via a cena podia até pensar que elas eram as artistas. O cantor até falou: “Marianny, você está muito calma, né? Eu não. Estou apressado, fiquei para trás”. Samara quase morreu de vergonha, e tratou de passar aquele sermão na irmã mais nova, mas em pouco tempo as duas já estavam rindo da situação. Já o vocalista do Los Hermanos, Marcelo Camelo, também ficou para trás dando autógrafos para fãs, e se perdeu do seu pessoal. Ele já ia saindo para o lado errado, quando Samara decidiu ir até ele e informar o caminho certo, ele agradeceu e falou: “Você salvou o show, eu estava perdidão!”.
Os Titãs chegaram pouco mais de 13h. O primeiro que viram foi o Emerson, logo após Paulo e Britto. Marianny, com seu jeito expansivo, foi logo dizendo que eles não tinham reparado nelas durante o show e nem jogado toalhas. Britto riu, sem jeito, e disse que não dava para ver ninguém e Paulo, sempre brincalhão falou: “Mulher, eu lembrei sim, sua ingrata!”. Samara quase fuzilou a irmã com um olhar inquisidor. Mas, ao invés de brigar com Mary na frente de todos, preferiu perguntar pelos outros. Britto, como resposta, apontou para Tony, que estava logo mais a frente. Foram falar com o guitarrista, que sorridente e atencioso as atendeu muito bem. Autografou CDs e os livros dele que Samara levou. Conversaram um pouco sobre o personagem de seus livros, Remo Bellini e sobre a filha de Charles Gavin, que viria a nascer alguns dias depois. Elas acabaram se entregando ao afirmarem que eram elas mesmas as garotas do cartaz, que pediram sua palheta. Enquanto isso, sempre aparecia alguém pra pedir um autógrafo a Tony. Uma dessas pessoas foi uma adolescente que não gostou da caligrafia do músico e pediu que ele autografasse de novo. As meninas acharam um absurdo, mas Tony nem ligou. Depois foram falar com o Branco e, com ele, o assunto rendeu mais. Falaram do site, recém inaugurado, do show, da ópera rock infantil que ele estava lançando. Elas pensaram que não encontrariam mais com Tony e haviam se esquecido de entregar um presente que tinham comprado para o guitarrista — um colar que tinha como pingente uma guitarra. Branco se disponibilizou a entregar o tal presentinho. Depois Paulo apareceu, elas pegaram mais autógrafos e tiraram mais fotos. O assunto com ele foi a rouquidão apresentada por Marianny. “Tudo culpa do show”, justificou ela. Ficaram lá na cola dele, e foi aí que conheceram Frederico Fonseca, produtor da banda. Fred, simpático e falante como ninguém deixou as meninas à vontade e, ali mesmo, engataram um papo animado até a chegada de Tony, que veio com uma sacola com livros. “Ele já foi comprar livros?”, perguntou Mary. “É, ele é viciado”, Paulo respondeu. Todos riram e Tony, sem saber que ele era a piada, cumprimentou as meninas, para a alegria delas, com um espontâneo sorriso e exclamou: “Milhas leitoras!”. Bateram mais algumas fotos com os ídolos, tendo, dessa vez, Fred como fotógrafo.
Antes de se despedirem, Marianny (ela de novo!) ressuscitou o primeiro encontro das meninas com Tony. Há alguns meses, as duas estavam na fila para o show quando o guitarrista passou para fazer sua corrida diária, e acabou não atendendo as meninas. Tony se desculpou e disse que, quando está correndo, não dá para parar, mas perguntou se agora ele não estava atendendo bem. Claro que elas disseram “sim”! Tinha sido uma tarde e tanto. Os seus ídolos, além de tudo, eram simpáticos! Só Marianny que teve que agüentar alguns sermões da irmã, pela sua cara de pau — para não dizer inconveniência — ­em determinados momentos.

“Não importa o que você fez, há sempre uma próxima vez” - O Fácil é o Certo (Tudo ao Mesmo Tempo Agora – 1991)
Texto 15
Vou andar de táxi,
vou deixar o troco

Mal amanheceu o dia, naquele 22 de setembro de 2002, e Liliane e Fernanda já estavam devidamente posicionadas no saguão do Hotel Mercure, em Belo Horizonte. Queriam tirar fotos e se despedir dos Titãs, que, na noite anterior, haviam se apresentado na cidade. Enquanto esperavam os músicos descerem comentavam sobre o show.
Os Titãs haviam feito um excelente espetáculo — apesar da péssima acústica da Arena Telemig Celular — e foram super aplaudidos por muitas crianças presentes no local, que deliraram ao som de Epitáfio, e pelos fãs. Fernanda e Liliane eram das mais empolgadas e haviam aguardado por aquele momento com muita ansiedade, afinal, não se tratava de um show qualquer: era o primeiro com Lee Marcucci no baixo, duas semanas após o desligamento de Nando Reis da banda.
No decorrer da apresentação muitas das várias curiosidades que tomavam conta da dupla foram sanadas: as músicas que Nando cantavam haviam saído do repertório, ficando apenas Marvin, em uma versão totalmente acústica. Os Titãs estavam ótimos e, definitivamente, Lee Marcucci era digno daquele posto.
Ainda durante o show, Ferdi e Lili decidiram que falariam com Lee. Elas queriam dizer para o baixista que eram fãs dos Titãs e que estavam apoiando a entrada dele na banda. E naquele momento, no hotel, encontraram a oportunidade perfeita. Conversaram com Lee e se simpatizaram ainda mais com ele, que foi extremamente receptivo e carinhoso. Falaram também com os Titãs, que mais uma vez demonstraram estar muito bem, sem nenhum indício de estarem afetados pelo recente desfalque. Despediram-se de todos e os viram deixando o hotel rumo ao Aeroporto da Pampulha.
Depois que a banda foi embora, as duas ainda ficaram algum tempo sentadas no saguão conversando, até notarem a presença de uma mala, aparentemente esquecida por ali. Pegaram e de cara concluíram que pertencia a alguém dos Titãs ou companhia, já que nela havia estampado o emblema da MTV. Não resistiram e abriram um dos bolsos da mala, a fim de descobrirem quem era o dono. Nem foi preciso revirar muito, já que logo encontraram um documento de carro e lá estava: Antônio Luis Marcucci. Olharam uma para a outra e falaram simultaneamente: é a mala do Lee!
Rapidamente, confabularam sobre que decisão tomar e concluíram que o mais prudente seria ligar para o celular do Lauro, segurança da banda. Lili foi a encarregada de fazer o “serviço”. Ela falou com Lauro sobre a mala, sem revelar, é claro, que já haviam aberto. Pôde ouvir quando o segurança perguntou para aos músicos, que estavam numa van, se alguém havia esquecido uma mala, e Lee Marcucci responder: “Ai, fui eu!”.
Não havia a possibilidade da van voltar ao hotel, já que estavam atrasados para o vôo. Então, Lauro pediu para que as meninas pegassem um táxi e fossem até o aeroporto, o mais rápido possível, levando a mala. E foi o que elas fizeram. Entraram num táxi e ordenaram que o motorista “voasse” para a Pampulha. Como Fernanda e Liliane tem um peculiar magnetismo com pessoas bizarras, pegaram logo um motorista absolutamente lunático, que se dizia compositor de blues e cantava sem parar suas próprias músicas. Só depois de algum tempo é que ele percebeu que elas estavam realmente desesperadas e para ajudá-las atravessou para outra pista passando por cima de um canteiro e em cinco minutos chegaram ao aeroporto. Parecia última cena de filme da Sessão da Tarde. Liliane e Fernanda correndo com a mala na mão, Lee, Lauro e Emerson fazendo cara de alívio ao vê-las, e o taxista atrás delas cantando seus blues. É possível que ele tenha ficado com medo de que elas não pagassem, já que saíram super afoitas do táxi. Mas é claro que elas pagaram. Ou melhor, o Emerson Villani pagou, como uma forma de compensá-las pelo favor. Sim, foi o Emerson quem pagou, e não o Lee, que estava sem dinheiro.
Voltaram para suas casas tendo compulsivas crises de riso sobre a inusitada seqüência de cenas que haviam acabado de vivenciar. Nunca se esqueceriam do dia em que o novo baixista se tornou o protagonista de uma de suas histórias.

“Vou andar de táxi, vou deixar o troco” – Tudo Em Dia (Domingo – 1995)
Texto 14
Estão olhando pra você...
cuidado com você!


Pela mesma lista que conheceu Ferdi e Lili, Roberta teve a oportunidade de conhecer Paula, que também mora em Guarapari e curte o rock da geração 80. Há tempos Roberta procurava alguém de sua cidade ou local próximo que gostasse de Titãs e fizesse de tudo para não perder nenhum show. E assim sempre foi a Paula: fã assídua. Se falaram, por telefone, pela primeira vez, uma semana antes do show que os Titãs fariam no Ginásio Álvares Cabral, em Vitória, no dia 20 de setembro de 2002.
Estavam super curiosas, pois o show já seria sem o Nando Reis, que havia deixado a banda pouquíssimos dias antes. Elas se perguntavam: quem iria assumir o baixo? Os Titãs iriam manter algumas músicas que o Nando cantava, como Marvin, Cegos do Castelo e Não Vou Me Adaptar?
Mais uma vez, Roberta foi acompanhada de Hélia, outra amiga, e marcaram de se encontrar com Paula no ginásio. Logo de cara, uma reconheceu a outra, e estavam devidamente equipadas — Roberta, com sua câmera fotográfica e Paula, com a filmadora.
Beta encontrou-se com mais amigos de Guarapari e outros fãs da banda que também havia conhecido pela internet, como o Keitel e a Renata.
Os Titãs mal entraram no palco e a histeria foi total, todos ansiosos, pulando e cantando com a banda. Eles fizeram, literalmente, o chão do Álvares Cabral tremer. Sensação indescritível!
Todos os titãs estavam animados: Branco dançava muito, Britto sorria, Paulo gritava e pulava, os dedos de Tony deslizavam na guitarra e faziam um som maravilhoso, Gavin tinha o poder em suas mãos, fazendo sair da bateria uma energia positiva e vibrante. E Lee deu conta do baixo muitíssimo bem. Foi uma surpresa para Roberta ouvir Mundo Cão ao vivo, uma de suas canções favoritas. Seus dedos, quase que de forma automática, clicava fotos compulsivamente. Beta se via no dilema de toda fã: não sabia se pulava, cantava ou fotografava. Pena que tudo que é bom dura pouco. Fim de show, hora de voltar para Guarapari.
Ao chegar, não deu outra. Beta foi direto para o computador descarregar as fotos. Babava em cada uma das 147 (!!!) que tirou. Seu recorde em um show. A cada foto, uma lembrança. Uma pena não ter conseguido entrar no camarim com Paula, mas aquele momento ainda chegaria.
No dia seguinte, Beta mostrou as fotos para Paula, que por sua vez, levou a filmagem que havia feito para a amiga assistir. Se divertiram muito ao ver que a câmera captou o que seus olhos não perceberam: durante a música Nem 5 Minutos Guardados, mais precisamente na parte “(...) É sempre carnaval no Brasil”, Sérgio Britto, que dava visíveis sinais de empolgação, apoiou o pé direito na caixa que estava em sua frente e deu um salto para trás. Ele só não esperava que aquele inocente pulo provocaria um tombo, que o fez ficar com as duas pernas para cima. Em seguida, levantou-se, sem graça, olhando para os lados. Com fãs é preciso ter cuidado! O tombo foi captado por Paula (apesar de não ter visto no momento do show), repetido inúmeras vezes no vídeo cassete com direito a “slow-motion” e virou comentário por várias semanas entre elas.

“Estão olhando pra você...cuidado com você!” – Cuidado Com Você (A Melhor Banda de Todos Os Tempos Da Última Semana – 2001)
Texto 13
Quem quer manter a ordem?
Quem quer criar desordem?


O dia em Guarapari amanheceu nublado. Aquilo não era novidade para Roberta, que estava acostumada a ver o tempo fechar pelo estado do Espírito Santo sempre que havia show. Começa a preocupação: desde a noite de insônia, passando por roupas, máquina fotográfica e a ansiedade aumentando a cada segundo.
O local do show era desconhecido, sabia-se somente que seria em Linhares, norte do Espírito Santo, e cerca de duas horas e meia de viagem para enfrentar. Roberta, seu pai, e Hélia — uma amiga que também é fã dos Titãs — partiram de táxi às 17 horas rumo à diversão.
No caminho, muita chuva e muitas paradas para pedir informação. Mas eis que, depois de três horas de viagem, chegaram ao local exato e um pouco atrasados, diga-se de passagem. O lugar era enorme, havia uma arena para rodeios e para a sorte do trio o palco localizava-se na outra extremidade. Show de graça, palco baixo, iluminação adequada para fotografia, enfim, tudo perfeito. Pouco antes de o show começar Charles Gavin subiu ao palco para conferir sua “batera”, o que trouxe mais alegria aos fãs, que esperavam afoitos a apresentação da banda.
Início da apresentação. Abertura com a música Aluga-se, seguida por Domingo e outros sucessos. O show estava no auge, a galera empolgada, até que surgiu uma gangue e começou a estragar a festa. Estavam bêbados e totalmente fora de si. As brigas começaram e pessoas corriam para todos os lados. Os Titãs perceberam a situação e fizeram uma pequena pausa no show, com Branco Mello chamando a atenção do determinado grupo de “boyzinhos”. Tudo voltou ao normal, aparentemente. Durante Marvin as brigas começaram novamente e a situação foi se agravando, chegando ao ponto da banda tomar uma iniciativa mais severa. Sérgio Britto demonstrava sua insatisfação com o ocorrido e dizia: “Gente, vocês querem se matar? Vamos parar com isso!”, seguido por Paulo Miklos que reforçava dizendo “O show é aqui em cima, não é aí no meio não, vamos manter a calma”. Entre a preocupação e a diversão, Roberta conseguiu não só tirar muitas fotos do show como até fazer amizade com Marta, mais uma titânica, que morava no local. Infelizmente com o tempo, perdeu-se o contato.
No fim do show, Roberta estava com o coração na mão, já que seu pai ficou do lado de fora junto ao motorista do táxi esperando o show acabar e ele podia ouvir claramente tudo o que estava ocorrendo durante a apresentação dos Titãs. O que será que se passava na cabeça de um pai em um momento desses?
Saldo do show: por parte dos Titãs foi indefectível, mas infelizmente a partir desse dia Roberta obrigou-se a pensar duas vezes antes de ir a um show de graça em local desconhecido.

“Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?” – Desordem (Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas – 1997)
Texto 12
Não é pior
do que parece ser


Show fechado: eis o nome do maior drama de todo fã que se preze. Esse drama, especificamente, teve início em maio de 2002, quando Liliane e Fernanda descobriram que os Titãs fariam uma apresentação desse naipe em Belo Horizonte, para a Cemig. Mesmo sem terem a menor idéia de como fariam para entrar no show, as meninas estavam convictas de que conseguiriam. Tão convictas que insistiram para que as amigas paulistas, Zélia e Samantha, fossem para BH para curtir o show com elas. Não menos piradas, Zélia e Sá aceitaram o convite.
Manhã do dia 18 de maio de 2002. O quarteto se reúne no Minas Shopping e, sentadas na praça de alimentação, começam a decidir que rumo tomariam. É Zélia quem dá a primeira e única grande idéia do dia: “E se nós nos hospedássemos no mesmo hotel que eles”. “Como assim, Zélia?”. “Simples, a gente se hospeda, se não conseguirmos entrar no show, pelo menos teremos a oportunidade garantida de falar com a banda”. Muito murmúrio, muita confabulação. Dez minutos depois, Zélia e Fernanda atravessam a passarela que havia em frente ao Shopping e chegam ao Ouro Minas Palace Hotel — sim, elas estavam num shopping localizado estrategicamente, bem na frente do hotel. A primeira dupla, Ferdi e Zélia, se instala e recebe a outra dupla, Lili e Sá, como visitante.
No quarto do hotel, as quatro continuam com intensas confabulações, sem chegarem a nenhuma conclusão realmente válida. No auge da conversa, Lili e Ferdi decidem relaxar e descer para conhecer o hotel. “Ah, a gente já está pagando o mico de se hospedar num hotel da nossa própria cidade, vamos pelo menos usufruir”. É preciso dizer que usufruir ao máximo de tudo é o lema de vida destas duas.
E lá foram elas explorar o gigantesco lobby do hotel. Enquanto passeavam de um lado para outro viram uma van estacionar na porta. Não dava para enxergar nada direito, apenas reconheceram a silhueta de Branco Mello, que nem o insulfilm conseguiu esconder. Viram todos os Titãs se aproximando. Olharam uma para a outra e, num sincronismo quase telepático, se posicionaram na porta do elevador, que não demorou muito a chegar. Em segundos estavam os, então, seis titãs, mais Ferdi e Lili no elevador. Elas preferiram ficar caladas e não entregar que estavam ali por causa deles. Eles ainda não as reconheciam como as figurinhas carimbadas em terras mineiras. Chegaram ao sétimo andar. As duas saíram e começaram a correr saltitantes pelo corredor para contar a novidade para as amigas. Elas só se esqueceram de um pequeno detalhe: o elevador era panorâmico e, muito provavelmente, a banda pôde ver a euforia das duas.
A tarde se aproximava quando as meninas receberam o telefonema de uma colega. Esta dizia que já havia acertado tudo com Charles Gavin, que havia autorizado a entrada da trupe no show.
Zélia, Lili, Sá e Ferdi partiram, então, rumo ao Mineirinho, onde seria o evento. Lá encontraram os amigos Leandro e Toninho (não, não é o Toninho Leite), e mais a colega que havia negociado tudo com Gavin. Ela informou que, para entrar, a eles deveriam procurar um segurança chamado Aílton. Foi o que fizeram, ou pelo menos tentaram fazer. Chegaram na portaria e começaram a conversar com um segurança que lá estava. Pediram para que ele chamasse o tal Aílton, mas ele se negou, para desespero de todos. Lili, que já estava quase tendo um ataque de nervos, ligou então para o celular do Lauro, segurança dos Titãs, que informou que o Aílton estava do lado de fora do ginásio, bastava encontrá-lo. Parecia simples, mas, naquele momento, ninguém o encontrou.
O show começa. Do lado de fora era possível ouvir os Titãs cantando Aluga-se. Indignadas e não querendo passar pela terrível situação de apenas ouvir o show, Zélia e Ferdi voltam para o hotel. No caminho ainda decidem comprar algumas peças de roupa, já que foram parar no hotel totalmente desprevenidas. Enquanto isso, o resto da galera ainda insiste em entrar no show, mas só Leandro, que se camuflou entre os funcionários da Cemig, consegue. Toninho e as meninas voltam a conversar com o segurança que havia se recusado a chamar o Aílton, e para surpresa — e indignação geral — ele revela ser o próprio Aílton. Como se não bastasse, chama os fãs dos Titãs de vândalos, alegando ser esse o motivo para ele não ter colaborado.
Já no hotel, e ainda sem saber o que seus amigos estavam sendo obrigados a ouvir, Fernanda decide contar aos próprios Titãs o que havia se passado. Ela senta-se no saguão e fica aguardando a banda, repassando mentalmente tudo o que diria para Charles Gavin. Sim, ela o escolheu por dois motivos: primeiro porque ele era o titã envolvido diretamente na história, segundo porque ele era o único membro da banda com quem Fernanda nunca havia tido a chance de conversar. A van chega. Fernanda, tremendo por dentro, caminha em direção ao Charles:

— Oi, Charles tudo bem? Meu nome é Fernanda. Eu sou fã dos Titãs
— Oi, Fernanda, tudo bom?
— Mais ou menos, é que eu estava naquele grupo de fãs que queriam assistir ao show que vocês acabaram de fazer no Mineirinho.
— Ah, claro. E aí? Gostaram?
— Então, é sobre isso que eu gostaria de falar com você. Nós não entramos para o show
— Por quê?
— Porque os seguranças não permitiram. Não tivemos maiores explicações, eles simplesmente barraram a gente.
— Mas eu deixei avisado que um grupo de fãs iriam procurá-los
— Eu sei, Charles, mas não adiantou. De qualquer forma obrigada e...
— Não, isso não vai ficar assim!

Nesse momento Charles chama Lauro e pergunta se ele tem alguma explicação para o que ocorreu. Lauro diz que não, que para ele o pessoal havia conseguido entrar, já que o próprio Aílton garantiu que havia feito o serviço. Ficando cada vez mais irritado, Charles pede a Lauro o número do telefone da chefe de segurança do Mineirinho e fala para Fernanda o acompanhar até a recepção. Lá, pede para usar o telefone, mas como a telefonista estava demorando muito para fazer a ligação, ele desiste e decide ir ligar do restaurante do hotel. Fernanda começa a se despedir do baterista, que mais uma vez pede para que ela o acompanhe. “Quero que você veja que eu não estou nada satisfeito com o que aconteceu”, dizia ele. Claro que Fernanda, a essa altura já empolgadíssima com a confusão e adorando que tenha dado tudo errado, aceita e vai com Charles ao piano-bar. Lá, ele volta a pedir um telefone e tenta novamente. Enquanto Charles aguarda para, enfim, falar com o responsável por tudo aquilo, faz perguntas para Fernanda, do tipo: “Você é de Belo Horizonte mesmo? E está hospedada aqui? Você é louca? Sua mãe está sabendo disso? Você tem quantos anos? Como é seu nome mesmo? O que você faz da vida?”. E Ferdi respondia a tudo com o maior prazer: “Sim, eu sou de BH. Sim, eu estou aqui. Não, eu não sou louca. Não, minha mãe não está sabendo disso. Eu tenho 18 anos. Fernanda. Eu estudo Jornalismo”.
Finalmente uma tal de Renata, que parecia ser a chefe de segurança do Mineirinho, atende ao telefone. E Charles despeja nela tudo o que estava engasgado. “Nós não fizemos uma exigência sequer. Tudo o que eu queria era colocar sete pessoas lá dentro. Não é possível que onde cabem 25 mil pessoas não caibam mais sete. Fique sabendo que um fã nosso vale mais que todos os contratantes do Brasil juntos! Vândalos? Isso porque você não viu a cara da garota que está na minha frente. Se ela for uma vândala eu mudo de nome”. Fernanda vibrava, internamente, é claro, a cada tirada de Gavin na tal chefe de segurança e tentava imaginar quão meiga era sua feição naquele momento. O telefonema durou cerca de 40 minutos. Já não dava mais para reverter a situação, mas foi um belo desagravo da parte de Charles, que, provavelmente, também se sentiu com a alma lavada.
Fim de papo, Fernanda sobe para contar às amigas tudo o que eu havia rolado, e fica sabendo da farsa do tal Aílton. Lili, Sá e Ferdi (Zélia já estava dormindo), resolvem, então, voltar ao saguão e contar para o Charles o desfecho da história, na portaria do Mineirinho, já que o baterista estava tão solidário com o drama delas. Do saguão, as meninas viram que Charles jantava, acompanhado de Britto, Tony e Branco. É óbvio que elas não teriam coragem de interrompê-los durante o jantar. Sentaram-se e decidiram aguardar. No hotel havia um luxuoso salão de festas onde estava rolando um baile de 15 anos e a cena mais inusitada da noite se deu quando algumas convidadas notaram a presença dos Titãs no restaurante e foram até eles tirar fotos, sem o menor receio de atrapalhar o momento sagrado da refeição.
Quando eles se preparavam para subir, Lili, Sá e Ferdi falaram com Charles e contaram o restante da história. Enquanto ele ouvia, fazendo cara de consternado — afinal, ele estava, de fato, consternado — aproveitaram para, enfim, tietar e tirar fotos com o baterista e com os outros três titãs que estavam por ali. Não poderiam sair daquele dia inesquecível sem nenhum registro. Não assistiram ao show, mas tinha história para contar.

“Não é pior do que parece ser” – Fazer o quê? (Titanomaquia – 1993)
Texto 11
Peça de joelhos,
pule o carnaval

Não era mais de 18h quando as irmãs Marianny e Samara desceram do ônibus em frente ao hotel Marina Park em Fortaleza/CE, no dia 11 de maio de 2002. Apesar de um pouco assustadas, elas nem se importaram de não verem ninguém por lá. Tinham sido as primeiras a chegar devido à ansiedade. Não havia sido fácil convencer a mãe a deixá-las ir para o show que comemorava o aniversário do Bloco Cerveja e Cia, onde tocariam Ivete Sangalo e Titãs. A negociação com a mãe tinha começado há quase um mês, quando souberam da notícia e estavam dispostas a fazerem de tudo para ir ao show da sua banda favorita. A preocupação da progenitora era até justificável. Ela não poderia levar as filhas – na época com 15 e 17 anos – ao local do show. Era possível apenas buscá-las, por causa do seu trabalho. Mesmo assim, depois de muito implorarem, as meninas convenceram a mãe a deixá-las irem de ônibus e sozinhas. Estavam conversando, animadamente, para esquecerem o nervosismo, enquanto esperavam por Juliana, uma amiga de Samara, que também iria ao show, mais por insistência da amiga do que por vontade própria. Pouco tempo depois, elas notaram que uma porta feita de tapume se abriu. De lá saiu Tony Bellotto. As duas ficaram em estado de choque, sem saber o que fazer, Samara só conseguiu falar: “Oi Tony!” O guitarrista, que estava saindo para sua corrida diária, se desculpou com as fãs. “Eu tenho que malhar agora. Na volta te dou um autógrafo”. As duas acompanharam o ídolo com os olhos até onde puderam. Ainda tentaram bater uma foto, mas a máquina deu os primeiros sinais que não iria funcionar naquela noite.
A fila já tinha aumentado significativamente, quando Tony voltou de sua corrida. As pessoas ficaram eufóricas demais e ele não parou para o tal autógrafo que tinha prometido. As meninas não ficaram tão chateadas. Entenderam a situação e estavam felizes por terem chegado tão perto do ídolo. Até se divertiram com o burburinho que se iniciou quando o guitarrista entrou no hotel. “Nossa, o cara dos Titãs!!”. “Mas, esse não é o marido daquela atriz, a Carolina Ferraz?”. “Não, é da Malu Mader!!”, respondeu a indignada Marianny, para depois cair na gargalhada junto com a irmã. Algum tempo depois, os portões foram abertos. Sam, Mary e Juliana ficaram bem na frente. Não queriam perder nenhum lance do show. O único problema era a sandália de salto alto que Ju usava. A moça, que estava bem mais interessada no show da cantora de axé do que do grupo de rock, temia que seus pés ficassem doendo no meio daquele empurra-empurra, mas, para não assistir ao show de longe e sozinha, ela optou em ficar com as amigas, mesmo que isso significasse um certo sacrifício.
Os Titãs, que estavam em turnê com o 13º álbum de sua carreira, fizeram um show completo, tanto com sucessos radiofônicos dos vinte anos de carreira, quanto com músicas novas. Mas para aquelas duas irmãs, o momento tinha um gosto a mais. Era o primeiro show que assistiam juntas. Elas prestavam atenção em cada detalhe e faziam comentários uma no ouvido da outra, ou apenas trocando olhares. Tudo era motivo para uma catarse da dupla, que cantavam todas as letras. Pediram a baqueta ao baterista Charles Gavin, mas só receberam uma toalha, que mesmo com muito esforço, não conseguiram pegar. Preferiram saírem da briga que se iniciava pela toalha bem ao lado delas. Frustrante também foi a tentativa de ganhar uma palheta do guitarrista. Mais uma vez, um objeto valioso passou entre os dedos delas. Ainda tiveram que acompanhar Juliana, pulando ao som do axé de Ivete Sangalo.
“O show foi ótimo, vimos tudo bem de perto! Foi bem rock’n’roll, só que o único problema foi a máquina, pois o filme não passava, ai que ódio! As fotos iriam ficar ótimas! E a gente ainda viu o Tony!!! Mas não conseguimos falar direito com ele. Também quase que a gente consegue pegar palhetas e uma tolha”, disparou a irmã mais velha, quase sem respirar, quando a mãe foi buscar as filhas e a amiga na frente do local do show. A mãe e a amiga tentaram consolá-las dizendo que haveria outras oportunidades, outros shows e tudo mais. Mas nem era preciso consolá-las, elas sabiam que haveria uma próxima vez.

“Peça de joelhos, pule o carnaval” – Brasileiro (Domingo – 1995)
Texto 10
Mas dizer a verdade
é melhor que mentir


Era um sábado. Liliane leu no jornal que, na semana seguinte, Tony Bellotto e sua esposa, Malu Mader, viriam a Belo Horizonte para a estréia do filme “Bellini e a Esfinge”. Assim que soube da novidade ligou para sua amiga Fernanda, que, obviamente, a encheu de perguntas. “Vai ser quando?”, “Dia 25 (de fevereiro, de 2002)”, “Onde?”, “No cinema do BH Shopping”, “E é só chegar e entrar?”, “Não! No dia da exibição temos que ir até uma livraria na Savassi e pegar os ingressos. É limitado, claro”, “E o Tony e a Malu vão estar no cinema?”, “Provavelmente. Bom, eu vou ligar lá na AB Produções e me informo de tudo. Depois te ligo”.
Alguns minutos depois, Lili retorna a ligação para Ferdi. “Você não sabe o que eu descobri!”, “O quê?”, “Antes da pré-estréia do filme, o Tony e a Malu participarão de uma coletiva de imprensa lá no (Hotel) Mercure”, “Ah, legal!”, “Legal não! Ótimo! A gente vai estar lá”, “Vamos?”, “Nós nunca participamos de uma coletiva. Não deixa de ser uma experiência profissional”, “Tudo bem, mas é uma coletiva para a imprensa, e nós não somos da imprensa”, “Mas nós estudamos jornalismo”, “Lili, a gente está na faculdade de jornalismo há uma semana!”, “Isso é um detalhe. É só ligar para lá e dizer que a gente vai fazer uma matéria para o jornal da faculdade. E nem vai ser mentira, é só nós fazermos a matéria e mostrarmos lá na faculdade depois”, “Será que vai dar certo?”.
Deu certo. Lili convenceu ao pessoal da produtora de que precisava estar naquela coletiva e teve seu nome e o de sua equipe – leia-se: Fernanda – cadastrados na lista da imprensa. As duas conseguiram também o aval de um de seus professores, que achou a idéia ótima e, de fato, se interessou pela produção da matéria.
No dia do evento, as meninas saíram da faculdade e foram direto para o Hotel Mercure. Só havia um “porém” naquela história toda, como participariam da coletiva não haveria tempo para retirar os ingressos para a estréia do filme, que aconteceria mais tarde. O jeito foi contar com a sorte, que parecia estar do lado delas.
Ao chegarem no salão onde aconteceria a entrevista, Fernanda e Lili trataram de se posicionar bem na frente da bancada onde estariam Tony e Malu. Empolgaram-se ao ver que o lugar nem era tão grande assim e que poderia fazer praticamente uma exclusiva com eles. Logo no início da entrevista, as meninas notaram que eram as “jornalistas” mais inteiradas do assunto, presentes no local, e orgulhavam-se disso. Apesar da ignorância de certos repórteres, tudo transcorreu bem, graças à simpatia de Tony e Malu, e do outro casal, também presente, Theodoro Fontes (diretor do filme) e Maristane Dresh (que interpretou Beatriz, no longa).
Com o fim da coletiva, Fernanda e Lili não conseguiram se conter e se revelaram fãs de Tony. Aproveitaram a ocasião para tirarem fotos com ele e com Malu. A atriz perguntou se as meninas iriam assistir ao filme naquela noite e elas explicaram que não sabiam, já que, por estarem ali, não tiveram como adquirir os ingressos. Muito solícita e incrivelmente simpática, Malu chamou um dos organizadores daquele evento e perguntou se Fernanda e Liliane poderiam entrar sem ingresso no cinema. É claro que ele não seria louco de negar um pedido de Malu Mader e liberou a entrada das garotas.
Algumas horas depois, lá estavam elas, sentadas na primeira fila, mais uma vez diante de Tony, Malu, Theodoro e Maristane, que respondiam às perguntas do público sobre o filme. Após este momento, eles se retiraram e “Bellini e a Esfinge”, começou a ser exibido.
Até ali estava tudo perfeito para a dupla, até o celular de Fernanda tocar. Vendo que era seu pai, ela não teve outra alternativa, e teve que atender. “Que foi, pai?”, “Fernanda, eu estou na porta do BH Shopping. Você não vai sair daí, não?”, “Pai, o filme começou agora”, “Então é melhor você deixar para ver outro dia. Se esqueceu que amanhã cedo você tem aula?”. Fernanda e Liliane confabularam um pouco e decidiram ir embora. Seria realmente mais prudente deixar para ver o filme no dia seguinte. Saíram da sala andando com cautela, por causa da escuridão, mas quase caíram ao tropeçarem nos pés de algumas pessoas que estavam sentadas no chão. Ainda bem que antes de xingarem aquelas pessoas perceberam que eram, ninguém menos, que Tony e Malu. “Ei, já estão indo embora?”, perguntou a atriz. As meninas quase morreram de vergonha, afinal só estavam ali por causa da boa vontade dela. Não vendo outra saída, Fernanda acabou dizendo a verdade: “É, meu pai veio buscar a gente”, “Ah, sim, mas voltem para ver o filme depois, hein?”.
Voltaram para casa comentando cada detalhe daquele dia tão interessante, apesar do mico aos 45 do segundo tempo.

“Mas dizer a verdade é melhor que mentir” – Insensível (Televisão – 1985)
Texto 9

O que eu queria,
o que eu sempre queria

Era fim de tarde de domingo, 9 de abril de 2000. Os Titãs se apresentavam, gratuitamente, tendo como cenário o pôr-do-sol do belo horizonte. O show acaba, a banda posiciona-se à frente do palco, como de costume, para agradecer ao público. Fernanda encara Charles Gavin fazendo-o notar sua presença e diz pausadamente e fazendo mímica: “Eu quero a sua toalha”. Charles dá alguns passos para frente e se abaixa para entregá-la o que ela queria. Assim que teve o presente do ídolo nas mãos, Fernanda foi surpreendida por uma louca, vinda de não se sabe onde, tentando tomar a toalha dela. Liliane, amiga de Fernanda, olha para o lado e não acredita no que vê. Sua amiga, normalmente tão pacífica, rolando no chão em meio a uma briga. Entre uma unhada e outra, foi óculos para um lado, máquinas fotográficas para outro. Uma cena patética. Lili, não mais que depressa, tira Fernanda da confusão e a faz olhar para o palco, onde ela vê Charles Gavin fazendo um sinal para cessar a briga. Descabelada, Fernanda acompanha o baterista com os olhos. Ele vai até o fundo do palco, busca outra toalha e a entrega para ela.
Em julho, daquele mesmo ano, durante uma outra apresentação da banda em sua cidade, Fernanda pede mais uma vez a toalha de Charles. Dessa vez é fácil, nenhuma maníaca aparece no seu caminho. Naquela noite, Fernanda decidiu que, sempre que possível, iria levar essa lembrança para casa.
Dessa vez a cidade é Divinópolis e o dia é 18 de agosto de 2002. Fernanda e Liliane estavam lá, acompanhadas da amiga paulista Zélia, para assistir a mais um show dos Titãs. As meninas se hospedaram no único hotel da cidade, que, não por um acaso, era o mesmo em que a banda ficaria. No meio da tarde, Ferdi e Lili resolveram sair para conhecer as redondezas do hotel. No saguão, encontraram-se com os Titãs que acabavam de chegar à cidade. Fernanda ficou surpresa com o fato de Charles se lembrar dela, do último encontro, que acontecera três meses antes. Ele perguntou o que as meninas estavam fazendo ali e elas responderam que foram para ver o show, como se essa não fosse a resposta mais previsível.
Hora do show. O trio já estava devidamente posicionado no gargarejo. Fernanda se espremia entre a amiga Zélia e um cara enorme, para cima e para os lados. Nem a posição pouco confortável a impediu de se esbaldar em mais uma apresentação da sua banda de coração. E quando o show acabou lá foi Fernanda com o já tradicional: “Eu quero a sua toalha”. Charles, por sua vez, entrega a tolha que estava em suas mãos para uma outra garota. Indignada, Fernanda observou ele ir até a bateria e pegar outra. Crente que dessa vez era pra ela, Fernanda se decepcionou ao vê-lo dar a toalha para o gigante que a esmagara o show inteiro.
As meninas voltaram para o hotel. No percurso, Zélia e Lili tiveram que agüentar as lamentações da amiga. “Que ódio, o que aquele gordo tem que eu não tenho? O Charles sabe que eu vim de BH só para ver o show, o que custava... Ainda bem que meu titã preferido é o Branco mesmo”, protestava Fernanda.
Ao chegarem, as três dão de cara com Charles, que estava no saguão. Zélia e Lili pararam para conversar com o baterista, enquanto Fernanda seguiu em direção ao elevador. No entanto, Charles a interrompeu e pediu para que ela ficasse por ali. Ele subiu e voltou alguns minutos depois trazendo uma de suas luvas, que ele sempre usava durante os shows. “Essas toalhas eu recebo na hora do show não são minhas. Vou te dar essa luva que me acompanhou durante muito tempo. É um souvenir mais interessante”. A fã ficou tão sem graça que nem soube agradecer direito. Guardou a luva para sempre, e nunca mais pediu toalha.


“O que eu queria, o que eu sempre queria” – Autonomia (Televisão – 1985)